sábado, dezembro 13, 2008

segunda-feira, dezembro 08, 2008

Pós materialistas

Vós fazeis viagens sem ter fito no destino
Nós vemos fotografias em revistas ou sofás
Pós de descobertas de lugares tão esquecidas após

Vós correis léguas em escadas rolantes
Nós trepamos colinas em escadas de pedra
Pós que sujam sapatos tão brilhantes já não após

Vós tendes três carros em garagem pessoal
Nós esperamos em filas para o passe mensal
Pós no pára-brisa que esperam sedentos após

Vós viveis cercados, filmando o que é fora
Nós amontoamo-nos em ruas que duram a hora
Pós tão presos que se desprendem das flores após

Vós morreis isolados da matéria fundamental
Nós mortos cansados de etérea ornamental
Pós materialistas somos todos, vós, nós, após

segunda-feira, novembro 24, 2008

Janelas

São janelas. Tantas, fechadas, abertas, cobertas.
São elas que marcam o ritmo.
Umas seguidas por outras, acima, abaixo, ao lado.
Transformam muros em casas. Dão luz ao interior do sossego.
São a espinha dorsal de uma vida que se esconde, vista de fora.
Abertas, transformam em gruta a morada tão vetusta.
A graça é a minha janela sobre a cidade.
Daqui, vejo o mundo reflectido nas janelas da História,
símbolos erguidos no passado, construídos com suor.
A cada monumento associamos gente, um homem que o sonhou.
Mandado erguer, fez-se.

Nos vossos parapeitos, fincaram cotovelos as testemunhas do passado.
Depois de vós, outros fincaram e nelas se debruçaram.
Namoraram. Esperaram. Choraram. De vós saltaram. Acordaram.
Janelas negras. As do Carmo. Finas as da Estrela e do Castelo. Janelas.
Largas as de seda. Verdes as da Rua. Pequenas nas águas furtadas.
No cimo das casas belas noites passadas.

Cliché de Lisboa. Escrever numa esplanada.
São eles que estão de passagem.
Levarão a memória de um pôr de Sol na Graça.

quarta-feira, novembro 05, 2008

Como escrever: biliões ou milhares de milhões?


1 000 000 000 000


Como escrever: biliões ou milhares de milhões?


A escrita dos grandes números obedece às regras aprovadas na 9ª Conferência Geral dos Pesos e Medidas (CGPM), em 1948. Estas regras foram adoptadas oficialmente em Portugal, pelas Portarias nºs 14 608 e 17 052, respectivamente de 11 de Novembro de 1953 e 4 de Março de 1959.
Assim, definiu-se que os milhões, biliões, etc. são formados de acordo com a regra “N”1:
Deste modo, tem-se:


1Nos EUA segue-se a regra “n-1”, originando sempre confusão na comunicação social, falado ou escrita, quando se refere “biliões” que na Europa são “milhares de milhões”

Sem o alto patrocínio do IPQ
Hallo!
(364) 365
O novo Presidente
352


segunda-feira, novembro 03, 2008

Silêncio

Acabou mais uma vez.
No final apenas um um longo silêncio.
Esta Rocha dura e fria em que me transformei apenas grita o mudo adeus.
Por sabê-la tão perto, temo falar demasiado.
A proximidade amordaçante não permite que diga em voz alta que acabou.
Está tudo redito.

Da caneta não pingam palavras como era costume.
O meu silêncio secou a pena de escriba.
Será uma simples recusa solidária ou falta de tinta?
Se de falta se trata, maior será o meu problema.
Onde vou agora encontrar, à venda, a tinta do amor?
Procuro pacificar a alma escrevendo. Não consigo.
-Silêncio!
-??!
-A vossa vida atribulada perturba o meu silêncio.

quarta-feira, setembro 24, 2008

sexta-feira, agosto 01, 2008

Eu-sô-rio.

Ó rio que corres por entre as pedras!

Foges da turbulência da tua nascente.

Jovem, com pressa em ser grande,


Não sabes que no fim da tua corrida,

Serás mar salgado, enorme, pesado e turbulento?


E que importa ao rio que, grande se desfaz,

Que se entrega de braços abertos ao oceano, em paz.


Terás memória suficiente para reconhecer

de que nascente és filho permanente?


És livre quando rio.

Corres desde fio

Até mar solto, profundo, frio.


Quantas vezes visitaste a nascente!

Diferente de ti sou, eu que embora quente,

Sou superfície sem espelho, tão indiferente.


Só corro, lento, parado por vezes.

Sem certeza de que mar será meu fim.


Diferente de ti, sendo eu água de ti,

Choro-te já turbulento, salgado, sem lamento.

Profunda tristeza nesta melancolia tranquilamente indiferente.


Eu, rio, sou mar e sou desalento.

