Poemisando

Poemas de quem está pensando






QUARTA-FEIRA, AGOSTO 03, 2011


Verão

Um dia verão.
Não só de Sol se faz a estação.
Num dia parece, no outro já não.

Não espero pelo calor para pouco ou nada vestir.
Na minha mente é Verão.
Porque como em tudo,
Há sempre dias que parecem Inverno.


Um dia verão.
Não só de Sol se faz a estação.
Num dia parece, no outro já não.


Neste ano, chegou escuro como uma noite qualquer.
Frio, triste, choroso.
Pode a estação dar-se a estados de espírito? E porque não!
Talvez as grinaldas que puxam o astro se tenham perdido na noite, em Berlim.


Um dia verão.
Não só de Sol se faz a estação.
Num dia parece, no outro já não.


Nem Sol, nem praia, nem corpos queimados.
Nada disto altera a minha sorte.
Aquece-me o peito algo mais forte.
Assim, tenho mais noite para sonhar contigo.


Um dia verão.
Não só de Sol se faz a estação.
Num dia parece, no outro já não.

SEXTA-FEIRA, OUTUBRO 02, 2009


Caminho

Abro uma porta.
Não vejo nada.
Encontro-me numa sala,
sem tecto.

De cima entra uma luz tão limpa e clara,
branca,
como o branco das ondas a desfazerem-se na areia.

Não se vê nada.
Sinto o crepitar do fogo preso nas velas,
que iluminam o chão,
delimitando o caminho a percorrer.

Razões para...




Para beber, o Sol.
Para sair de mim, um horizonte.
Para sentir, sofrer.

Para pensar, absorver o mundo.
Para chorar, a ausência pela morte.
Para recordar, a infância.

Para escrever, o vazio.
Para escrever, a vida.

Para sorrir, o belo.

Para rir, os amigos.


SEXTA-FEIRA, JULHO 31, 2009


FADO LOUCO

FADO LOUCO


Fadista Louco




A ideia de existir
Um Fadista Louco
Que não 0 melhor
Nos poemas cantados
No Fado,

Ou melhor
A ideia,
De ser eu,
O "Fadista Louco",

Será a razão
Para aprender
A cantar, a cantar
O Fado,

Ou melhor,
A ser eu
Fadista, Fadista
Louco.

FADISTA LOUCO


Alberto Janes

Eu canto com os olhos bem fechados
Que o maestro dos meus fados
É quem lhes dá o condão
E assim não olho pra outros lados
Que canto de olhos fechados
Pra olhar pra o coração.


Meu coração que é fadista de outras eras
Que sonha viver quimeras
Em loucura desabrida
Meu coração, se canto, quase me mata
Pois por cada vez que bata
Rouba um pouco a minha vida

Ele e eu, cá vamos sofrendo os dois
Talvez um dia, depois dele parar pouco a pouco
Talvez alguém se lembre ainda de nós
E sinta na minha voz o que sentiu este louco.
"FADISTA LOUCO" retirado de: http://meiamaquinameiamulher.blogspot.com/, sem pedido.

Desacordo semântico?

ponho um ponto
canto um canto
pranto um pranto
começo no começo
sossego no sossego
parece e pareço
estudo o estudo
falo a fala
caminho o caminho
gosto do gosto
testo o texto

vejo-o o tejo


Fantasia

os poemas de amor são patéticos.
em parte por serem sempre verdade.
o amor é universal.
se disser que a minha nuvem se aclara quando penso no teu amor.
não é nada de original.
não é fácil sê-lo.
no amor nada é novo e nem é preciso inventar.
preciso é só amar. amar. ser verdadeiro.
não ter medo de nada.
gostar de dentro para fora. gostar por inteiro.
gostar tanto.
gostar até ter frio só de em ti pensar.
sobe o sangue ao coração e aí permanece.
deixa de dar calor à minha mão que a pensar em ti escreve.
pensar que de novo te posso sonhar é remédio para a maior crise.
se no fim for apenas fantasia, que seja a de um conto de amor.

