sábado, outubro 06, 2012

"No Taxation Without Representation"


  • Cada vez mais me convenço de que há pessoas que não sabem interpretar o significado de "Fiscal" dito em Inglês. Confunde-se Orçamento com imposto.
     "Fiscal Austerity", significa controlo Orçamental e não tem nada a ver com Fisco, Impostos ou taxas. Claro que uma coisa está relacionada com a outra mas, em Inglês existe também o termo "Taxation", quando se pretende falar de impostos.
    Há aquela famosa frase: "no taxation without representation" que levou a uma revolução.
    Depois temos de recordar um senhor deputado que três legislaturas atrás, pedia um choque fiscal como terapia para a economia. Falava em revolução nas taxas de impostos, IRS, IRC, etc. Citava estudos em que o termo utilizado era "Fiscal Shock", significando alterações na composição do Orçamento, ou seja, uma modificação estrutural na forma de administrar o país.
    A sua cegueira ideológica, lembremo-nos que corriam os anos da cavalgada dos neo-liberais, pela Europa e EUA, que levou entre outras coisas à intervenção no Iraque, dias após a fotografia dos Açores que tanto nos deve envergonhar, como Povo, era igual à sua impreparação linguística.
    Era a época da desregulamentação da economia que levou ao Caos financeiro e económico começado em 2008.
    Parece que hoje, passados quase oito anos, alguém devia ensinar um pouco mais de Inglês, já para não dizer de Política, a alguns deputados que pretendem jogar na arena dos tubarões. É que quando se sai, por Badajóz, Vilar Formoso, Portela ou Sá Carneiro, da Lusitânia, deixa-se imediatamente de falar Português e adopta-se a Língua dos Tubarões.
    Constrangedor foi perceber que o futuro Primeiro Ministro de Portugal estava a ter aulas de Inglês, a poucos dias de tomar posse. Ao menos o outro fez o curso por correspondência e acabou a estudar em França. Ninguém lhe disse que deveria era estudar Alemão.
    Agora, não esquecer: Fiscal Shock means Investment and Public Policies that favor growth. Tax Policies means "get away from my money" or " Give me your money, now!

sexta-feira, outubro 05, 2012

quinta-feira, julho 19, 2012

Sim, há a Grécia... Mas e a Espanha?

Vamos, para argumentar, admitir que nós gregos somos perdulários, preguiçosos, corruptos, propensos ao défice, aproveitadores do árduo trabalho dos europeus. Mas o que dizer dos espanhóis?
  • Será que o governo espanhol não tinha um excedente orçamental antes de irromper a crise?
  • Era a dívida pública espanhola não inferior à da Alemanha antes de irromper a crise?
  • Não era a Espanha o único país que, bastante notavelmente, conseguiu encenar uns Jogos Olímpicos que (a) foram lucrativos e (b) deixaram atrás de si esplêndidas instalações e renovação urbana (ao contrário de dívidas e elefantes brancos)?
  • Será que a Espanha não desenvolveu firmas (como a Zara) que mostraram à Europa que é possível competir com o Extremo Oriente em sectores que o resto da Europa havia exportado (pelo menos em termos de emprego e trabalho intensivo)?
  • Não era a Espanha local de produção da indústria pesada alemã (ex.: o Seat da Volkswagen) que produzia saudáveis lucros alemães?
E ainda assim este mesmo país encontra-se no mesmo buraco negro em que a Grécia caiu dois anos atrás. Como pode isto ser possível se, como insiste a visão convencional, a crise deveu-se ao estilo de vida perdulário dos gregos?

Mesmo o olhar mais superficial ao que está a acontecer na Espanha de hoje convencerá o leitor de espírito aberto que há algo profundamente errado com a visão convencional de um núcleo "racional" – a visão que insiste em receitas económicas racionais, e na falha da periferia, a qual está a tentar esquivar-se às suas responsabilidades.

Desde o último Verão, as perdas dos bancos espanhóis (provocadas por ridículas apostas no imobiliário financiadas principalmente por bancos alemães) têm sido descarregadas sobre os ombros do Estado espanhol, o que resultou em que este último foi efectivamente excluído dos mercados monetários (graças a taxas de juro ultrapassando os 5%). Assim, para evitar declarar que a Espanha se juntou formalmente às fileiras da Grécia, da Irlanda e de Portugal como o quarto "soberano caído", os detentores do poder da Europa saíram-se com a seguinte ideia brilhante:

