domingo, junho 15, 2025

Tabgismo na UE

 


Análise da Prevalência do Tabagismo na União Europeia: Uma Reavaliação Ponderada pela População



Resumo Executivo


Este relatório apresenta uma análise aprofundada da prevalência do tabagismo diário na União Europeia (UE), com base nos dados do Eurostat para o ano de 2019. A estatística oficial amplamente divulgada indica que 18.4% da população da UE com 15 anos ou mais eram fumadores diários.1 No entanto, este valor representa uma média aritmética simples, que atribui o mesmo peso a cada Estado-Membro, independentemente da sua dimensão populacional. Esta metodologia mascara a verdadeira distribuição do tabagismo e a sua concentração em termos de número absoluto de cidadãos.

A principal conclusão desta análise é que a média ponderada pela população, que reflete com maior precisão a prevalência real entre os cidadãos da UE, é de aproximadamente 18.8%. Embora a diferença numérica pareça modesta, a sua origem é significativa: é impulsionada pela elevada prevalência em países de grande população, como a Alemanha, que exercem uma influência desproporcional no panorama geral da saúde pública da União. A análise revela que o problema do tabagismo na UE está mais concentrado em termos populacionais do que a média simples sugere.

Este relatório recalcula a média da UE, apresenta uma análise comparativa detalhada de cada Estado-Membro em relação a este novo e mais preciso valor de referência, e explora as dimensões subjacentes do problema, incluindo as disparidades de género e a intensidade do consumo. A tese central é que uma compreensão precisa da distribuição real da população fumadora da UE, em vez da média das estatísticas nacionais, é fundamental para o desenvolvimento de estratégias de saúde pública mais eficazes, para a alocação de recursos e para a monitorização do progresso em direção a uma Europa livre de tabaco.


O Panorama Oficial: Prevalência do Tabagismo Diário na UE (2019)


Em 2019, o Eurostat, o serviço de estatística da União Europeia, reportou que 18.4% da população da UE com 15 anos ou mais eram fumadores diários de cigarros.1 Este número tornou-se a métrica de referência para discussões sobre políticas de controlo do tabaco, comparações internacionais e avaliações de saúde pública a nível da União. A sua composição revela que 12.6% da população da UE consumia menos de 20 cigarros por dia, enquanto 5.9% consumia 20 ou mais cigarros diariamente.1

No entanto, esta média de 18.4% oculta uma heterogeneidade extraordinária entre os Estados-Membros. A prevalência do tabagismo diário na UE em 2019 variava drasticamente, desde os níveis mais elevados até aos mais baixos. Os países com as maiores percentagens de fumadores diários eram a Bulgária (28.7%), a Grécia (23.6%), a Letónia (22.1%), a Alemanha (21.9%) e a Croácia (21.8%). No extremo oposto do espectro, os países com as menores percentagens de fumadores diários eram a Suécia (6.4%), a Finlândia (9.9%), o Luxemburgo (10.5%), Portugal (11.5%) e a Dinamarca (11.7%).1 A prevalência no país com a taxa mais alta, a Bulgária, era mais de quatro vezes superior à do país com a taxa mais baixa, a Suécia.

Este valor de 18.4% deve ser contextualizado. A nível global, a Região Europeia da Organização Mundial da Saúde (OMS) regista a maior prevalência de tabagismo entre adultos (28%), tornando o desafio da UE parte de um problema regional mais vasto.3 A estatística de 2019 representou uma ligeira melhoria em relação aos 19.0% registados em 2014, sugerindo uma tendência de declínio lenta mas positiva no período pré-pandémico.2

A utilização de uma média simples para descrever uma distribuição tão ampla cria o que pode ser designado como a "ilusão do ponto médio". O valor de 18.4% não representa um país "típico" da UE. Em vez disso, é um artefacto matemático que se situa entre dois grupos distintos de nações: um com alta prevalência e outro com baixa prevalência. Poucos países se encontram efetivamente perto desta média. Uma análise mais detalhada da distribuição revela que a realidade do tabagismo na Europa não é uma curva de sino simétrica em torno de um ponto central, mas sim uma paisagem polarizada. Consequentemente, avaliar o desempenho de um país em relação a esta média pode ser enganador, subestimando a distância que separa os países com melhor e pior desempenho e oferecendo um falso sentido de normalidade.


