domingo, outubro 09, 2011

O Sol em Portugal


O Sol em Portugal.


por Sandro Cândido Marques a Sexta-feira, 20 de Maio de 2011 às 13:31

A imagem exterior de Portugal é ainda a de um país pobre, de gente que não quer trabalhar, gosta de vinho e barriga ao Sol. Mesmo a canção "A Luta é Alegria", foi vista como um exemplo da miséria nacional. No Facebook circulava uma causa a apelar ao voto nos HdL como forma de apoiar a pobreza. O sarcasmo europeu é imune a ideais de revoluções baseadas em cantigas. O que conta é o pedido de ajuda externa e isso é visto como o sinal do nosso atraso e da nossa miséria histórica.

A verdade é que somos o mesmo país pobre que sempre fomos. As gentes e a cultura são a nossa única riqueza. O capital humano e social só pode ser valorizado se continuarmos a apostar em políticas que o valorizem, e quebrem de vez com a espiral de empobrecimento a que estivemos condenados até 1974.

A gastronomia, as praias, os tesouros naturais, fazem de nós um dos povos que maiores índices de felicidade apresentam. Podemos ser pobres mas aquilo de que dispomos oferece-nos ainda assim uma excelente qualidade de vida. A aposta no Turismo como fonte de receitas mostra que o nosso tesouro só assim é exportável. Na verdade a imagem que constato haver de Portugal é a um sítio junto a Espanha, que não compete com as delícias mediterrânicas da Grécia, Turquia ou Chipre, e em todo o caso a de um país pobre e pouco atractivo. Claro que há quem saiba mais do que isso, mas não são a maioria.

Quanto ao resto, só com uma boa base educacional podemos vencer noutros sectores que competem a nível global, como de resto vai acontecendo em pequenos nichos. Os dois maiores grupos económicos liderados por portugueses, SONAE e AMORIM, não se baseiam em grandes apostas na investigação. Baseiam-se sim na única aposta que era interessante para eles, a mão-de-obra barata. A indústria conserveira que ainda resta foi deslocalizada para o norte de África, o resto foi afundado, desertificado e abandonado por não ser mais competitivo. Quando em 1986 aderimos à C.E.E. a nossa vantagem competitiva era a mão-de-obra barata, devido ao atraso na formação, herdado do passado. Termos vivido 48 anos em Ditadura, quando todo o mundo se desenvolvia e dava saltos qualitativos deixou-nos muito para trás. A única vantagem de que dispúnhamos para competir num mercado aberto e livre, o espaço económico europeu, esfumou-se quando países como China, Índia, Bangladesh, Indonésia, entre outros entraram na competição. Basta ir ver as etiquetas da roupa e sapatos que usamos e percebemos que as, ainda, marcas europeias, deslocalizaram as suas produções para outros competidores. A vantagem deles: mão-de-obra barata.

Se passamos a última década com crescimentos anémicos, como poderíamos responder à crise actual? A promessa de Sócrates em 2005 de criar 150 mil novos empregos, foi vista com aceitação, porque estávamos a sair da dupla crise que se abateu sobre nós e da qual nunca saímos. Tinha-se esgotado o nosso modelo de desenvolvimento, miseravelmente baseado no preço da mão-de-obra, em Portugal. A taxa de desemprego rondava na altura das eleições os 7%. Este facto explica a aceitação pelos portugueses de uma proposta de criação de 150 mil novos postos de trabalho. Vimos depois que a turva proposta não era mais que demagogia. Como se um Governo pudesse, por decreto, criar emprego. Poder até pode mas será sustentável? Já a aposta nas Novas Oportunidades, na qualificação dos portugueses, no investimento em investigação e tecnologia aplicada às empresas, esse indicador mostra uma alteração no paradigma do desenvolvimento. Foi uma boa aposta, já deu frutos, é uma tarefa de todos e a meu ver a chave para termos um futuro mais risonho. O resto, os défices estruturais e conjunturais, isso é coisa de menor importância, quando é o futuro de um povo que está em causa.

Porque os atrasos foram reconhecidos, Portugal sempre fez parte do grupo dos países da coesão. Os fundos de coesão pretendiam responder a essa chaga, o nosso atraso estrutural. Qual foi a aposta? Destruição da Agricultura e Pescas, construção de auto-estradas para melhor ligar, não o país mas, os mercados e a aposta num único sector industrial, o cluster automóvel, como forma de baixar os custos de transporte e assim integrar os mercados numa perspectiva Regional, à escala europeia. Ainda a crise de 2001 e os anos que lhe seguiram fez com que as liberalizações a nível global aumentassem e as deslocalizações nesse nicho se expandissem primeiro a Oriente e mais tarde, em 2004, ao Leste europeu. Ficou a Autoeuropa e pouco mais. Vamos ver até quando. Os benefícios fiscais e a rede de infra-estruturas criada de propósito para a suportar ainda a vão aguentando como um activo do Grupo VW.

Desenvolveram-se grupos de investigação dedicados a esse sector. Conseguirão eles inovar e criar algo de raiz? Carros menos poluentes pelo recurso a energias de fontes renováveis? Haverá capacidade financeira para investir nesse sector? A cortiça e os Colombos são ainda a jóia, nas coroas que os nossos reis ostentam.

O país do Sol não consegue fazer uma aposta séria e democrática na energia solar? Através da instalação de painéis solares em todas as casas, tal como entendemos o saneamento básico, electricidade, telefone e demais infra-estruturas, como sendo uma obrigação do estado? A possibilidade de em cada casa haver uma fonte de energia com capacidade de alimentar a rede energética tem de ficar apenas nas mãos dos mais afortunados? Será isso sustentável ou justo? Alguém hoje aceitaria que lhe dissessem: água canalizada em casa não porque é caro e os senhores são pobres? E tornar-nos independentes do exterior em termos energéticos, para consumo doméstico, não é um bom desafio? E baixar a factura da electricidade ou até mesmo transformá-la numa fonte de receita para cada família, é assim tão utópico? A produção em massa faz baixar os preços de produção, isso é básico. Os custos ambientais, se confrontados com os proveitos, aposto que são, assim, reduzidos e por isso uma boa aposta. Para mais, o conhecimento actual já é suficiente para reciclar e reutilizar tudo o que existe já que tudo isso foi produzido pelo homem e sobre o mesmo objecto tem um pleno conhecimento. Mais uma vez, os custos baixam com a generalização das práticas.

O mundo não pode suportar que os pobres sejam excluídos da possibilidade de ter energia solar. O desafio é global. Podemos começar em nossa casa.