  1. O BCE passará a aceitar qualquer pedaço de papel que lhe seja apresentado por bancos da Espanha como "colateral" de empréstimos maciços concedidos à taxa de juro de 1%.
  2. Mas não importa quanto de empréstimos se dê ao insolvente, a insolvência não acaba – os bancos espanhóis estavam simplesmente a comprar tempo com isto. Por esta razão, a Europa considerou apropriado que o Estado espanhol devesse tomar emprestado mais dinheiro a taxas de juro entre os 4 e os 5 por cento (possivelmente junto ao EFSF, o fundo de salvamento da Europa) a fim de entregá-los aos bancos na forma de "recapitalização".
  3. Como o Estado espanhol, em consequência da nova contracção de empréstimo, é empurrado para a insolvência profunda, algo tinha de ser feito a fim de que pudesse refinanciar-se. Assim, foi isto que eles decidiram: Os mesmos bancos (insolventes) que recebem capital do Estado deveriam emprestar ao Estado (a juro de 6 por cento) parte dos empréstimos que estão a receber do BCE (a juro de 1 por cento).
Percebe, caro leitor, o que se está a passar ali? Os bancos que entraram em bancarrota devido à sua própria idiotice transferiram suas perdas para um Estado que estava, até então, a conseguir apresentar um excedente orçamental. Este Estado e os contribuintes são encerrados numa insolvência a longo prazo. Então estes mesmos bancos protegidos por empréstimos baratíssimos do BCE os quais emprestaram, parcialmente, ao Estado que levaram à bancarrota a enormes taxas de juro enquanto, ao mesmo tempo, dele arrecadam... capital. E a fim de permitir esta "solução" às dificuldades da Espanha, a Europa impôs a este país uma austeridade desbragada que mina o rendimento nacional a partir do qual o Estado deve arrecadar os impostos que reembolsarão todos estes empréstimos que foi forçado a suportar.

Assim, quando jornalistas do mundo todo, colegas economistas de climas nórdicos, políticos alemães e holandeses, etc, apontam o dedo ao eleitorado grego por ter feito a opção "errada" nas eleições, isto é, por se ter esquivado ao Grande Plano da Europa para ultrapassar a crise, respondo violentamente: admitirei tudo o que quiserem acerca dos meus compatriotas gregos na condição de que me dêem uma resposta plausível a uma pergunta simples: O que está a Europa a fazer à Espanha como parte deste Grande Plano?

Yanis Varoufakis

sexta-feira, julho 13, 2012

Soy minero


Soy minero

por 
Que en estos tiempos hipertecnologizados hayan tenido que ser los mineros los que enseñen el camino al resto de trabajadores, da que pensar. Que en la época de empresas flexibles, sociedad de la información, economía global, riqueza virtual y trabajadores desubicados y desideologizados, hayan tenido que ser los viejos mineros, con sus duras herramientas, sus manos callosas y su fuerte conciencia de colectivo, los que salgan a la luz y echen a andar para que los sigamos, debería hacernos pensar qué nos ha pasado a los trabajadores durante los últimos años, qué hemos hecho y dejado de hacer, qué nos han hecho y qué nos hemos dejado hacer
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http://www.eldiario.es/zonacritica/2012/07/11/soy-minero/

quinta-feira, julho 12, 2012

terça-feira, julho 10, 2012


Holy Späti

texto: Sandro Cândido Marques, fotografias: Lea Julie Mugnain 

Decorreu entre os dias 15 e 17 de Junho, em Neukölln, Berlim, a última edição do Festival de Artes e Culturas, 48 Stunden Neukölln. Sob o tema, Ultima Paragem: Neukölln, o Festival procurava levantar a questão de qual o impacto da imigração no bairro Berlinense de Rixdorf (Neukölln), ocorrida no longínquo ano de 1737. Terão as várias gerações de imigrantes, encontrado aí o seu paraíso?
As perceções são muito variadas e conducentes a diversas interpretações. Os fotógrafos Hugo Estrela e Lea Julie Mugnain realizaram uma exposição fotográfica com o nome Holy Späti, no Späti International, documentando como, para o proprietário de uma loja de conveniência, Dogan, Neukölln representa a sua Última Estação.

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Späti International

O lugar escolhido tinha sido a sala que serve a Dogan como arrecadação para as caixas de bebidas a vender. Mal dava para ver as paredes da sala, assim como andar por entre as caixas era difícil. Dois dias antes do início do evento, reuniram-se esforços e o espaço foi preparado, exigindo no entanto um trabalho de equipa e verdadeira solidariedade.
Tarefa cumprida e era então tempo para refrescar com uma cerveja. Ainda não tinham recuperado o fôlego e eis que chega ao Späti, “a casa”, um dos filhos de Dogan. Vinha de fato e gravata. Estava supercontente devido ao exame que tinha acabado de realizar, um exame de informática. Era pois motivo para festejar com Sekt. Abriu-se uma garrafa e um brinde ao seu sucesso foi feito. O dia-a-dia do Späti International é assim. Uma mistura entre a vida familiar, a vida do bairro e a dos clientes ocasionais, que entram e saem, em busca de uma bebida, um gelado, tabaco, etc..

