sábado, fevereiro 07, 2009

Esperanças concretas em sistemas que se mudam por dentro?

Desde o tempo das tragédias gregas que a transmissão de ideias é feita enquanto se entretém. Há algo de sublime nesta verdadeira estratégia de contágio. Sentem-nos. Que se faça escuro. Deixemo-los confortáveis e disponíveis. Agora, como quem embala uma criança, vão-se contando as novidades e abrindo as mentes. Processo antigo e a que hoje se chama cultura. Poderoso e perigoso nas mãos erradas. Podemos encontrar sociedades pujantes onde se valoriza a cultura. Podemos nas outras? Afinal o Renascimento só nos trouxe os mestres antigos e calados por instituições de divulgação cultural mais seguras nas trevas da ignorância.

Talvez o conhecimento do que significa a mudança ajudasse para compreender ao que se alude quando de mudança se fala. Aliás era bom saber que a mudança já aconteceu. Como seria possível a eleição de alguém sem o apoio de um partido e sobretudo sem a legal ajuda de financiamentos interessados nas suas causas particulares, que minam a saúde das democracias? Neste caso parece que se deve à esperança.

Para quem vota e sobretudo para quem vota num improvável vencedor é mesmo, a esperança, a única coisa que se pode ter numa democracia. Discutem-se ideias sendo estas opostas por vezes, parecidas noutras, sendo sempre igual o objectivo. O debate que interessa, é o das ideias. A medida do acomodamento ao sistema em vigor vê-se bem pela falta destas.

O caminho das ideias é muito comprido. Para uma boa parte a carga tornou-se demasiado pesada tendo lançado fora o lastro do conhecimento. Também há quem diga que nestes tempos confusos o mais sensato será mesmo repetir as ideias afirmadas no passado, para evitar enganos de trajectória. Goste-se ou não da ideia de democracia, quem nos garante que ela está para ficar? Quantas constituições foram postas na gaveta para dar lugar à escuridão da arbitrariedade e ao abismo da guerra? É sensato defender o menos mau dos sistemas.

É possível melhorar todo e qualquer sistema pelo simples facto de ser uma construção humana. A selecção natural fê-lo por nós.

Se não for pelo sentido de responsabilidade, a que ninguém está obrigado, pode ser pelo desejo de viver, pelo instinto de sobrevivência. A história pode-se prestar às mais variadas leituras mas saibamos que o passado pesa tanto mais quanto mais fundo se escava. Tenho uma forte e cândida esperança em que a consciência do passado não se tenha apagado nesta geração que cresceu com os diversos saneamentos da história. Posso questionar uma leitura mas isso nunca apagará o passado.

O nosso tempo é caracterizado pela falta de memória aos mais diversos níveis. Alguns de nós têm acesso a um mundo de informação, ilusoriamente imaginado como eternamente ao alcance de um clique. Já não vamos a bibliotecas, já não memorizamos nada. Se ainda temos essa capacidade porque não a usamos? Ainda nos arriscamos a ficar conhecidos como a época do esquecimento.

Há oito anos vivia-se a crise da bolha especulativa Nasdaquiana. O financiamento das TIC, muito em voga à data, permitiu o rápido crescimento de empresas baseadas em conhecimento. O rebentar dessa bolha de especulação aliado à entrada da China nos mercados globais (de forma mais alargada), veio por a nu as fragilidades de algumas economias. O que erra é sempre a política. A economia não existe para tornar a vida difícil a uns quantos de nós, ela existe porque a vida nunca foi fácil. Gerir a escassez? Claro. As opções não referendadas, ou pior, não anunciadas, deixou alguns desprotegidos e pouco preparados para perceber o que está a acontecer. Queixarmo-nos de políticos é fácil mas, a propósito, qual é a queixa concreta que tem a apontar? Qual foi a decisão que teria impedido? Difícil de apontar por certo.
Ouvi em tempos a tese de só terem ocorrido duas verdadeiras revoluções com implicações na vida social, a passagem para a idade do cobre, e a revolução industrial. De comum percebe-se o cariz tecnológico associado à mudança. Escrever, ler, ouvir, são coisas que podemos fazer há muito tempo, usando agora computadores e a rede.