Entre a dor e o nada

Dói-me.
O pé dói-me tanto!
É naquele sítio do calcanhar já a subir para a perna.
Quando o pé acaba.
Dói-me o fim do pé e o fim da perna.
Dói-me o pé.
Dói-me a perna.
Dói-me tanto!
Parece que apenas tenho o fim do pé e o fim da perna.
Nem sinto mais corpo.
Já me dói tudo.
Tanto!
Não tivesse esta dor no fim do pé.
Não tivesse esta dor no fim da perna.
Não tinha mais corpo.
Não tinha nada.
Vivo ligado a um fim de pé e um fim de perna que me doem.
Não me doesse nada e nada era.
Era apenas aquele fim de fronteira.

Era a dor.

-Era tudo?
-Sim, era.

A perna agarrada a mim faz-me doer.
O pé que ali começa anda a doer-me.
A dor que ali trago prolonga-me.
Do pé para a perna vamos andando.


QUARTA-FEIRA, JANEIRO 07, 2009

adn

Há noites que é tudo o que eu queria.
perdido no fundo do meu exílio.
sinto dor é um martírio
como quando não sabia o que fazia.

Ai! Era a alma que me doía
Tornaste-te para nós num sírio
onde encontramos o único sitio
que pelos dias anónimos nos seguia.

Os amigos ou a música nos chamam
Isto não é para os que não amam

De olhos abertos

Eu transcendo. Nada transcende. Os conceitos
não me deixam transcender. Liberto-me
pela transcendência. Pela transcendência
sou o poder. Criador de novos significados
respigados pela imaginação, quando
liberto dos poderosos grilhões olimpicos.
A minha transcendência é intransmissivel.
Sempre que vejo a lua, porque se interpõe
entre mim e o infinito, petrifico.
Transcendo. Quando acompanhados
apreciamos o nascer do dia, cada um
transcende individualmente. tu transcendes.
Eu transcendo. Nós transcendemos.
Nada no mundo transcende fora de nós.
A transcendência é aquela experiencia
de sair para fora de nós. Eu gostava de
transcender pelas palavras, pairar no intervalo
entre dois impulsos eléctricos cerebrais e
assim como que sentir-lhes o fluxo e
dominar as suas linhas de força e frear
ou acelerar a corrente. Depois temos que
regressar a nós, a casa. Eu transcendo a
ideia de um espelho de água calmo e
sereno quando mergulho e abro os olhos
debaixo de água. Mas de olhos abertos
transcendo.

Monotonia

Tenho uma página rasgada.

Será apenas neste livro?

Dia após dia encontro novas páginas que quero rasgar. De novo encontro páginas em branco que me fazem querer escrever. Quero escrever nas suas almas. É isso acima de tudo o que me dá prazer. Nem as loucuras que se arrastam, nem o cansaço do dia nem mais nada. Só ler e isto, escrever nas almas de pessoas singulares, estimulantes e por vezes fugazes.

Na tentativa de encontrar a alma inerente a cada página.

De forma a quebrar a monotonia, sentida por uma página, cheia de linhas por preencher, continuo a escrever.

Agora, devido ao medo que sinto dos dias monótonos e insignificantes começo a ganhar a coragem para sair deste lugar sem lugar para mim.
Preciso de reunir as condições urgentemente. Ainda acredito na minha ideia.

Sem terceira via


"Desejo contém futuro. É por isso uma boa palavra.
A fragilidade das relações humanas torna as pessoas mais sóbrias."

David Grossman

Acrescento eu, amargas.

A coragem de se colocar no papel do nosso adversário e aí analisar a versão contraria à nossa, dá-nos a verdadeira e completa realidade.

A nossa e a outra.

Tenho frio

Há um lugar dentro de mim que tarda em ser preenchido.
Num passado não muito distante, três anos, a presença na mesma cidade de uma pessoa muito especial, afastava de mim a sensação de estar perdido, num imenso espaço de pessoas desconhecidas.

Embora não tivesse um contacto muito frequente com Sofia, a sua presença em Lisboa dava-me a sensação de ter um abrigo no seu ombro e enchia a cidade agora vazia.

Sofia partiu para um país distante. Começou uma vida nova noutro país.

Eram completamente alucinantes os nossos encontros. Havia sempre a certeza de bons momentos, a possibilidade do inesperado se concretizar, a beleza de uma conversa inteligente, o deslumbramento com a sua enorme alma.