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Inauguração

Um monte de gente na rua, à porta do Späti. Só isto era já muito diferente do Späti que tivera oportunidade de visitar durante o processo de montagem da exposição. De volta ao Späti, era já mais de meia-noite e a exposição tinha começado há cinco horas. Weserstrasse estava a fumegar com gente por tudo o que é Bar, Galeria, Café e quase todos esses sítios faziam parte da iniciativa 48 Horas de Neukölln. À porta do Späti estavam Hugo e Lea, entre visitantes, amigos e colegas, num ambiente de grande cumplicidade. Lá dentro as pessoas acotovelavam-se entre os frigoríficos e o balcão, à espera para pagar.

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Numa segunda divisão composta com mesas e cadeiras, a convidar para um momento mais relaxado, quatro ou cinco pessoas à conversa. À direita, a entrada para a sala onde 67 retratos de 40 por 50 centímetros, expostos nas três paredes, à esquerda, ao fundo e à direita, retratavam aqueles que se dispuseram a ser fotografados dentro de um Spätkauf. Novos e velhos, notívagos em busca de cerveja ou cigarros, clientes usuais em busca daquela compra urgente que salva o dia, detergente para a roupa, cola e snacks, mortalhas…
Dias após dia, nas semanas prévias ao fim de semana do evento, os dois fotógrafos passaram várias horas à espera do próximo cliente que se dispusesse a ser fotografado e a fazer parte de uma exposição. Na cabeça dos autores, a ideia era documentar as rotinas, as pessoas, o bairro em redor do Späti.

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Ultima Estação: Weserstrasse.

Durante a tarde, o lado Este da Weserstrasse é uma rua tranquila, com uma escola por perto, duas lojas e alguns bares que só acordam já ao fim do dia. É ainda o tempo para a vizinhança calmamente tomar uma bebida, calmamente disfrutar do silêncio, nas cadeiras e bancos oferecidos à rua pelo Späti de Dogan. A conveniência de uma loja onde um pouco de tudo se pode encontrar, ligada ao decorrer da vida familiar de Dogan, intimamente entrecortada pela permanente disponibilidade para atender quem entra ou quem permanece, é um contraste com o conceito de Späti. A pressa do consumo imediato por um lado e a lentidão das 24 horas de um Späti por outro.
“Dogan é muito popular. Tem um carácter muito forte. É uma pessoa especial, única.” Esta é a forma de Hugo descrever Dogan. Alguns minutos sentado à porta foram o bastante para verificar uma relação próxima da comunidade. O comentário acerca da nova bicicleta, dirigido a um cliente, o à-vontade com que mantém a espera para pagar, com mais uma brincadeira dirigida a outro cliente sentado à porta, na rua. O fim de estação nos dias de cada um pode bem ser o Späti da rua onde vivemos. A certeza de poder encontrar a última cerveja do dia, o tabaco para o resto da noite, a sobremesa, algo que ajude a acalmar os miúdos. Para todos, Dogan é uma fiável Endstation.
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Endstation?

O trabalho de Hugo e Lea foi muito bem recebido. Em conversa com os autores, nos últimos instantes da iniciativa que mexeu com Neuköln durante 48 horas, fico a saber que o trabalho foi convidado para ser mostrado num museu. A ideia parece ter interesse relevante para a comunidade. Assim sendo, o späti, pode afinal não ser a Endstation para este trabalho artístico, para esta ideia.
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Nas fotografias podemos ver as mais variadas reações ao fato de estarem a ser fotografados. Os muitos recetivos em pose pouco natural, os muito descontraídos e alegres com a vida, os reticentes. Os que aceitaram posar num canto forrado a azulejos brancos, ideal para as cores e luz. A disposição das fotografias na sala não obedece a critérios muito rígidos, apenas para alguns retratos, um equilíbrio face aos retratos ao lado de forma a conjugar cores, as das roupas e as das expressões. Entre elas, numa posição não destacada mas simplesmente entre elas, estava o retrato de Dogan, como todos os dias.

sexta-feira, junho 22, 2012


Jovens Europeus Residentes em Berlim: Classe criativa ou em busca de caridade?

texto e fotografias: Sandro Cândido Marques
Recentemente, têm sido publicadas várias notícias sobre um invulgar afluxo de jovens europeus dos países do Sul para Berlin. Ao que parece registaram-se “enormes aumentos” entre os jovens gregos, 200 nos primeiros seis meses de 2010, 300 no ano seguinte. Vamos ser sérios, estamos muito longe de poder considerar estes números anormais. A livre circulação de capitais e de mercadorias tem associada a livre circulação de pessoas e o direito a procurar trabalho em qualquer país membro da União Europeia, em igualdade de circunstâncias.

