domingo, fevereiro 18, 2018

O mais óbvio

Rui Rio estende a mão ao Partido Socialista como estratégia política. A descentralização administrativa do país é a área de Política eleita. Tem uma estratégia aparentemente bem elaborada. Identifica os grupos de pressão com potencial de serem conquistados como por exemplo os professores, os idosos ou as populações do interior do país. Estes fazem parte do eleitorado mais volátil e com maior tendência a mudar de voto em futuras eleições legislativas sendo por isso de prever uma concentração neste alargado grupo do eleitorado.

 Para isso iremos assistir a estratégias de comunicação com apoio declarado de alguns órgãos de comunicação social mais tradicionais passando ainda essa permanente campanha pelas chamadas redes sociais. Sendo todos eles grupos transversais na sociedade, em termos etários, de níveis de riqueza ou em termos territoriais são também os menos acantonados a um partido político e por isso os mais prováveis aliados na sua luta diária contra o Governo.

 Tanto na resposta ao tema do dia-a-dia, como nas discussões políticas de maior relevo e de fundo que se podem esperar no tempo que antecede o fim da legislatura terá sempre esse eleitorado em linha de conta ao nível do discurso. Ao lançar as pontes para o diálogo com o partido socialista está também a provocar a possível degradação na coligação parlamentar e política que suporta o Governo de António Costa. São duas condições necessárias e não suficientes. Se por um lado precisa de combater a manutenção da coligação das esquerdas, precisa também de ganhar votos e eles só podem vir dos descontentes ou dos menos beneficiados pelo governo.

 Os sindicatos representam grupos profissionais e de interesses, legítimos, que não se sobrepõem completamente ao conjunto por eles gerado. A luta sindical será, assim, sempre por Rui Rio aproveitada para ganhar votos. São os votos do que classicamente se apelida por classe média e esse chavão é ainda um objectivo de muitos mesmo não se sabendo muito bem o que isso hoje representa.  Os profissionais poderão esperar aquilo que o PCP conseguir obter do governo e o Partido Comunista ver-se-á no dilema de reforçar o PSD ao querer obter mais direitos para os professores. Fariam bem o Governo e o Partido Socialista em antecipar a luta dos sindicatos e em conseguir o quanto antes um acordo de longo prazo que pacifique o sector alcançado dentro da coligação das esquerdas e seguindo a fórmula utilizada até aqui no Parlamento.

 Por outro lado temos os idosos quer sejam estes  reformados ou pensionistas. Os reformados tenderão a estar mais próximos de Rui Rio sempre que este levantar as questões dos cuidados de que esperam ou mencionar o interior e a desertificação do território ou as agora apelidadas falhas do Estado. Tem na pessoa de Morais Sarmento um forte apoiante e executante semanal. Nem é este o eleitorado tradicional da esquerda, se exceptuarmos o Alentejo e o distrito de Setúbal, nem é aquele que pode esperar do Governo maiores benesses. Aqui terá aliás Rui Rio, no Presidente da República, um forte aliado por tudo o que ele sempre representou e pelo que entretanto ganhou como capital político. Marcelo Rebelo de Sousa, para além de ter sido Presidente do PSD é reconhecido como alguém próximo do interior e do povo que mais sofreu com os incêndios, sendo por isso sempre uma voz com peso naquela faixa do eleitorado.

 Em parte sobrepostos, os idosos e a população do interior, não são dois conjuntos absolutamente coincidentes. A população idosa dos grandes centros urbanos, na sua maioria reformados ou detentores de algum complemento social, são ou ex-trabalhadores dos serviços ou ex-funcionários públicos de uma época em que Rui Rio esteve activo politicamente e poderão de si guardar uma imagem de pessoa séria. A sua linguagem política é bem directa e simples. Também aqui não é de esperar uma maior representatividade da esquerda tradicional e é sabido que uma grande deslocação de eleitorado da direita para a esquerda se concentrou neste grupo etário. Pode assim recuperá-lo caso o Governo e o Partido Socialista nada tiverem para lhes oferecer. São também aquele com uma voz menos regular e activa no espaço da comunicação política e social. Estão mais excluídos informaticamente e apresentam menores níveis de escolaridade.