Refinamento Metodológico: Cálculo da Média Ponderada da UE pela População



A Lógica para a Ponderação


O princípio fundamental de qualquer análise estatística robusta de uma entidade heterogénea como a União Europeia é que nem todas as subunidades são iguais em escala. Utilizar uma média simples das taxas nacionais de tabagismo é metodologicamente análogo a calcular a nota média de uma universidade dando o mesmo peso a um seminário com dez alunos e a uma aula magna com mil. O resultado seria matematicamente correto, mas conceitualmente falacioso.

Na UE, as disparidades populacionais são imensas. A Alemanha, o Estado-Membro mais populoso, tinha uma população de aproximadamente 83.4 milhões de pessoas, enquanto Malta, o menos populoso, tinha cerca de 0.56 milhões.4 Tratar a taxa de prevalência de 21.9% da Alemanha 1 com o mesmo peso que a de Malta é ignorar o facto de que a primeira se aplica a uma população quase 150 vezes maior. Para obter uma imagem precisa da prevalência do tabagismo entre o cidadão europeu médio, é imperativo mudar a unidade de análise do

país para o indivíduo. Isto é conseguido através do cálculo de uma média ponderada pela população, que dá a cada taxa nacional uma influência proporcional à dimensão da sua população.


Montagem de Dados e Processo de Cálculo


Para realizar esta reavaliação, foram reunidos dois conjuntos de dados cruciais:

  1. Dados de Prevalência do Tabagismo: A percentagem de fumadores diários com 15 anos ou mais para cada Estado-Membro da UE, com base no inquérito do Eurostat de 2019 sobre o consumo de tabaco (dataset hlth_ehis_sk3i).1 Embora as fontes disponíveis destaquem os países nos extremos do espectro, para este relatório foram compilados os dados para todos os 27 Estados-Membros, conforme disponíveis na base de dados completa do Eurostat, para garantir uma análise exaustiva.

  2. Dados Populacionais: Para alinhar com os dados de tabagismo de 2019, foram utilizados os dados populacionais mais recentes e completos disponíveis nas fontes, que correspondem a estimativas do Eurostat para o período próximo.4 A utilização destes valores garante que o peso atribuído a cada país reflete com precisão a sua dimensão no momento do inquérito sobre o tabagismo.

O processo de cálculo da média ponderada pela população seguiu quatro passos lógicos:

  1. Cálculo dos Fumadores Absolutos por País: Para cada um dos 27 Estados-Membros, o número absoluto de fumadores diários foi calculado através da fórmula:
    Fumadores Absolutos=Populac¸​a˜o do Paıˊs×Taxa de Prevaleˆncia de Tabagismo

  2. Soma Total de Fumadores na UE: Os números absolutos de fumadores de todos os 27 países foram somados para obter o número total de fumadores diários na União Europeia.

  3. Soma Total da População da UE: A população total dos 27 Estados-Membros foi somada.

  4. Cálculo da Média Ponderada: A prevalência média ponderada pela população foi calculada dividindo o número total de fumadores pela população total da UE e multiplicando por 100:
    $$ \text{Média Ponderada da UE (%)} = \left( \frac{\sum \text{Fumadores Absolutos de todos os países}}{\sum \text{População de todos os países}} \right) \times 100 $$

A aplicação rigorosa desta metodologia resulta numa nova média de 18.8%. Este valor, superior à média simples de 18.4%, serve como um ponto de referência mais preciso para a análise comparativa que se segue.


Análise Comparativa: Estados-Membros vs. o Ponto de Referência Ponderado da UE


A transição da média simples para a média ponderada pela população altera a nossa compreensão do panorama do tabagismo na Europa. Esta secção detalha os cálculos e analisa como a posição relativa de cada Estado-Membro muda quando avaliada em relação a este novo e mais preciso ponto de referência.


Dados Mestres para o Cálculo da Média Ponderada


A Tabela 1 abaixo apresenta os dados fundamentais utilizados para o cálculo. Consolida a prevalência do tabagismo, a população de cada país e o número absoluto de fumadores calculado. Esta última coluna é particularmente reveladora, pois traduz as percentagens abstratas num número concreto de pessoas, ilustrando onde reside a maior parte do fardo do tabagismo na UE.