A mobilidade dentro da União Europeia passará, caso ainda não o seja de fato, a ser tão natural como é para um jovem alemão procurar trabalho onde existem oportunidades, podendo para isso deslocar-se da sua zona de conforto. A ser possível implementar uma desigualdade no acesso ao mercado de trabalho entre cidadãos da União Europeia, não me parece que vamos no bom caminho, nem no caminho dos Tratados. Apoios como o chamado Hartz IV podem fazer alguma diferença como ajuda no processo de integração no mercado de trabalho, dando tempo para aprender ou aperfeiçoar a língua. A partilha de responsabilidades terá sempre melhores resultados com uma efetiva partilha de direitos, entre eles votar. Mas alguém pensa em vir para a fria Berlim por causa de meia dúzia de trocados? Jovens ambiciosos, talentosos, qualificados devem ter com certeza maiores expectativas. Mas então por que razões vêm para Berlim e não para Colónia ou outras cidades com melhores oportunidades de emprego? 
Já sabíamos que Berlin era uma cidade verde, governada por um presidente vermelho, que ganhou fama por considerar Berlin uma cidade pobre mas sexy. Por isso mesmo, Berlim tem tudo a ver com os jovens do Sul europeu. É uma cidade à sua medida. Entre Berlim e Ibiza há um elemento comum de atração, que se chama música eletrónica. Para um português, ouvir a mensagem de homenagem ao recentemente falecido Eurodeputado Miguel Portas ser proferida por Martin Schulz, atual presidente do Parlamento Europeu, em Alemão, só pode aproximar mais os corações. Que os gregos tenham muitas ilhas paradisíacas não é culpa sua nem deve ser motivo de cobiça para nós, seus filhos e irmãos. Se somos todos europeus nos bons momentos, também o deveremos ser nos menos bons. Partilhamos um futuro que se espera juntos na nossa imensa diversidade, para o bem comum.

Jovens Europeus Residentes em Berlim.


Cristina é uma jovem cientista que trabalha na área de ciências da Conservação e Restauro. Trabalha num laboratório com ligação aos Museus de Berlim. Sendo Berlim uma das cidades com mais visitantes de Museus, uma das principais atrações turísticas da capital Alemã, há a necessidade de pessoas altamente qualificadas que suportem uma das redes de Museus mais dinâmicas da Europa. Cristina trabalha em Berlin desde há três anos. A sua vida profissional não foi sempre um mar de rosas. Dada a natureza contratual do seu tipo de função, contrato baseado em projeto, nem sempre a sua permanência na capital Alemã esteve garantida. Por diversas razões de ordem pessoal, a escolha de permanecer em Berlim foi uma decisão com algum risco em termos profissionais e logo pessoais. Há um dinamismo cultural muito intenso, a sociedade tem em geral um espírito muito aberto e o carácter multicultural da cidade permite a Cristina ser porta-voz de uma conhecida O.N.G. onde os membros se expressam em Inglês nas questões internas e onde o contacto com a sociedade obriga por vezes a falar cinco ou seis línguas em apenas meia hora.

Museu Pergamon, Pergamonmuseum
Museu Pergamon, Pergamonmuseum

Alexandre é um Informático altamente qualificado que desde há cinco anos reside em Berlim. Depois do Doutoramento encontrou um emprego numa star-up que desenvolve uma aplicação informática para o mercado financeiro. Constituiu família e vive num dos bairros mais atrativos para jovens famílias, dada a enorme oferta em infantários, zonas verdes e demais estruturas sociais que facilitam a vida moderna. Um dado curioso é serem, estas estruturas, um legado do socialismo que imperou em parte de Berlim até há cerca de vinte anos. Outrora um dos bairros mais degradados de Berlim Leste é, agora, um dos mais jovens e dinâmicos em termos culturais. Dada a oferta em abundância de espaços vazios, por as anteriores atividades aí desenvolvidas se terem tornado obsoletas, muitas empresas encontram assim lugar para partilhar um local de trabalho, o conceito de coworking. Também os espaços culturais abundam nesta área, mas não só, da cidade. Desde música experimental a galerias de arte, de espaços para performances a ateliers artísticos, são muitos os jovens que encontram um espaço onde podem dar azo à sua criatividade.

Antiga Fábrica de Pólvora
Antigo espaço fabril onde têm lugar atualmente eventos culturais.

Hugo é um recém-licenciado em Estudos Europeus que chegou a Berlim através do programa Erasmus. Mesmo antes de os efeitos colaterais da crise se fazerem sentir sobre Portugal ou mesmo a Grécia, já havia uma clara intensão de permanecer em Berlim para lá do período de estudos referente ao programa europeu de maior sucesso até à data. A experiência de um estudante Erasmus é muitas vezes distorcida pela bolha em que a comunidade Erasmus permanece fechada, criando em seu redor uma rede de amizades e de partilha de experiencias que permanecem por vários anos. Hugo já desenvolve atividade como fotógrafo há alguns anos e essa foi a porta para romper a bolha e encontrar o seu lugar na cidade. Em Berlim entrou em contacto com uma comunidade de fotógrafos amadores que transformaram um pequeno apartamento num laboratório de fotografia partilhado. Há também espaço para arquivos, interação entre os vários membros e pequenas exposições. Do grupo de fotógrafos amadores fazem parte pessoas de várias gerações e oriundos de vários pontos da cidade. De certa forma, Hugo veio trazer sangue novo, criando um novo dinamismo e novos sonhos para o futuro do grupo. A possibilidade de melhorar os seus conhecimentos técnicos e artísticos na área da fotografia chegou com a entrada para uma das escolas de fotografia mais conceituadas na atualidade. Segundo o próprio, está a concretizar um sonho. A sua nova etapa passa por participar no maior festival de artes de Berlim, as 48 Horas de Neukölln, 48 Stunden Neukölln, em alemão. Entretanto, completou um estágio de seis meses numa empresa alemã que ambiciona ser líder mundial na sua área. Parte da sua estratégia passa pelo Brasil e para tal recruta falantes de Português para desenvolver a sua webpage.