 Rui Rio aparecerá sempre nestes meios e estará sempre a ganhar votos enquanto que António Costa pouco tem para apresentar como resultados dado tratar-se de problemas estruturais e alguns já sem volta a dar. Pouco ou nada melhorará o nível de escolaridade dessa população e, no fim da vida, para que precisarão os idosos de redes sociais que não seja para ver os familiares que partiram nos anos de crise? O nível de rendimentos pouco mudará e pouco mais será ambicionado. Este é pois o tema mais subjectivo e com maior carga simbólica na luta pelo poder. Aquele portanto mais sujeito a elevadas cargas de demagogia.

 A descentralização administrativa do país e o debate que se desenvolverá terá facilmente o interior do país como exemplo fácil mesmo que cerca de 70 por cento da população resida em grandes centros urbanos e no chamado litoral. São sabidas as posições dos dois líderes desde o tempo em que ambos eram autarcas nas duas mais importantes cidades portuguesas, nas mais influentes e nas mais representadas politicamente, por paradoxo. Não me demovo tão depressa da ideia dos caciques que esperam a regionalização para tomar o poder em nome do povo e o exercerem principalmente em benefício partidário ou pessoal.

 Ainda decorrerá bastante tempo até que as regiões sejam culturalmente assimiladas como unidades de desenvolvimento independentes quer nas estratégias quer nos resultados ambicionados e alcançados. Só com esse algo diferenciador é que se criará a identidade regional que de todo falta em Portugal. Não que um beirão não se identifique como tal ou que um algarvio ou alentejano não considere essa a sua identidade regional mas não há uma cultura de competição entre regiões. Os dados estatísticos são apresentados agregadamente para o país, muito pouco reflectidos em termos municipais e tendo em conta as unidades estatísticas que contam em termos europeus, as NUTS II, pouco daí se pode esperar. Quando se fala de Norte, Centro ou grande Lisboa como as regiões que de facto existem e das comissões de coordenação regional, está-se a andar no caminho contrário ao da formação da identidade regional que a descentralização precisará para ter sucesso. O Norte é demasiado diverso, o centro demasiado alargado geograficamente e a grande Lisboa muito pouco atractiva como referência a todos os que não residem na capital e que até aqui muito lutaram pela diferenciação identitária.


domingo, outubro 29, 2017

O Puxão


Quando puxam para baixo, não deixa que o levem.
Depois, sofre pela sua fraqueza.
Não pelo puxão.

Quando o puxarem para baixo,
Quer resistir a ser puxado.
Deve resistir ao puxão.

Não puxando em sentido contrário,
Respondendo sim com a razão.

Coloca assim o coração em baixo
E em cima a Razão.

Difícil será modelar força de razão
maior ou igual à intensidade do puxão.

Aplica-se a qualquer troca de comentários.

luz para o passado





Cada nova ideia, novo pensamento, cada nova forma de ver é como um foco de luz que se lança para o passado, estando ele no presente e nas proximidades do futuro.

A imagem de uma pessoa rodeada de traços e raios de luz nos limites da sua sombra, em grande velocidade e a apontar na direção do futuro é aquela que me ocorre.

Para trás lança a sua luz. Para o passado.

Aprender é aprender o passado. Se aprendemos é porque já foi pensado e exposto à controvérsia e ao debate. Não interessa tanto a ideia ser nova mas sim se suscita o debate acerca de si. Apenas de si e nunca da pessoa. Fazer, produzir algo é dar volume ao futuro ou lançá-lo numa nova, adicional direção.

A validade da ideia é sempre apreciada no futuro.

O Progresso ou a sua ideia não pode deixar de ser constantemente avaliada. Não como força de atrito ou de bloqueio ao seu desenrolar, mas de uma forma crítica sobre o seu valor hoje, de hoje e de futuro.

Olhando muito de perto podemos perder a noção mais alargada do tempo em que os progressos de ontem se encontram em cacos e pisados como folhas de outono.

Pouca ou coisa nenhuma se pode dizer que veio para ficar.