Se um mundo novo surgir desta crise, talvez seja pelo potencial de utilização de outras fontes de energia, que permitem e podem transformar a sociedade. Não tenhamos dúvidas de que essa escolha será feita pelos que elegermos. Será todo um mundo novo mas não ainda o que Ridley Scott projecta para 2019. As possibilidades de progresso não nos levarão, para já, a habitar outros planetas mas a “reforma infalível” de alguns usos, pode estar mais próxima.

sexta-feira, fevereiro 06, 2009

sábado, janeiro 31, 2009

The Great Illusion

The Great Illusion

By PAUL KRUGMAN
Published: August 14, 2008

So far, the international economic consequences of the war in the Caucasus have been fairly minor, despite Georgia’s role as a major corridor for oil shipments. But as I was reading the latest bad news, I found myself wondering whether this war is an omen — a sign that the second great age of globalization may share the fate of the first.

If you’re wondering what I’m talking about, here’s what you need to know: our grandfathers lived in a world of largely self-sufficient, inward-looking national economies — but our great-great grandfathers lived, as we do, in a world of large-scale international trade and investment, a world destroyed by nationalism.

Writing in 1919, the great British economist John Maynard Keynes described the world economy as it was on the eve of World War I. “The inhabitant of London could order by telephone, sipping his morning tea in bed, the various products of the whole earth ... he could at the same moment and by the same means adventure his wealth in the natural resources and new enterprises of any quarter of the world.”

And Keynes’s Londoner “regarded this state of affairs as normal, certain, and permanent, except in the direction of further improvement ... The projects and politics of militarism and imperialism, of racial and cultural rivalries, of monopolies, restrictions, and exclusion ... appeared to exercise almost no influence at all on the ordinary course of social and economic life, the internationalization of which was nearly complete in practice.”

But then came three decades of war, revolution, political instability, depression and more war. By the end of World War II, the world was fragmented economically as well as politically. And it took a couple of generations to put it back together.
So, can things fall apart again? Yes, they can.

Consider how things have played out in the current food crisis. For years we were told that self-sufficiency was an outmoded concept, and that it was safe to rely on world markets for food supplies. But when the prices of wheat, rice and corn soared, Keynes’s “projects and politics” of “restrictions and exclusion” made a comeback: many governments rushed to protect domestic consumers by banning or limiting exports, leaving food-importing countries in dire straits.

And now comes “militarism and imperialism.” By itself, as I said, the war in Georgia isn’t that big a deal economically. But it does mark the end of the Pax Americana — the era in which the United States more or less maintained a monopoly on the use of military force. And that raises some real questions about the future of globalization.

Most obviously, Europe’s dependence on Russian energy, especially natural gas, now looks very dangerous — more dangerous, arguably, than its dependence on Middle Eastern oil. After all, Russia has already used gas as a weapon: in 2006, it cut off supplies to Ukraine amid a dispute over prices.

And if Russia is willing and able to use force to assert control over its self-declared sphere of influence, won’t others do the same? Just think about the global economic disruption that would follow if China — which is about to surpass the United States as the world’s largest manufacturing nation — were to forcibly assert its claim to Taiwan.

Some analysts tell us not to worry: global economic integration itself protects us against war, they argue, because successful trading economies won’t risk their prosperity by engaging in military adventurism. But this, too, raises unpleasant historical memories.
Shortly before World War I another British author, Norman Angell, published a famous book titled “The Great Illusion,” in which he argued that war had become obsolete, that in the modern industrial era even military victors lose far more than they gain. He was right — but wars kept happening anyway.

So are the foundations of the second global economy any more solid than those of the first? In some ways, yes. For example, war among the nations of Western Europe really does seem inconceivable now, not so much because of economic ties as because of shared democratic values.
Much of the world, however, including nations that play a key role in the global economy, doesn’t share those values. Most of us have proceeded on the belief that, at least as far as economics goes, this doesn’t matter — that we can count on world trade continuing to flow freely simply because it’s so profitable. But that’s not a safe assumption. Angell was right to describe the belief that conquest pays as a great illusion. But the belief that economic rationality always prevents war is an equally great illusion. And today’s high degree of global economic interdependence, which can be sustained only if all major governments act sensibly, is more fragile than we imagine.

sexta-feira, janeiro 30, 2009

Boletim Meteorológico

diz que está tanto frio que os três graus parecem menos um!