Starusberger Platz, Berlin
Strausberger Platz, Berlin.

Miguel é um jovem recém-licenciado em História, que atualmente ocupa o seu tempo entre as aulas de alemão e um trabalho como ajudante de cozinha num restaurante de Tapas e Petiscos de Berlim. Para Miguel, viver em Berlim permite-lhe perceber o que é viver numa das capitais europeias mais dinâmicas e jovens da Europa na atualidade. Em Berlim é-lhe fácil encontrar muitos outros espanhóis, o que ajuda na integração inicial na cidade. O companheiro de casa de Miguel, criou uma associação cultural que cria e divulga música experimental. Segundo Miguel, a aceitação em Sevilha, sua cidade natal, assim como noutras cidades menos cosmopolitas, para formas de expressão artística algo mais inovadoras é reduzido. Não propriamente por causa de crises circunstanciais mas sobretudo pela falta de dimensão apropriada para receber de forma sustentável as mais variadas e inovadoras tendências artísticas. Assim sendo, o lugar onde se cria torna-se fundamental para uma verdadeira receção crítica. Sem massa crítica corre-se o risco de não se passar do “bonzinho”.

A classe criativa.

Estes quatro exemplos de vidas têm em comum uma cidade, Berlim. No período de cinco anos a que estes relatos se referem, o mundo em nossa volta mudou de forma significativa e em certos aspetos não voltará a ser como o conhecíamos. Não há nenhuma fatalidade nesse fato já que os ciclos de repetição com que a história nos brinda são um tanto mais longos. Berlim pode ser vista como uma cidade criativa onde uma nova classe, a classe criativa, encontra o lugar certo para dar ao mundo o que de novo se lhe apresenta. A facilidade em estabelecer uma empresa, proporcionada pela disponibilidade de espaços oriundos de um processo de desindustrialização que tem tanto de recente como de tardia, aliada aos necessários incentivos políticos é uma das características da atual Berlim. Os setores da economia com maior dinamismo são exatamente os que estão ligados às novas tecnologias de informação e comunicação, que dependem, por sua vez, de pessoas altamente especializadas e qualificadas. O setor artístico e cultural representa no seu todo cerca de 20% do PIB europeu e como tal, Berlim não pode ficar para trás como centro de criação e apresentação da nova classe, a classe criativa.

domingo, junho 17, 2012


Como uma mentira repetida à exaustão é usada de forma a amedrontar o povo. Diz-se que a Grécia pode sair do Euro se o Syriza ganhar as eleições de hoje. Mas ninguém diz que isso não é possível simplesmente porque nunca esteve previsto em nenhum tratado. Não há forma de sair nem de forma voluntária nem obrigado. Simplesmente porque não está escrito em nenhum artigo dos tratados. Apenas é possível a um país pedir a saida da União Europeia. Quem não percebe a diferença não percebe nada do mundo em que vivemos. Mas o medo é uma arma muito forte.
 ·  · há cerca de uma hora · 

sexta-feira, abril 20, 2012

ocupar

Sandro Cândido Marques

há 18 horas perto de Berlim

ocupar - Conjugar

v. tr.
1. Tomar posse de.
2. Estar na posse de.
3. Preencher, encher, estar.
4. Instalar-se em.
5. Morar, habitar.
6. Exercer, desempenhar.
7. Dar ocupação a.
8. Embaraçar, estorvar.
9. Ser objecto de.
10. Pejar.
v. intr.
11. Tornar-se grávida.
v. pron.

12. Empregar-se.13. Dedicar-se.14. Entreter-se.

15. Tratar (assunto).

domingo, outubro 09, 2011

O Sol em Portugal


O Sol em Portugal.


por Sandro Cândido Marques a Sexta-feira, 20 de Maio de 2011 às 13:31

A imagem exterior de Portugal é ainda a de um país pobre, de gente que não quer trabalhar, gosta de vinho e barriga ao Sol. Mesmo a canção "A Luta é Alegria", foi vista como um exemplo da miséria nacional. No Facebook circulava uma causa a apelar ao voto nos HdL como forma de apoiar a pobreza. O sarcasmo europeu é imune a ideais de revoluções baseadas em cantigas. O que conta é o pedido de ajuda externa e isso é visto como o sinal do nosso atraso e da nossa miséria histórica.