Por diversas vezes, foi também possível viver a cidade. Jantares, concertos, idas ao Teatro, entre outros momentos, davam-me a sensação de estar no sítio certo na fase certa da minha vida.

A sua partida foi um grande abalo. Disse-lhe no noite da nossa despedida: Fizeste com que a cidade parecesse mais pequena, mais acolhedora, menos fria.
Tenho a certeza de que apesar de ires para o país do frio, serei eu a tremer.
Entre nós há uma sucessão de voltas que, ora nos separam, ora nos aproximam.


QUARTA-FEIRA, JANEIRO 07, 2009

Sobre a morte


A morte não tem pressa. Há cidades em que se vive

a correr, sempre cheio de pressa. Quase não se

dá pela morte. E no entanto, morre-se

em cada dia que passa e de repente, sem

nos apercebermos, morremos.


Lisboa é uma dessas cidades. Raramente

nos apercebemos da morte sempre

presente.

"antes a morte que tal sorte"

haverá uma resposta satisfatória para a ilusão?

existe um problema perigosissimo em basear uma relação numa ilusão

um dia ela pode acabar

arrastando dessa forma muitas das certezas que assim descobres não serem afinal mais do que ilusões

sonhas, constróis ilusões, prossegues num caminho e de repente esse caminho acaba.

funde-se num mar de ilusões e entras em queda livre por te faltar um chão por onde avançar.

assim, de repente.

ainda mais rápido do que o tempo necessário para construir uma ilusão.

claro que o amor é uma ilusão

não serve portanto para ser a base de uma relação

no entanto acho-me incapaz de fazer um investimento de tipo especulativo em relação a alguém.

quando as acções têm margem de progressão compras e assim que encontras outro investimento

que consideras mais rentável vendes tudo e refazes a tua aposta

nem se trata de retirar mais valias

se sobe, apostas.

''Fragmentos diários''

Há um determinado objecto que pertence ao guarda-fatos.

Cá em casa esse objecto pertence ao guarda-fato.

Fato usado, gasto pelo tempo.


SEGUNDA-FEIRA, DEZEMBRO 08, 2008

Pós materialistas


Vós fazeis viagens sem ter fito no destino
Nós vemos fotografias em revistas ou sofás
Pós de descobertas de lugares tão esquecidas após

Vós correis léguas em escadas rolantes
Nós trepamos colinas em escadas de pedra
Pós que sujam sapatos tão brilhantes já não após

Vós tendes três carros em garagem pessoal
Nós esperamos em filas para o passe mensal
Pós no pára-brisa que esperam sedentos após

Vós viveis cercados, filmando o que é fora
Nós amontoamo-nos em ruas que duram a hora
Pós tão presos que se desprendem das flores após

Vós morreis isolados da matéria fundamental
Nós mortos cansados de etérea ornamental
Pós materialistas somos todos, vós, nós, após

SEGUNDA-FEIRA, NOVEMBRO 03, 2008

Silêncio


Acabou mais uma vez.
No final apenas um um longo silêncio.
Esta Rocha dura e fria em que me transformei apenas grita o mudo adeus.
Por sabê-la tão perto, temo falar demasiado.
A proximidade amordaçante não permite que diga em voz alta que acabou.
Está tudo redito.

Da caneta não pingam palavras como era costume.
O meu silêncio secou a pena de escriba.
Será uma simples recusa solidária ou falta de tinta?
Se de falta se trata, maior será o meu problema.
Onde vou agora encontrar, à venda, a tinta do amor?
Procuro pacificar a alma escrevendo. Não consigo.
-Silêncio!
-??!
-A vossa vida atribulada perturba o meu silêncio.

SEXTA-FEIRA, AGOSTO 01, 2008

Eu-sô-rio.


Ó rio que corres por entre as pedras!
Foges da turbulência da tua nascente.
Jovem, com pressa em ser grande,

Não sabes que no fim da tua corrida,
Serás mar salgado, enorme, pesado e turbulento?

E que importa ao rio que, grande se desfaz,
Que se entrega de braços abertos ao oceano, em paz.