Desacordo semântico?

ponho um ponto
canto um canto
pranto um pranto
começo no começo
sossego no sossego
parece e pareço
estudo o estudo
falo a fala
caminho o caminho
gosto do gosto
testo o texto

vejo-o o tejo

Um mundo de Paz

se a crise vem da medicina,
se o doente requer um médico
que a cura saiba para nos salvar,
então como esperar
que os remédios existentes possam servir para esta doença?
pensar. é preciso de novo pensar.
não quero remédio velho para crise nova.
mas se a crise é velha então prenda-se o médico.
ou estamos perante um caso de pura imprudência mundial.
globalizada que está a economia e global que se estende a crise.
ou procuramos uma solução global honesta e clara
ou caímos nas velhos remédios. Não se lembram?
1939-1945
antes amar.
se voltamos a cair nessa, juro que vou para outro mundo.um mundo de paz.

Pensionário

Guerra - quem ama é mais justo na guerra.

Pensionário

Crise - momento para amar intensamente.

Fantasia

os poemas de amor são patéticos.
em parte por serem sempre verdade.
o amor é universal.
se disser que a minha nuvem se aclara quando penso no teu amor.
não é nada de original.
não é fácil sê-lo.
no amor nada é novo e nem é preciso inventar.
preciso é só amar. amar. ser verdadeiro.
não ter medo de nada.
gostar de dentro para fora. gostar por inteiro.
gostar tanto.
gostar até ter frio só de em ti pensar.
sobe o sangue ao coração e aí permanece.
deixa de dar calor à minha mão que a pensar em ti escreve.
pensar que de novo te posso sonhar é remédio para a maior crise.
se no fim for apenas fantasia, que seja a de um conto de amor.

EU JÁ NÃO SEI

Domingos Gonçalves Costa / Carlos Rocha

Eu já não sei
Se fiz bem ou se fiz mal
Em pôr um ponto final
Na minha paixão ardente
Eu já não sei
Porque quem sofre de amor
A cantar sofre melhor
As mágoas que o peito sente

Quando te vejo e em sonhos sigo os teus passos
Sinto o desejo de me lançar nos teus braços
Tenho vontade de te dizer frente a frente
Quanta saudade há do teu amor ausente
Num louco anseio, lembrando o que já chorei
Se te amo ou se te odeio
Eu já não sei

Eu já não sei
Sorrir como então sorria
Quando em lindos sonhos via
A tua adorada imagem
Eu já não sei
Se deva ou não deva querer-te
Pois quero às vezes esquecer-te
Quero, mas não tenho coragem

Entre a dor e o nada

Dói-me.
O pé dói-me tanto!
É naquele sítio do calcanhar já a subir para a perna.
Quando o pé acaba.
Dói-me o fim do pé e o fim da perna.
Dói-me o pé.
Dói-me a perna.
Dói-me tanto!
Parece que apenas tenho o fim do pé e o fim da perna.
Nem sinto mais corpo.
Já me dói tudo.
Tanto!
Não tivesse esta dor no fim do pé.
Não tivesse esta dor no fim da perna.
Não tinha mais corpo.
Não tinha nada.
Vivo ligado a um fim de pé e um fim de perna que me doem.
Não me doesse nada e nada era.
Era apenas aquele fim de fronteira.

Era a dor.

-Era tudo?
-Sim, era.

A perna agarrada a mim faz-me doer.
O pé que ali começa anda a doer-me.
A dor que ali trago prolonga-me.
Do pé para a perna vamos andando.

quarta-feira, janeiro 07, 2009

adn

Há noites em que é tudo o que eu queria.

perdido no fundo do meu exílio.

sinto dor é um martírio

como quando não sabia o que fazia.

 

 Ai! Era a alma que me doía

Tornaste-te para nós num círio

 onde encontramos o único sitio

 que pelos dias anónimos nos seguia.