A verdade é que somos o mesmo país pobre que sempre fomos. As gentes e a cultura são a nossa única riqueza. O capital humano e social só pode ser valorizado se continuarmos a apostar em políticas que o valorizem, e quebrem de vez com a espiral de empobrecimento a que estivemos condenados até 1974.

A gastronomia, as praias, os tesouros naturais, fazem de nós um dos povos que maiores índices de felicidade apresentam. Podemos ser pobres mas aquilo de que dispomos oferece-nos ainda assim uma excelente qualidade de vida. A aposta no Turismo como fonte de receitas mostra que o nosso tesouro só assim é exportável. Na verdade a imagem que constato haver de Portugal é a um sítio junto a Espanha, que não compete com as delícias mediterrânicas da Grécia, Turquia ou Chipre, e em todo o caso a de um país pobre e pouco atractivo. Claro que há quem saiba mais do que isso, mas não são a maioria.

Quanto ao resto, só com uma boa base educacional podemos vencer noutros sectores que competem a nível global, como de resto vai acontecendo em pequenos nichos. Os dois maiores grupos económicos liderados por portugueses, SONAE e AMORIM, não se baseiam em grandes apostas na investigação. Baseiam-se sim na única aposta que era interessante para eles, a mão-de-obra barata. A indústria conserveira que ainda resta foi deslocalizada para o norte de África, o resto foi afundado, desertificado e abandonado por não ser mais competitivo. Quando em 1986 aderimos à C.E.E. a nossa vantagem competitiva era a mão-de-obra barata, devido ao atraso na formação, herdado do passado. Termos vivido 48 anos em Ditadura, quando todo o mundo se desenvolvia e dava saltos qualitativos deixou-nos muito para trás. A única vantagem de que dispúnhamos para competir num mercado aberto e livre, o espaço económico europeu, esfumou-se quando países como China, Índia, Bangladesh, Indonésia, entre outros entraram na competição. Basta ir ver as etiquetas da roupa e sapatos que usamos e percebemos que as, ainda, marcas europeias, deslocalizaram as suas produções para outros competidores. A vantagem deles: mão-de-obra barata.

Se passamos a última década com crescimentos anémicos, como poderíamos responder à crise actual? A promessa de Sócrates em 2005 de criar 150 mil novos empregos, foi vista com aceitação, porque estávamos a sair da dupla crise que se abateu sobre nós e da qual nunca saímos. Tinha-se esgotado o nosso modelo de desenvolvimento, miseravelmente baseado no preço da mão-de-obra, em Portugal. A taxa de desemprego rondava na altura das eleições os 7%. Este facto explica a aceitação pelos portugueses de uma proposta de criação de 150 mil novos postos de trabalho. Vimos depois que a turva proposta não era mais que demagogia. Como se um Governo pudesse, por decreto, criar emprego. Poder até pode mas será sustentável? Já a aposta nas Novas Oportunidades, na qualificação dos portugueses, no investimento em investigação e tecnologia aplicada às empresas, esse indicador mostra uma alteração no paradigma do desenvolvimento. Foi uma boa aposta, já deu frutos, é uma tarefa de todos e a meu ver a chave para termos um futuro mais risonho. O resto, os défices estruturais e conjunturais, isso é coisa de menor importância, quando é o futuro de um povo que está em causa.

Porque os atrasos foram reconhecidos, Portugal sempre fez parte do grupo dos países da coesão. Os fundos de coesão pretendiam responder a essa chaga, o nosso atraso estrutural. Qual foi a aposta? Destruição da Agricultura e Pescas, construção de auto-estradas para melhor ligar, não o país mas, os mercados e a aposta num único sector industrial, o cluster automóvel, como forma de baixar os custos de transporte e assim integrar os mercados numa perspectiva Regional, à escala europeia. Ainda a crise de 2001 e os anos que lhe seguiram fez com que as liberalizações a nível global aumentassem e as deslocalizações nesse nicho se expandissem primeiro a Oriente e mais tarde, em 2004, ao Leste europeu. Ficou a Autoeuropa e pouco mais. Vamos ver até quando. Os benefícios fiscais e a rede de infra-estruturas criada de propósito para a suportar ainda a vão aguentando como um activo do Grupo VW.

Desenvolveram-se grupos de investigação dedicados a esse sector. Conseguirão eles inovar e criar algo de raiz? Carros menos poluentes pelo recurso a energias de fontes renováveis? Haverá capacidade financeira para investir nesse sector? A cortiça e os Colombos são ainda a jóia, nas coroas que os nossos reis ostentam.