Terás memória suficiente para reconhecer
de que nascente és filho permanente?

És livre quando rio.
Corres desde fio
Até mar solto, profundo, frio.

Quantas vezes visitaste a nascente!
Diferente de ti sou, eu que embora quente,
Sou superfície sem espelho, tão indiferente.

Só corro, lento, parado por vezes.
Sem certeza de que mar será meu fim.

Diferente de ti, sendo eu água de ti,
Choro-te já turbulento, salgado, sem lamento.
Profunda tristeza nesta melancolia tranquilamente indiferente.

Eu, rio, sou mar e sou desalento.
Cada dia que se acaba eu aumento.

SEXTA-FEIRA, ABRIL 04, 2008

Longe...


Em estado de euforia,

Queria testar o desalento

Lembrei-me de recorrer à poesia

Como forma de fugir deste tormento


Longe do estado habitual, poderia?

Aproveito para espalhar ao vento,

Vozes infectadas com douta alegria

Deste lugar em que hoje me sento.


Toca o telefone, atende a velhinha.

Queria alguém mais novo, que fazer!?

Atende uma voz simpática, vizinha.


Posso pensar neste fado e cobri-lo de prazer

Ajuda a ganhar palha para levar a vidinha

Desta ou d'outra forma, estou longe do meu ser.

Não


Turvo. Pesado.Arrastado.Pendurado

pelos suspensórios no ponteiro dos horas.

Ainda se fosse no dos segundos! Nem

alucinante viagem nem pausada alegria.

Avanço, por sentir alvescer o pêlo, sei-o.

Cruel turtura. - A hora que não passa!

- Já de nada serve lamentar o avanço,

sei-o. Não servirei para estudo de historiador,

seria uma tarefa monótona, vazia.

A carcaça a ninguém servirá. Nem abutres

em repasto a quererão. Na marquesa também não

me encontarão. Vivo sou um peso

e depois disso um peso. Não quero sair

deste ano em que completo 35 sem

me erguer mais uma vez.

SEXTA-FEIRA, MARÇO 07, 2008

O ser dentro de si


Surrealismo.
Perto do real.
Perto ou longe?
O perto que se afasta...
como quem foge,
de si. A sua imagem gasta
ouvi que morreu hoje
lê-lo mesmo sem percebê-lo. Vive. Basta.

26-11-06

Saiu. Não pretendia voltar mais.
A sua capacidade para viver tinha
excedido o limite aceitável.


O ser dentro de si existe.
Cérebro, frio.
Coração, vazio.
Músculos tesos
Ossos presos
A pele, solta, viçosa, é o tudo
que prende o ser dentro de si.
O que lhe dá forma é a memória
que de si tem.

TERÇA-FEIRA, JANEIRO 08, 2008

Olhares Celestes


Duas toupeiras viviam debaixo do meu quintal.
Sempre viveram de costas voltadas.
Uma debaixo das rosas, a outra do pinhal.
Era a sua cegueira o que as mantinha separadas.

Soprava, certo dia, um vento tão forte.
Que desnudou as roseiras e os pinheiros levantou no ar.
Mas o que de mais lhes tinha trazido era má sorte.
Estavam as toupeiras na horta sem mais nada o que cheirar.

Quis a crueldade do cúpido vê-las casadas.
Vénus foi convocada e chamou-as ao altar.

-Ó toupeira que de rosas te cobres,
Diz-me como te posso agradar?
-Ó Deusa do amor, se tanto me concedes,
Quero ver. Não me serve mais cheirar.

-Ó toupeira que a pinhas me cheiras,
Conta-me como te posso presentear.
-Ó ser alado, por amor assim o queiras.
Abre-me os olhos. A minha amada quero olhar.

Viram-se enfim as duas toupeiras.
Logo os espinhos e as agulhas começaram a picar.

TERÇA-FEIRA, NOVEMBRO 13, 2007

Imortalidade


Negra. Fria. Sempre. Simplesmente densa.
Monotonia descentrada. Claramente imensa.
Pacífica. Potencial integro. Quimicalidade
primordial. Naturalmente não-viva.
Toda a robustez caracterizadora desta velha
rocha imortal, desaparecerá um dia no
momento em que o último golpe do
vento marítimo, agreste a varrer definitiva-
mente como a poeira momentânea.

