No início era o
desconforto pela dureza da cama. A cama era apenas chão frio, sujo, duro.
Depois de vencida a dificuldade em abrir os olhos, dada a imensa claridade da
manhã, do dia, olhei sobre o ombro, rodei a cabeça percorrendo o horizonte em
redor e só então percebi que não estava em casa. Tantas vezes a cama é dura,
mesmo em casa. Em frente e junto ao horizonte, percebi ainda que se erguiam
algumas casas, prédios de habitação, melhor dito. Algumas árvores em volta das
casas, mas nada que reconhecesse ou que pudesse ajudar a descobrir onde tinha
posto a cama. Por fim, levantei-me.
No lado oposto ao das
casas, deparei-me então com uma estrada. Era uma estrada muito larga, vazia,
comprida de perder de vista e a direito. Percorrendo com os olhos esta linha de
prumo, percebi então que, ao fundo, outras casas e edifícios se erguiam.
Ficavam distanciados, estes edifícios e estas casas, ainda por um bom bocado de
horizonte.
O normal perante uma
estrada é pormo-nos ao caminho. Assim fiz. Após andar alguns metros, comecei a
ter alucinações. Julgava estar a ver um avião. Em terra. Um avião? No meio
deste descampado?
Pousado no cimo de uma
pequena colina, descansava o avião. Pelo ar que apresentava e pela cor corroída
da fuselagem, aparentava estar ali faz longo tempo. Só quando subi ao seu
pedestal é que me apercebi que no descampado também havia um grande edifício.
Formando uma espécie de anfiteatro, o edifício fazia ainda lembrar uma asa
aberta que, assim, abraçava toda a área por onde se estendiam as várias estradas.
Do alto da pequena colina consegui perceber que eram vários os caminhos
asfaltados. Claro! Um aeroporto!
Por uma entrada à direita
do edifício, chegava alguém com um enorme saco às costas. Do seu interior foi
retirando um longo pano e várias cordas, que foi desenrolando com cuidado.
No meu melhor alemão
perguntei-lhe o que o trazia num dia tão gelado a este lugar.
“Snowkiten. Este espaço é ideal para a sua prática, apesar dos ventos contrários, ou por isso mesmo”.
No passado, aterravam e
levantavam muitos aviões. Hoje, os aviões que restam estão em terra e as únicas
asas que voam são as dos Kites e as dos pássaros. Manhã fora, foram aparecendo
grupos de pessoas para um muito corajoso jogging e famílias de bicicleta.
Após o fecho por decisão popular, em 2009, o
antigo aeroporto de Tempelhof transformou-se no Tempelhofer Feld. Num dos vários
painéis informativos espalhados pelo parque pode ler-se ainda que agora os voos
estão restritos às aves.
Aquele que já foi a mãe de todos os aeroportos, é hoje o
maior parque aberto ao público em Berlin e provavelmente na Europa. Assim há-de
permanecer até que os Berlinenses o desejem como tal.
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