 

 Os amigos ou a música nos chamam

 Isto não é para os que não amam

De olhos abertos

Eu transcendo. Nada transcende. Os conceitos
não me deixam transcender. Liberto-me
pela transcendência. Pela transcendência
sou o poder. Criador de novos significados
respigados pela imaginação, quando
liberto dos poderosos grilhões olimpicos.
A minha transcendência é intransmissivel.
Sempre que vejo a lua, porque se interpõe
entre mim e o infinito, petrifico.
Transcendo. Quando acompanhados
apreciamos o nascer do dia, cada um
transcende individualmente. tu transcendes.
Eu transcendo. Nós transcendemos.
Nada no mundo transcende fora de nós.
A transcendência é aquela experiencia
de sair para fora de nós. Eu gostava de
transcender pelas palavras, pairar no intervalo
entre dois impulsos eléctricos cerebrais e
assim como que sentir-lhes o fluxo e
dominar as suas linhas de força e frear
ou acelerar a corrente. Depois temos que
regressar a nós, a casa. Eu transcendo a
ideia de um espelho de água calmo e
sereno quando mergulho e abro os olhos
debaixo de água. Mas de olhos abertos
transcendo.

Monotonia

Tenho uma página rasgada.

Será apenas neste livro?

Dia após dia encontro novas páginas que quero rasgar. De novo encontro páginas em branco que me fazem querer escrever. Quero escrever nas suas almas. É isso acima de tudo o que me dá prazer. Nem as loucuras que se arrastam, nem o cansaço do dia nem mais nada. Só ler e isto, escrever nas almas de pessoas singulares, estimulantes e por vezes fugazes.

Na tentativa de encontrar a alma inerente a cada página.

De forma a quebrar a monotonia, sentida por uma página, cheia de linhas por preencher, continuo a escrever.

Agora, devido ao medo que sinto dos dias monótonos e insignificantes começo a ganhar a coragem para sair deste lugar sem lugar para mim.
Preciso de reunir as condições urgentemente. Ainda acredito na minha ideia.

Sem terceira via

"Desejo contém futuro. É por isso uma boa palavra.
A fragilidade das relações humanas torna as pessoas mais sóbrias."

David Grossman

Acrescento eu, amargas.

A coragem de se colocar no papel do nosso adversário e aí analisar a versão contraria à nossa, dá-nos a verdadeira e completa realidade.

A nossa e a outra.

O seu a seu dono

"Pensar é um perigo. Para o mundo capitalista."

Tom Zé

9-05-06

Pensionário

Adeus! - Sinal de que alguem fica.

Tenho frio

Há um lugar dentro de mim que tarda em ser preenchido.
Num passado não muito distante, três anos, a presença na mesma cidade de uma pessoa muito especial, afastava de mim a sensação de estar perdido, num imenso espaço de pessoas desconhecidas.

Embora não tivesse um contacto muito frequente com Sofia, a sua presença em Lisboa dava-me a sensação de ter um abrigo no seu ombro e enchia a cidade agora vazia.

Sofia partiu para um país distante. Começou uma vida nova noutro país.

Eram completamente alucinantes os nossos encontros. Havia sempre a certeza de bons momentos, a possibilidade do inesperado se concretizar, a beleza de uma conversa inteligente, o deslumbramento com a sua enorme alma.

Por diversas vezes, foi também possível viver a cidade. Jantares, concertos, idas ao Teatro, entre outros momentos, davam-me a sensação de estar no sítio certo na fase certa da minha vida.

A sua partida foi um grande abalo. Disse-lhe no noite da nossa despedida: Fizeste com que a cidade parecesse mais pequena, mais acolhedora, menos fria.
Tenho a certeza de que apesar de ires para o país do frio, serei eu a tremer.
Entre nós há uma sucessão de voltas que, ora nos separam, ora nos aproximam.

Sobre a morte

A morte não tem pressa. Há cidades em que se vive

a correr, sempre cheio de pressa. Quase não se

dá pela morte. E no entanto, morre-se

em cada dia que passa e de repente, sem

nos apercebermos, morremos.