SEXTA-FEIRA, SETEMBRO 14, 2007

Possibilidade Imaginada


Noite escura. Rio dormente. Negro.
A ausência da luz que te revela
Traz-me a possibilidade
De te imaginar. Aí. Firme, presente.
Correndo discretamente, ora para cima,
ora para baixo. Não o revelas. Apenas
sei que aí estás. A minha luta
por esquecer que a morte está presente
de dia e de noite obriga-me a
tomar por certo a tua existência.
Assim como os fantasmas existem
na possibilidade imaginada.

Corro. Salto as barreiras. Vivo e morro
em cada dia. A meta não é
um objectivo. A experiência de cada dia
basta-me.

Escuro total. Silhuetas perfeitas.
A noite torna-se a manifestação do
mundo sem sombras. Sentimos
essa falta e achamo-nos
abandonados.

Há uma hora em que somos avisados.
- Repara como eu sou livre.
- E por breves instantes ela desaparece
sob os nossos pés. Na maior parte
dos dias estamos desatentos ou
ocupados demais para ouvir o aviso
é chegado o momento do crepúsculo.

- Tornas-te enorme, fina, poderosa.
Mais do que nunca a sua presença
transmite-nos aquele sinal de
segurança. Como um anjo da guarda.
De repente some-se. Para onde irá?
Para leste. Esse oriente saudoso.
Origem da nostalgia que nos
embala e nos espreme a alma.

A sombra escura é aquilo que define
o dia. A noite é apenas a sua
ausência.

Setúbal é um presépio. Apenas
há lugar para um São José, uma
Maria, duas ovelhas, um burro, uma
vaca, três reis Magos, etc..
Todos os lugares estão tomados.
Não necessariamente pelos melhores
representantes.

DOMINGO, MAIO 06, 2007

Solidão


Solidão é acreditar num sol que só a mim pertence.
Mesmo que não retire o sol a ninguém.
É não querer acordar, para não não te ver também.
Por não ter com quem festejar, preferir quem nunca vence.

É servir à noite para jantar, dois pratos, dois copos, vazios.
Para não ter a quem perguntar se viu o que mais ninguém viu.
Usar barba por não se lembrar, do beijo num rosto macio.
É ser pepita de sal numa lágrima, chorada na nascente dos rios.

Não casar, não ter filhos, ser velho aos quarenta,
Não amar nunca mais para não sentir o coração.
Assim querer continuar, pelo menos até aos noventa.

Percorrer mundo com semente na palma da mão,
Em busca da terra que melhor a alimenta.
Para poder viver mais tempo em solidão.

SÁBADO, FEVEREIRO 10, 2007

Página # 32


Mais um dia chuvoso. Mais um ano.
E no intervalo que se estabeleceu entretanto
Tanto mudou. Mudou o calendário,
Mudei eu. Um ano de Mudas e danças.
Dancei de tanto estar parado.No coração.
Ou não. Mudaram os usos, mantiveram-se
os costumes. De tarde e de noite descemos
vezes sem conta a uma praça no fim da
cidade. Tinhamos a certeza de lá
encontrar um recanto acolhedor.
Por vezes era tão só para afogar a 
sêca dor. Por vezes era mesmo em busca
de Amor.

QUINTA-FEIRA, MAIO 06, 2004

LEITO DE MENTE


" Como é perpétua a embriaguez com que alegro a mente!"

SÁBADO, MAIO 01, 2004

Silêncio

Filmes, imagens, cheiros da tua ausência,
Inundam-me o espírito de solidão.
Levam-me o sono, a fome e a paz.
Induz tanto frio o teu silêncio.
Poderei ouvir-te uma expressão,
Amiga, sincera, estulta, tanto faz?

DOMINGO, ABRIL 11, 2004

SEM CERTEZA


zero absoluto.inércia suprema.
perpétuo sentimento de vazio.
apesar de a vida proseguir e se adensar
de implantes, o sentimento é de imobilidade.

no momento do primeiro passo, terei força para tal fardo?
não estou por certo mais forte, nem por fora.




o primeiro passo foi dado.

fui forte.