Os regressos a práticas do passado com roupagens de ultra progressista podem não ser mais do que derrotas atuais de conquistas passadas.

Era comum pensar que trabalhar a um sábado tinha sido genericamente abolido.

Ou vivemos tempos de excecionalidade e o percebemos racionalmente ou teremos de assumir o progresso como uma derrota.

Direitos Humanos, direitos laborais, direitos civis podem deixar de o ser se por eles não lutarmos.

Nada é adquirido, pelo contrário tudo é, neste tempo, de uma enorme efemeridade.

sexta-feira, outubro 28, 2016

Perigos de contágio ou a amargura de Wolfgang Schäuble



A União Europeia é vendida como um projeto de paz e, de facto, tem-no sido na medida em que quase conseguiu acabar com a guerra civil com que nos entretemos de quando em vez.

Uma consequência da cordial convivência entre chefes de Estado e membros de Governo com regularidade bastante elevada é que se tratem uns aos outros já quase pelo nome próprio. Essa proximidade e o facto de em algumas ocasiões até lutarem por objectivos comuns leva a dissipar os antagonismos do passado, colocou algumas querelas na esfera da politiquice de nível europeu, o que por sua vez, ocasiona alguns perigos de contágio de uma esfera para a outra; da europeia para a nacional e vice-versa.

Temos assistido a várias ataques de foice, por parte de Wolfgang Schäuble e na forma de comentários públicos nada pertinentes, em seara lusitana. Parece já um vício do ministro mas também denota alguma preocupação quanto ao seu legado político. Schäuble antevê o seu fim como poderoso ministro federal das finanças alemão e talvez gostasse de ser recordado por algo de positivo, num futuro nada distante.

Digamos que o actual rumo político levado a cabo pela coligação parlamentar que apoia o governo de António Costa, contrário aos seus desejos, tem a capacidade de influenciar outras soluções governativas de incidência parlamentar, isto é, tem elevado poder de contágio, até em terras germânicas.

Não nos esqueçamos que uma coligação Rot-Rot-Grün (vermelho-vermelho-verde), ou seja SPD-Die Linke-Die Grünen, tem a capacidade de ser viável já amanhã, colocando, por exemplo, o actual vice-chanceler, Sigmar Gabriel na cadeira de Merkel.

Talvez ainda mais do que querer fazer vingar a T.I.N.A., Wolfgang Schäuble abomine aquela possibilidade. A maturidade democrática de parte do povo alemão era bem capaz de aceitar tal solução, que de resto está prestes a entrar em vigor no estado de Berlim.

Há quem se esqueça de que afinal todos eles são políticos que lutam pela sua sobrevivência ou manutenção no poder. São políticos, com maiores ou menores convicções ideológicas, presos sobretudo aos seus problemas internos, isto é, nacionais e respondem apenas perante o seu eleitorado.

Se não é esta uma boa razão para desejar menos intergovernamentalismo e mais federalismo então não sei que outra o seja.

domingo, outubro 18, 2015

Idade maior na Política?

Aproxima-se o dia da primeira decisão presidencial, subsequente às eleições de 4 de Outubro. Poderá ser a sua última decisão relevante para a História da política portuguesa, ou a penúltima. Ou seja, estamos quase a saber quem vai formar Governo e com que estabilidade e grau de consenso.


A razão das eleições legislativas no quadro constitucional de uma Democracia Representativa é: eleger o órgão Legislativo, aquele que vota e aprova as Leis.


Essa votação ficará a cargo dos Deputados, representantes dos eleitores, que falam e agem em nome do povo, de acordo com a organização em facções partidárias.



Figura 1 – Distribuição de Deputados pelas facções partidárias.


A votação apurada converteu-se na distribuição de Deputados representada na figura 1. O significado do número de votos de cada força partidária, da abstenção, dos brancos ou nulos, deste ou daquele círculo são pouco relevantes para a questão em causa. Os números acima são os que têm agora relevância.