Cada dia que se acaba eu aumento.

terça-feira, junho 10, 2008

Etnologia



Etnologia
Todos os anos, fazemos uma viajem pelo espaço. Literalmente. Damos a volta ao sol em 365 dias mais seis horas e mais qualquer coisa em minutos e segundos. Alguém se dá conta disso? Passamos os dias a tentar perceber a mais velha de todas as leis, a Lei da Sobrevivência, e esquece-mo-nos de que é a viagem em torno do Sol que nos mantém em movimento. A única verdadeira e Global viagem é aquela que fazemos todos os anos. Em torno do Sol, vamos girando como num carrocel de feira, ignorando o tempo e o espaço, as suas múltiplas dimensões, ora menor ora maior, ora mais perto ora mais longe, ignorando por completo as diferentes velocidades que o mundo contém. Temos uma imagem do nosso passado, individual ou colectivo, projectada num espaço, a Terra, num tempo, o da Cultura. Parece que nos esquecemos que a viagem vai mesmo terminar. Obedecemos mais facilmente a outros homens como nós do que às Leis Universais, a da Sobrevivência é uma delas. TALVEZ MESMO A ÚNICA QUE NOS MOVE, AFINAL.





A imagem que fazemos do futuro, ainda está presa pelos constrangimentos do nosso passado, sem entender o que se passa no presente. Viajamos às cegas, pensando que estamos parados.




quarta-feira, junho 04, 2008

Adamada

Adamada

.rasnep ervil od siaidnum soduef soa ecaf
oudívidni od oãçatrebil ad avitarran a odal
etse araP. No centro o indivíduo. Para este
lado a narrativa do mercado, capitalista,
aniquilador da liberdade de escolha,
conducente ao monopólio.

sexta-feira, abril 04, 2008

Longe...

Em estado de euforia,

Queria testar o desalento

Lembrei-me de recorrer à poesia

Como forma de fugir deste tormento


Longe do estado habitual, poderia?

Aproveito para espalhar ao vento,

Vozes infectadas com douta alegria

Deste lugar em que hoje me sento.


Toca o telefone, atende a velhinha.

Queria alguém mais novo, que fazer!?

Atende uma voz simpática, vizinha.


Posso pensar neste fado e cobri-lo de prazer

Ajuda a ganhar palha para levar a vidinha

Desta ou d'outra forma, estou longe do meu ser.

terça-feira, abril 01, 2008

Em construção II

Todo o mundo e o resto que é nada...

Em construção...

Ah! Poema da minha alma...

Não

Turvo.

Pesado.

Arrastado.

Pendurado pelos suspensórios no ponteiro das horas.

Ainda se fosse no dos segundos!

Nem alucinante viagem nem pausada alegria.

Avanço, por sentir alvescer o pêlo, sei-o.

Cruel tortura. - A hora que não passa!

- Já de nada serve lamentar o avanço, sei-o.

Não servirei para estudo de historiador,

seria uma tarefa monótona, vazia.

A carcaça a ninguém servirá.

Nem abutres em repasto a quererão.

Na marquesa também não me encontrarão.

Vivo sou um peso e depois disso um peso.

Não quero sair deste ano em que completo 35

sem me erguer mais uma vez.

sábado, março 29, 2008

INAUGURAÇÃO

Nós que aqui estamos
Esta praça inauguramos
Vós que cá não estais
Queira Deus que vos salvais

Em honra de Zeca cantamos
Nesta praça estranha dançamos
Os primeiros sempre fomos
Os melhores de vós somos

Neste dia consagrado
O nosso registo fica marcado
Inaugurada praça estás
Por esta gente capaz

INAUGURAÇÃO LUMINOSA

Sombra enfim aqui chegaste
Filha da LUZ que nos faz
Seja este o dia em que por fim
És inaugurada pelo Querubim

sexta-feira, março 07, 2008

O ser dentro de si

Surrealismo.
Perto do real.
Perto ou longe?
O perto que se afasta...
como quem foge,
de si. A sua imagem gasta
ouvi que morreu hoje
lê-lo mesmo sem percebê-lo. Vive. Basta.

26-11-06

Saiu. Não pretendia voltar mais.
A sua capacidade para viver tinha
excedido o limite aceitável.


O ser dentro de si existe.
Cérebro, frio.
Coração, vazio.
Músculos tesos
Ossos presos
A pele, solta, viçosa, é o tudo
que prende o ser dentro de si.
O que lhe dá forma é a memória
que de si tem.

terça-feira, janeiro 08, 2008

Olhares Celestes

Duas toupeiras viviam debaixo do meu quintal.
Sempre viveram de costas voltadas.
Uma debaixo das rosas, a outra do pinhal.
Era a sua cegueira o que as mantinha separadas.

Soprava, certo dia, um vento tão forte.
Que desnudou as roseiras e os pinheiros levantou no ar.
Mas o que de mais lhes tinha trazido era má sorte.
Estavam as toupeiras na horta sem mais nada o que cheirar.

Quis a crueldade do cúpido vê-las casadas.
Vénus foi convocada e chamou-as ao altar.

-Ó toupeira que de rosas te cobres,
Diz-me como te posso agradar?
-Ó Deusa do amor, se tanto me concedes,
Quero ver. Não me serve mais cheirar.

-Ó toupeira que a pinhas me cheiras,
Conta-me como te posso presentear.
-Ó ser alado, por amor assim o queiras.
Abre-me os olhos. A minha amada quero olhar.

Viram-se enfim as duas toupeiras.
Logo os espinhos e as agulhas começaram a picar.