MANIF


Defender palavras sem bandeiras
simbólicas teses frias e nuas
verdades cruas.

RETÁLHOS


os melhores momentos passei-os a lêr. continuam a ser aqueles que passo em viagem, nos autocarros. são principalmente mais uma razão para não andar de carro. preciso das mãos livres, do pensamento livre para se prender com aquilo que é importante. escrever. preciso de outra metamorfose o processo é difícil.
próxima área de serviço, palmela. a sinceridade passa por dizer não. a sinceridade acima de tudo. tanto para escrever, tanto para ler e no entanto...sem retiro, sem solidão não sai nada. a vida de kafka passou-se numa enorme solidão. a qualquer preço. não para ele. o preço foi sobretudo suportado por outros. é claro que também o sentiu. a diferença reside no facto de ter apesar de tudo, chegado a mim. posso sem dúvida dizer que a quantificação dos sentimentos pode ser uma realidade. no futuro tudo pode ser realidade. dizer o contrário é pior. melhor será nada dizer. ficará apenas registado na minha memória até que o permita. no papel ficará até que ele seja sujeito. a sinceridade é mais fácil posta no papel.

SONETO DE NATAL


mais bocage não sou
agora que me encontrei
resolvem-se as desgraças
partem os corações

estou mais perto que pensava
estou tão certo do que não sei
que estou certo que perto
de alguém sempre estarei

por agora estou sozinho
mas com kafka estou,
oiço a música, bebo chá.

mais tarde daqui vou
por agora estou sozinho
mais bocage não sou.

FOSSO


vidas provisórias lidas nas colunas
ecrâns, ondas e esplanadas.
tísico futuro o nosso
tristes exemplos de democracia
contados em cifrões
mau tempo e depressões
espero poder um dia
inundar o espírito com o fosso
sabendo que as ferrugentas espadas
serviram para repor sonhos sem sepulturas

O QUE FOI


almas doridas a minha e a tua
estendem poemas imanando flogisto
antes ouvidos em leito de fôgo
agora se estinguem por bálsamos perdidos.

Tanto...Nada

Tanto para dizer e no entanto...nada!?
Tanto para fazer e por enquanto...nada!?
Nada para ler mas entretanto...tanto!?

De tudo o que há por dizer, do quanto por fazer e entre as sílabas por ler,
Nada que eu diga ou faça será no,
por,
ou entre,
Tanto.

SEGUNDA-FEIRA, MARÇO 22, 2004

UM VELHO


parecia pousar no perfíl
mesmo na beira do sinal
com os olhos vazios
cheio de fome.cheio de nada.

era um só
sábio traste sem vaidade parece que apenas queria
companhia para verter voláteis vozes vazias.


pouco sabereis do nada que sabia
não deixou gosto amargo
tão pouco trama guardada
quem sabe se um dia
ao percorrer zéfiro no largo
descubra o vazio deixado.

ESPERANÇA INGÉNUA


fúria cresce desespera intestinal solidão guardada floresce poderia perpetuar esperança ingénua volátil desejo altruísta



rumos por aqui começo
desnorte por aqui avanço
palavras frias
sentidos certos
poderemos sem certeza continuar por este caminho que nos leva até ao último fôlego trajando corpos sôfregos desiguais.
corpos fartos da sua utilidade.
manta que aquece a alma
sem referências ao divino
continua a servir de retábulo para memórias que teimam em não te deixar
processo ferido de morte
derrama o teu interior
nas correntes que com o tempo te levarão para o mais que certo lugar
cremado e não esquecido
poderias pelo menos agora deixar as feridas sarar.
verdade sem oposto
coisa difícil de encontrar
se desse poço eu bebesse
o coração rebatesse
tudo tomaria o devido lugar.
foi duvidoso este comêço
pior será não o tomar.
tal é a vontade de saber
nem sem por onde começar.

REFÚGIO


refúgio: Zona livre de barreiras no horizonte.
Aqui a contemplação está ao dispor e dispõe,
nada de elos de corrente, nós ou âncora.
Apenas um imenso horizonte .
O mar que nos liberta.


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