Existirão no Parlamento sete diferentes Partidos que se organizarão em seis grupos parlamentares e em duas, três ou quatro facções políticas. O PAN ao eleger apenas um Deputado não formará grupo parlamentar. As facções políticas poderão vir a ser: direita e esquerda; direita, PS e esquerda; e por último direita, PS, Bloco e CDU.

Em qualquer dos casos, o deputado do PAN não alterará por si só as contas. Fora do quadro das facções qualquer acordo é possível, em teoria.

Algumas consequências deste novo alinhamento são:

I.            A coligação de direita, PAF, só o é enquanto dela emanar o Governo. Caso contrário, o PSD e o PP terão bancadas parlamentares independentes uma da outra. Mas, para que aquilo aconteça precisam do apoio do PS. Ou seja, a relevância do PP está nas mãos do PS.

II.            O PS de António Costa poderá formar Governo com o apoio da direita, só do PSD, ou com apoio da restante esquerda. Tem portanto mais hipóteses, todas legitimas, de ser Governo.

 

                       



O PSD só tem uma solução para ser Governo que é convidar o PS para fazer parte desse mesmo Governo (cenários Y e Z nas figuras, diferentes entre si mas iguais na substância já que a presença do PP é acessória). É a solução madura, alemã, que visa garantir a estabilidade governativa. A falta desse convite expresso justifica a dureza na posição negocial do PS. Se pode ser Governo com a esquerda por que razão haveria o PS de viabilizar um Governo de direita que teima em o excluir?

A excessiva pessoalização das campanhas tornou este cenário em algo de muito complicado. Acusações do tipo: mentiroso, Lobo-mau, e outras que tais devem estar ainda a queimar as orelhas. O desenlace deste cenário pode estar, não nas mãos de Costa, mas sim, nas mãos do PS sem António Costa como Secretário-Geral.

Ao afirmar que não seria maioria negativa, António Costa estava desde logo a abrir a possibilidade de estabelecer um acordo de Governo com os partidos à sua esquerda mas também a deixar aberta a porta para a direita. Não se inviabiliza um governo minoritário sem uma solução alternativa.

III.            O PS, o BE, e o PEV juntos somam 107 deputados. O PCP pode roer a corda mas dar o lugar ao PEV para entrar no Governo. Com ou sem PCP, é possível um Governo à esquerda (cenário X).



Consequência de um tão sui generis Governo seria a emancipação dos Verdes. A falta em Portugal de um verdadeiro eleitorado Ecologista do tipo Europeu levanta no entanto algumas dúvidas quanto ao futuro reservado ao PEV. O BE ficaria dependente do curso da Legislatura para solidificar a sua posição e o PCP ficaria sempre como o último reduto de escape para o descontentamento social, mais ou menos organizado, mas sem nunca retirar o tapete ao PS, como aconteceu em 2011. A Política portuguesa atingiria assim a sua maioridade.

Neste cenário poder-se-ia pensar no deputado do PAN. Desempata os 107 deputados da direita com os 107 deputados de PS, BE e PEV juntos. Este é o cenário mais exótico e depende sempre da vontade do PCP.

Se o objectivo é retirar o poder à direita, o PAN não tem hipóteses de dar a maioria à coligação PAF. Daí, nem o ter considerado graficamente.

Uma governação com a esquerda coligada é a solução que garante maior estabilidade política e social para os próximos quatro anos.


Se o PS viabilizar o Governo de direita pode ser o início do seu fim; o BE é quem tem mais a perder com a realização de eleições antecipadas. Um Governo minoritário de direita implica outro líder no PS, possivelmente o seu último líder. Ao BE e ao PCP só lhes resta uma hipótese: fazer parte da solução.


O Desaparecimento do PS significará, em primeiro lugar, uma perpetuação da direita no poder por muitos e muitos anos. Jerónimo de Sousa já afirmou por várias vezes: O PS só não forma Governo se não quiser, mas para isso precisa do PCP.

Caso, ainda assim, o Presidente insista em convidar a direita minoritária no Parlamento para formar Governo, tratar-se-á de uma pueril perda de tempo.

Neste momento de alta Política, os interesses da Politics são condicionados pela Polity, daí resultando a qualidade das Policies. Haja Políticos.