Cada vez mais me convenço de que há pessoas que não sabem interpretar o significado de "Fiscal" dito em Inglês. Confunde-se Orçamento com imposto. "Fiscal Austerity", significa controlo Orçamental e não tem nada a ver com Fisco, Impostos ou taxas. Claro que uma coisa está relacionada com a outra mas, em Inglês existe também o termo "Taxation", quando se pretende falar de impostos. Há aquela famosa frase: "no taxation without representation" que levou a uma revolução. Depois temos que recordar um senhor deputado que três legislaturas atrás, pedia um choque fiscal como terapia para a economia. Falava em revolução nas taxas de impostos, IRS, IRC, etc. Citava estudos em que o termo utilizado era "Fiscal Shock", significando alterações na composição do Orçamento, ou seja, uma modificação estrutural na forma de administrar o país. A sua cegueira ideológica, lembre-se que corriam os anos da cavalgada dos neo-liberais, pela Europa e EUA, que levou entre outras coisas à intervenção no Iraque, dias após a fotografia dos Açores que tanto nos deve envergonhar, como Povo. Era a época da desregulamentação da economia que levou ao Caos financeiro e económico começado em 2008. Parece que hoje, passados quase oito anos, alguém devia ensinar um pouco mais de Inglês, já para não dizer de Política, a alguns deputados que pretendem jogar na arena dos tubarões. É que quando se sai, por Badajoz, Vilar Formoso, Portela ou Sá Carneiro, da Lusitânia, deixa-se imediatamente de falar Português e adopta-se a Língua dos Tubarões. Agora, não esquecer: Fiscal Shock means Investment and Public Policies that favor growth. Tax Policies means "get away from my money" or " Give me your money, now!
A nossa sorte é que o medo acaba a seguir à fronteira da austeridade. A terapia de choque deu-nos uma palavra anestesiante. Crise. A crise acaba quando deixarmos de ter medo! Medo de quê? Da vida?
Anatomia do medo
Visitando o Congresso Internacional do Medo, de Carlos Drummond de Andrade, poderia estar tudo dito: “provisoriamente não cantaremos o amor, que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos, cantaremos o medo, que esteriliza os abraços”. O medo, amigo próximo da resignação. Resignação, amiga irmã da crise em que o país foi afundado. Seria assim o começo de um texto sobre o fim de 2011. Poderíamos mesmo avançar mais nuns versos do poeta – “cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas, cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte, depois morreremos de medo e sobre os nossos túmulos nascerão flores amarelas medrosas”.
O medo dos cortes, o medo das ameaças, o medo da chantagem, o medo de nos levarem muito para lá dos anéis, o medo do amanhã, o medo da falta de pão, o medo de não ter futuro. O medo.
Veio 2012. Mais cortes, mas ameaças, mais chantagem, mais de tudo. Mas não veio mais resignação. Aqueles que aceitavam a chuva, o desemprego e a injustiça, porque sozinhos, viram que a rua era enorme, muito maior do que esperavam. E houve retrocessos, se os houve. Voltou a ser crime distribuir panfletos. Diz-se que é pouco patriótico não aceitar o destino do empobrecimento, mal-agradecidos. O primeiro ministro confessa que 2012 foi o pior ano desde 1974, mas volta a mostrar uma inabalável confiança nos progressos de 2013. Cá estaremos.
O ano que está agora a terminar foi mesmo difícil. Isso partilhamos. A dúvida é sobre quem vai ter a palavra final no ano que está agora mesmo à porta. 2012 mostrou que a resignação não tem de ser o nosso destino. Mostrou que o que se julga fatal não vem de sempre e não tem de durar para sempre. Esse foi o dado mais imprevisível. Houve centenas, houve milhares, houve um milhão. Houve ruas enormes. Não é fácil encontrar boas notícias em 2012. Um ano de um governo e, para as nossas vidas, quase que rimava com eternidade. Mas aprendemos todos/as que a resignação não dura para sempre. O medo acabou? Não, não acabou. O medo nestas circunstâncias é legítimo. Mas este ano mostrou-nos que há mais mundo para além do medo. E essa é a promessa de 2013.