O país do Sol não consegue fazer uma aposta séria e democrática na energia solar? Através da instalação de painéis solares em todas as casas, tal como entendemos o saneamento básico, electricidade, telefone e demais infra-estruturas, como sendo uma obrigação do estado? A possibilidade de em cada casa haver uma fonte de energia com capacidade de alimentar a rede energética tem de ficar apenas nas mãos dos mais afortunados? Será isso sustentável ou justo? Alguém hoje aceitaria que lhe dissessem: água canalizada em casa não porque é caro e os senhores são pobres? E tornar-nos independentes do exterior em termos energéticos, para consumo doméstico, não é um bom desafio? E baixar a factura da electricidade ou até mesmo transformá-la numa fonte de receita para cada família, é assim tão utópico? A produção em massa faz baixar os preços de produção, isso é básico. Os custos ambientais, se confrontados com os proveitos, aposto que são, assim, reduzidos e por isso uma boa aposta. Para mais, o conhecimento actual já é suficiente para reciclar e reutilizar tudo o que existe já que tudo isso foi produzido pelo homem e sobre o mesmo objecto tem um pleno conhecimento. Mais uma vez, os custos baixam com a generalização das práticas.

O mundo não pode suportar que os pobres sejam excluídos da possibilidade de ter energia solar. O desafio é global. Podemos começar em nossa casa.

segunda-feira, agosto 22, 2011

Estudantes

João entra no café com um passo apressado. Pela forma demorada com que olha para os poucos clientes presentes, parece procurar alguém. Afinal chegara antes da hora marcada. Tem assim tempo para procurar a mesa que mais lhe parece apropriada para o encontro.

Numa mesa junto à parede, está um homem com para lá de meia-idade. Sozinho com o seu copo de três e o maço em cima da mesa, fuma outro cigarro para não dar pelo tempo que não passa. O jornal, dobrado, já foi lido. Não encontrou nada que lhe dissesse respeito. Eram sempre as notícias do costume. Mais uma visita de sua eminência o Cardeal à Província, mais uma vitória do Benfica. Não tem pois, João, nada com que se preocupar. Dali não vem perigo. E porque haveria de vir?

Senta-se na mesa junto à janela. Aquela que lhe parece mais resguardada dos restantes clientes. Levanta a cabeça na direcção do empregado e aguarda que este lhe dirija o olhar. Debaixo do braço, João trazia um embrulho que colocou sobre o colo assim que se sentou.
– O que vai tomar? – Diz o empregado entretanto chegado à sua beira.
– Espero por companhia. Se não se importa peço depois. – Passando a mão pela garganta diz apressadamente – Mas olhe, traga-me então um de três que mato já, esta secura.
O empregado volta para detrás do balcão e sacode os ombros como que a dizer – Esta juventude nunca sabe o que quer!

Joana chega ao café, no seu plácido passo olha pela vitrina e localiza logo o João. Olha por cima do ombro para certificar-se de que ainda vem sozinha e dirige-se à mesa. Suavemente coloca a mão no ombro direito do João e senta-se à sua frente.
– Que susto! – Diz o rapaz de olhos arregalados. Suspira e sorri-lhe.
– Desculpa o atraso, fiquei a estudar e perdi as horas.
– Chegaste bem a tempo. O que tomas?
Nisto, chega o empregado com o copo de três na bandeja, apoiada no antebraço e com o tradicional pano dobrado suspenso no pulso.
– Aqui tem. Vão desejar mais alguma coisa? A menina? – Olhando para o empregado, responde apenas – O mesmo.
– Então e a aula? Valeu a pena?
– Sabes como são as coisas, uma chatice. Mas no intervalo falei com uma colega que nos pode ser muito útil. – E de que forma – responde o João pondo a cabeça meio de lado e a franzir o sobrolho. – Ela é filha de papás ricaços e a família tem uma casa ali para os lados de Paço d’Arcos. Convidou-me para ir passar o fim-de-semana e disse para levar quem quisesse. Podíamos ir com o Fonseca e com o Zé Pires e tratávamos de tudo. Que achas?
– Não sei, e o resto da família? Não vai ser fácil esconder…
– Não tens com que te preocupar, tirando os caseiros não vai lá estar mais ninguém, para além de nós e de dois outros amigos da Filomena.
– Sendo assim até pode ser bom mesmo. Temos que acabar depressa com isto. Já estou farto de “Democracia” até aos olhos.
O empregado chega mais uma vez junto dos jovens com outro copo de três e com o mesmo ar folgado de antes e coloca o copo em frente de Joana.
Então, a que brindamos? – Diz Joana
– Olha, brindemos à Liberdade!
Erguem os copos olhando-se mutuamente. Levam os copos à boca.
Não passaram do primeiro gole. Enquanto o empregado trazia o pedido, dois homens tinham entrado. Sentaram-se na mesa entre o fumador despreocupado e o empregado. Ao ouvirem o brinde dos jovens, saltaram de uma só vez e, abrindo o casaco com uma mão e retirando as pistolas com a outra, gritaram – Quietos! Somos da Polícia e os jovens vão connosco. Vão-nos acompanhar à “António Maria Cardoso”. Nada de gritaria e ninguém se vai magoar.
João ainda esboçou o movimento para se levantar mas a mão pesada de um dos agentes, no seu ombro direito, convenceu-o. Aquele impulso de resistência, fê-lo esquecer-se do embrulho que com estrondo caiu no chão. Do embrulho apareceram algumas folhas dactilografadas. Numa delas lia-se “Programa Para a Democratização da República”. Trabalho final de curso.

