No caminho para chegar a casa,
percebi que depressa tinha aprendido a percorre-lo.
Há dois dias que o era, e apenas uma outra vez o tinha percorrido.
Em Berlin faço um caminho para casa diferente pela quarta vez.
Tantas quantos os sítios aos quais já chamei ou ainda chamo casa.
Em comum têm o serem não mais do que um caminho dentro de casa.
É neste momento, assim, a minha casa, toda a cidade.
A vista sobre esta imensa planície,
desde o vigésimo terceiro andar,
é uma parte dos meus dias.
Por sê-lo, faz parte, quando a casa chego,
abeirar-me da janela e espreitar através dela.
É um encanto e consola a alma,
o perfil da cidade, com as suas luzes e formas.
Já tinha visto algumas estrelas no céu desta noite,
outro ponto de interesse que se tinha acrescentado
ao perfil de Berlin.
Muito verdadeiramente mesmo,
eu não estava era à espera disto.
Acima do horizonte,
lutando com as nuvens o seu lugar no meu dia,
levantava-se a Lua, bem tarde, já de madrugada.
Redonda, gorda e tão fraca.
De ambos os lados
entrecortada por um rasgo de nuvem.
Nem mesmo a intensidade do seu reflexo
conseguia negar aos rasgos de nuvem o seu lugar.
Cor de rosa, cor curiosa,
mostrou-me que a meu lado,
capaz de perceber de forma semelhante
um toque de humanidade na imagem daquela Lua,
faltava mesmo a minha cara e enorme amiga Alberta.
A Betinha sabe bem apreciar a natureza
e dela extrair o mais belo.
Sabes Betinha,
dei por mim a responder à pergunta,
vais passar o natal a casa,
com: eu estou em casa.
Por agora, Berlin é a minha casa,
e nela, haverá sempre lugar
para todos os meus amigos.