terça-feira, janeiro 08, 2008

Olhares Celestes

Duas toupeiras viviam debaixo do meu quintal.
Sempre viveram de costas voltadas.
Uma debaixo das rosas, a outra do pinhal.
Era a sua cegueira o que as mantinha separadas.

Soprava, certo dia, um vento tão forte.
Que desnudou as roseiras e os pinheiros levantou no ar.
Mas o que de mais lhes tinha trazido era má sorte.
Estavam as toupeiras na horta sem mais nada o que cheirar.

Quis a crueldade do cúpido vê-las casadas.
Vénus foi convocada e chamou-as ao altar.

-Ó toupeira que de rosas te cobres,
Diz-me como te posso agradar?
-Ó Deusa do amor, se tanto me concedes,
Quero ver. Não me serve mais cheirar.

-Ó toupeira que a pinhas me cheiras,
Conta-me como te posso presentear.
-Ó ser alado, por amor assim o queiras.
Abre-me os olhos. A minha amada quero olhar.

Viram-se enfim as duas toupeiras.
Logo os espinhos e as agulhas começaram a picar.