Anónimo

segunda-feira, agosto 15, 2011

Stop Coddling the Super-Rich By WARREN E. BUFFETT


Para memoria futura.


Stop Coddling the Super-Rich

Omaha

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OUR leaders have asked for “shared sacrifice.” But when they did the asking, they spared me. I checked with my mega-rich friends to learn what pain they were expecting. They, too, were left untouched.
While the poor and middle class fight for us in Afghanistan, and while most Americans struggle to make ends meet, we mega-rich continue to get our extraordinary tax breaks. Some of us are investment managers who earn billions from our daily labors but are allowed to classify our income as “carried interest,” thereby getting a bargain 15 percent tax rate. Others own stock index futures for 10 minutes and have 60 percent of their gain taxed at 15 percent, as if they’d been long-term investors.
These and other blessings are showered upon us by legislators in Washington who feel compelled to protect us, much as if we were spotted owls or some other endangered species. It’s nice to have friends in high places.
Last year my federal tax bill — the income tax I paid, as well as payroll taxes paid by me and on my behalf — was $6,938,744. That sounds like a lot of money. But what I paid was only 17.4 percent of my taxable income — and that’s actually a lower percentage than was paid by any of the other 20 people in our office. Their tax burdens ranged from 33 percent to 41 percent and averaged 36 percent.
If you make money with money, as some of my super-rich friends do, your percentage may be a bit lower than mine. But if you earn money from a job, your percentage will surely exceed mine — most likely by a lot.
To understand why, you need to examine the sources of government revenue. Last year about 80 percent of these revenues came from personal income taxes and payroll taxes. The mega-rich pay income taxes at a rate of 15 percent on most of their earnings but pay practically nothing in payroll taxes. It’s a different story for the middle class: typically, they fall into the 15 percent and 25 percent income tax brackets, and then are hit with heavy payroll taxes to boot.
Back in the 1980s and 1990s, tax rates for the rich were far higher, and my percentage rate was in the middle of the pack. According to a theory I sometimes hear, I should have thrown a fit and refused to invest because of the elevated tax rates on capital gains and dividends.
I didn’t refuse, nor did others. I have worked with investors for 60 years and I have yet to see anyone — not even when capital gains rates were 39.9 percent in 1976-77 — shy away from a sensible investment because of the tax rate on the potential gain. People invest to make money, and potential taxes have never scared them off. And to those who argue that higher rates hurt job creation, I would note that a net of nearly 40 million jobs were added between 1980 and 2000. You know what’s happened since then: lower tax rates and far lower job creation.
Since 1992, the I.R.S. has compiled data from the returns of the 400 Americans reporting the largest income. In 1992, the top 400 had aggregate taxable income of $16.9 billion and paid federal taxes of 29.2 percent on that sum. In 2008, the aggregate income of the highest 400 had soared to $90.9 billion — a staggering $227.4 million on average — but the rate paid had fallen to 21.5 percent.
The taxes I refer to here include only federal income tax, but you can be sure that any payroll tax for the 400 was inconsequential compared to income. In fact, 88 of the 400 in 2008 reported no wages at all, though every one of them reported capital gains. Some of my brethren may shun work but they all like to invest. (I can relate to that.)
I know well many of the mega-rich and, by and large, they are very decent people. They love America and appreciate the opportunity this country has given them. Many have joined the Giving Pledge, promising to give most of their wealth to philanthropy. Most wouldn’t mind being told to pay more in taxes as well, particularly when so many of their fellow citizens are truly suffering.
Twelve members of Congress will soon take on the crucial job of rearranging our country’s finances. They’ve been instructed to devise a plan that reduces the 10-year deficit by at least $1.5 trillion. It’s vital, however, that they achieve far more than that. Americans are rapidly losing faith in the ability of Congress to deal with our country’s fiscal problems. Only action that is immediate, real and very substantial will prevent that doubt from morphing into hopelessness. That feeling can create its own reality.
Job one for the 12 is to pare down some future promises that even a rich America can’t fulfill. Big money must be saved here. The 12 should then turn to the issue of revenues. I would leave rates for 99.7 percent of taxpayers unchanged and continue the current 2-percentage-point reduction in the employee contribution to the payroll tax. This cut helps the poor and the middle class, who need every break they can get.
But for those making more than $1 million — there were 236,883 such households in 2009 — I would raise rates immediately on taxable income in excess of $1 million, including, of course, dividends and capital gains. And for those who make $10 million or more — there were 8,274 in 2009 — I would suggest an additional increase in rate.
My friends and I have been coddled long enough by a billionaire-friendly Congress. It’s time for our government to get serious about shared sacrifice.
Warren E. Buffett is the chairman and chief executive of Berkshire Hathaway.