Lisboa é uma dessas cidades. Raramente

nos apercebemos da morte sempre

presente.

no 204

o jogo estava decidido.

as cartas, por ele distribuidas, esperavam, sem mostrar nervosismo, o momento de revelar aquilo que em conjunto ou isoladamente iría acontecer àquela alma.
o destino não eram as cartas, estas eram simplesmente o meio, o objecto, utilizado por ele para transmitir sua mais recente decisão. é certo que o jogador aceitava o jogo. não tinha ele lido as regras antes de entrar no quarto?

ao chegar ao hotel

que tinha sem saber procurado durante duas horas. era guiado por uma morada, expressa num anúncio de jornal; "empobreça, seja feliz. avenida da boa viagem n.º três, segundo andar.

na verdade foi o nome da avenida que lhe despertou a curosidade. aquele nome trouxe-lhe à memória num relampago, recordações de tempos vividos a um ritmo alucinante, cheio de experiências e viagens. era mais do que um sinal. era o destino que o chamava.

chegado ao hotel,

dirigiu-se à recepção e tocou na campainha com um gesto muito suave. não tendo ouvido toque que considerasse suficientemente audível, por quem o deveria receber, esperou alguns segundos e voltou a tocar a campainha, agora com força e de forma enérgica. estava ainda com a mão em cima da sineta quanto á sua frente surgiu um homem de aspecto cuidado, farda de hotel e muito velho de cara.

surgiu por detrás do balcão num impulso comprometido pois, tinha estado a dormir no chão fresco.

-estava à sua espera. o que o demorou? -surpreso, já não pela chegada súbita do homem que se lhe dirigia mas pelas suas palavras, mostrou-lhe o recorte do jornal e com o dedo apontou para a morada.

-sabe me dizer onde posso encontrar este sítio?

- não precisa de continuar a procurar. é aqui. -de súbito lembrou-se das palavras iniciais do velho e apoiando as mãos no balcão aproximou-se e olhando-o nos olhos perguntou-lhe:

-estava à minha espera? como é que me conhece? quem lhe disse que eu vinha? - todas estas dúvidas passaram-lhe pela frente e cairam em cima do velho como uma tempestade.

- calma meu jovem, confíe em mim que sei o que digo. estão à sua espera no 204.- a voz calma e ritmo pausado transmitiu-lhe serenidade e confiança, como é hábito nas pessoas mais idosas.

- então onde me devo dirigir? disse o 204? onde fica?

- sobe no elevador. é no segundo andar. segunda porta à direita.

- ainda o velho não tinha acabado já p.w. alva lhe tinha virado costas, dirigindo-se para o elevador que ficava ao fundo do hall do hotel. não tendo tido tempo de acabar a sua missão, o velho, contornou o balcão e correu a direcção do jovem.

- espere, tenho que lhe dar isto. leia com atenção, antes de entrar, é muito importante.

- alva, surpreendido com a agilidade do velho olhou para a folha azul que aquele lhe entregava e começou a ler.

"bem vindo. prepara-te para um jogo de cartas. por certo reconhecerás facilmente de que jogo se trata. existem duas regras. 1º rejeita uma carta. deixa o jogo proseguir e aproveita esse tempo para pensar no teu passado. com base naquilo em que acreditas, retira outra carta e guarda-a. 2º tens o poder de acabar o jogo quando entenderes. basta-te para isso dizer- termino o jogo. agora entra".

- alva estava bastante confuso. dentro dele, dois sentimentos impediam-no de tomar uma decisão. por um lado sentia-se receoso, que espécie de jogo que ele até conhecia era aquele?, por outro sentia uma enorme curosidade em saber quem iria encontrar dentro daquele quarto de hotel. algo lhe dizia que seria alguem bem conhecido. tratar-se-ia então de uma brincadeira, tipo partida, de um ou vários amigos. foi no entanto por outra razão que se decidiu a bater na porta do 204.

a sua veia de jogador cegou-lhe qualquer tipo de receio. era incapaz de recusar um jogo. preparou-se para bater à porta, pronto que estava para descobrir quem e o que o esperava, quando ouviu a porta do elevador a abrir. atrás de si, num passo lento e seguro viu aproximar-se em sua direcção, uma senhora.

pernas compridas, elegante de roupa e de corpo, com longos cabelos loiros. ficou paralisado com o braço erguido, a um palmo da porta.

ao reparar que estava a ser observada, baixou o olhar continuando a caminhar naquela direcção.

com isto, alva acabou por bater à porta e, ouvindo o som de um trinco de fechadura a estalar, rodou a maçaneta e entrou no quarto. não estava a fugir mas a evitar o embaraço de cruzar o olhar e daí surgir alguma pergunta, que era coisa para a qual não estava por certo preparado.