domingo, maio 06, 2007

Solidão

Solidão é acreditar num sol que só a mim pertence.
Mesmo que não retire o sol a ninguém.
É não querer acordar, para não não te ver também.
Por não ter com quem festejar, preferir quem nunca vence.

É servir à noite para jantar, dois pratos, dois copos, vazios.
Para não ter a quem perguntar se viu o que mais ninguém viu.
Usar barba por não se lembrar, do beijo num rosto macio.
É ser pepita de sal numa lágrima, chorada na nascente dos rios.

Não casar, não ter filhos, ser velho aos quarenta,
Não amar nunca mais para não sentir o coração.
Assim querer continuar, pelo menos até aos noventa.

Percorrer mundo com semente na palma da mão,
Em busca da terra que melhor a alimenta.
Para poder viver mais tempo em solidão.

quarta-feira, maio 02, 2007

Poema em Construção

Tal como as nuvens

pairavam suspensos por fios imaginários

Infinitamente paralelos

apenas de perto perceptíveis

Pontos e traços

de uma mensagem eterna

decifrável usando um segredo

conhecido por quem partilha sentimentos ainda eternos

Vagueavam num carrossel ondulante

os pontos e os traços

da cifra do amor

Na terra deitado a lua admirava

Tinha-a por companheira num porto de mar

Pontos e traços em segredo desenhavam

no breu do firmamento

esquissos do teu beijar