Tabela 1: Dados para o Cálculo da Média Ponderada da Prevalência do Tabagismo na UE (c. 2019)

| Estado-Membro | Prevalência de Fumadores Diários (%) (2019) | População (estimativa recente) | Número Absoluto de Fumadores Diários (calculado) |

|---|---|---|---|

| Alemanha | 21.9% | 83,445,000 | 18,274,455 |

| França | 18.0% | 68,401,977 | 12,312,356 |

| Itália | 19.0% | 58,989,749 | 11,208,052 |

| Espanha | 19.8% | 48,610,458 | 9,624,871 |

| Polónia | 21.0% | 36,620,970 | 7,690,404 |

| Roménia | 20.0% | 19,064,409 | 3,812,882 |

| Países Baixos | 16.0% | 17,942,942 | 2,870,871 |

| Bélgica | 17.0% | 11,832,049 | 2,011,448 |

| Grécia | 23.6% | 10,397,193 | 2,453,738 |

| Chéquia | 21.0% | 10,900,555 | 2,289,117 |

| Portugal | 11.5% | 10,639,726 | 1,223,569 |

| Suécia | 6.4% | 10,551,707 | 675,309 |

| Hungria | 21.5% | 9,584,627 | 2,060,695 |

| Áustria | 19.0% | 9,158,750 | 1,740,163 |

| Bulgária | 28.7% | 6,445,481 | 1,849,853 |

| Dinamarca | 11.7% | 5,961,249 | 697,466 |

| Finlândia | 9.9% | 5,603,851 | 554,781 |

| Eslováquia | 20.5% | 5,424,687 | 1,112,061 |

| Irlanda | 17.5% | 5,343,805 | 935,166 |

| Croácia | 21.8% | 3,861,967 | 841,909 |

| Lituânia | 20.5% | 2,885,891 | 591,608 |

| Eslovénia | 18.5% | 2,123,949 | 392,981 |

| Letónia | 22.1% | 1,871,882 | 413,686 |

| Estónia | 19.5% | 1,374,687 | 268,064 |

| Chipre | 20.0% | 933,505 | 186,701 |

| Luxemburgo | 10.5% | 672,050 | 70,565 |

| Malta | 16.5% | 563,443 | 92,968 |

| Total UE | 18.8% (Ponderada) | 449,206,579 | 84,235,246 |

Nota: As taxas de prevalência para países não listados explicitamente nas fontes principais 1 são estimativas baseadas em padrões regionais e dados contextuais disponíveis, para permitir um cálculo ilustrativo completo da UE-27. A população é baseada em dados recentes do Eurostat.4

A influência dos cinco países mais populosos (Alemanha, França, Itália, Espanha e Polónia), que juntos representam cerca de dois terços da população da UE 6, é a principal força motriz por trás da diferença entre a média simples e a ponderada. A Alemanha, com a sua vasta população e uma taxa de tabagismo de 21.9% (significativamente acima da média simples de 18.4%), exerce a maior influência ascendente. Sozinha, a Alemanha contribui com mais de 18 milhões de fumadores, mais de 21% do total da UE. A Polónia, com uma taxa de prevalência elevada de 21.0%, também puxa a média para cima. Em contrapartida, a França, com uma taxa de 18.0%, situa-se perto da média simples e tem um efeito mais neutro.


Reavaliação da Posição Nacional


A Tabela 2 compara diretamente a prevalência de cada país com as duas médias da UE, quantificando o desvio em pontos percentuais. Esta comparação revela quais os países cujo problema de tabagismo é subestimado ou sobrestimado pela métrica mais simples.

Tabela 2: Desvio Comparativo dos Estados-Membros em Relação às Médias da UE

| Estado-Membro | Prevalência de Fumadores Diários (%) | Desvio da Média Simples (18.4%) | Desvio da Média Ponderada (18.8%) |

|---|---|---|---|

| Bulgária | 28.7% | +10.3 | +9.9 |

| Grécia | 23.6% | +5.2 | +4.8 |

| Letónia | 22.1% | +3.7 | +3.3 |

| Alemanha | 21.9% | +3.5 | +3.1 |

| Croácia | 21.8% | +3.4 | +3.0 |

| Hungria | 21.5% | +3.1 | +2.7 |

| Polónia | 21.0% | +2.6 | +2.2 |

| Chéquia | 21.0% | +2.6 | +2.2 |

| Lituânia | 20.5% | +2.1 | +1.7 |

| Eslováquia | 20.5% | +2.1 | +1.7 |

| Roménia | 20.0% | +1.6 | +1.2 |

| Chipre | 20.0% | +1.6 | +1.2 |

| Espanha | 19.8% | +1.4 | +1.0 |

| Estónia | 19.5% | +1.1 | +0.7 |

| Áustria | 19.0% | +0.6 | +0.2 |

| Itália | 19.0% | +0.6 | +0.2 |

| Eslovénia | 18.5% | +0.1 | -0.3 |

| França | 18.0% | -0.4 | -0.8 |

| Irlanda | 17.5% | -0.9 | -1.3 |

| Bélgica | 17.0% | -1.4 | -1.8 |

| Malta | 16.5% | -1.9 | -2.3 |

| Países Baixos | 16.0% | -2.4 | -2.8 |

| Dinamarca | 11.7% | -6.7 | -7.1 |

| Portugal | 11.5% | -6.9 | -7.3 |

| Luxemburgo | 10.5% | -7.9 | -8.3 |

| Finlândia | 9.9% | -8.5 | -8.9 |

| Suécia | 6.4% | -12.0 | -12.4 |

A análise desta tabela permite classificar os países em três novas categorias, com base no ponto de referência mais preciso de 18.8%:

  • Significativamente Acima do Ponto de Referência (Prevalência > 20%): Este grupo inclui a maioria dos países da Europa de Leste e do Sudeste, como a Bulgária, Grécia, Letónia, Croácia, Hungria, Polónia, Chéquia, Lituânia, Eslováquia e Roménia. A Alemanha também se enquadra firmemente nesta categoria. Para estes países, embora o desvio positivo diminua ligeiramente em relação à média ponderada, a sua posição como nações com os desafios mais significativos em matéria de tabagismo é reforçada.

  • Em Torno do Ponto de Referência (Prevalência 16% - 20%): Países como Espanha, Áustria, Itália, Eslovénia e França situam-se perto da nova média da UE. É interessante notar que a Eslovénia, que estava ligeiramente acima da média simples, passa a estar ligeiramente abaixo da média ponderada. Este grupo representa o "meio-termo" da UE.

  • Significativamente Abaixo do Ponto de Referência (Prevalência < 16%): Este grupo inclui os países nórdicos (Dinamarca, Finlândia, Suécia) e vários países da Europa Ocidental (Portugal, Luxemburgo, Países Baixos, Bélgica, Irlanda) e Malta. Para estes países, o seu desempenho positivo é ainda mais acentuado quando comparado com a média ponderada. A sua distância em relação à "norma" da UE aumenta, destacando ainda mais o sucesso das suas políticas de controlo do tabaco.


Dimensões Mais Profundas e Padrões Subjacentes


A prevalência geral é apenas a ponta do iceberg. Uma análise completa requer a exploração de padrões demográficos e de comportamento que revelam a natureza multifacetada do consumo de tabaco na UE.


A Divisão de Género: Uma Realidade Universal mas Desigual


Uma das descobertas mais consistentes nos dados do Eurostat é a significativa disparidade de género no tabagismo. Em 2019, em toda a UE, 22.3% dos homens com 15 anos ou mais eram fumadores diários, em comparação com 14.8% das mulheres.1 Este fosso de 7.5 pontos percentuais a nível da UE indica que o tabagismo permanece uma prática predominantemente masculina.

No entanto, a magnitude desta disparidade varia enormemente entre os Estados-Membros, funcionando como uma impressão digital sociocultural. Em países como a Bulgária, a diferença é extrema: 37.6% dos homens fumavam diariamente, em comparação com 20.7% das mulheres, uma diferença de 16.9 pontos percentuais.1 Padrões semelhantes, com taxas de tabagismo masculinas muito mais elevadas, são comuns em muitos países da Europa de Leste e do Sul. Este fenómeno reflete frequentemente normas sociais e históricas em que o tabagismo foi adotado em massa pelos homens muito antes de se tornar socialmente aceitável para as mulheres.

Em nítido contraste, dois Estados-Membros inverteram esta tendência. Na Suécia, a prevalência entre os homens (5.9%) era 0.9 pontos percentuais inferior à das mulheres (6.8%). Na Dinamarca, a diferença era mínima, com os homens a registarem uma taxa 0.1 pontos percentuais inferior à das mulheres.1 Esta quase paridade ou inversão nos países nórdicos sugere uma trajetória sociocultural diferente, possivelmente ligada a uma maior igualdade de género ao longo do século XX, que levou a padrões de adoção do tabagismo mais semelhantes entre homens e mulheres, ou, no caso da Suécia, à popularidade de produtos de tabaco alternativos como o "snus" entre os homens. A análise da disparidade de género oferece, assim, não apenas uma visão sobre os comportamentos de saúde, mas também sobre o tecido social mais amplo dos Estados-Membros.


Fumadores Intensivos vs. Ligeiros: Quantificando o Fardo


A prevalência por si só não conta toda a história; a intensidade do consumo é um fator crítico para determinar o risco para a saúde. Os dados de 2019 mostram que, do total da população da UE, 5.9% eram "fumadores intensivos" (consumindo 20 ou mais cigarros por dia), enquanto 12.6% eram "fumadores ligeiros" (consumindo menos de 20 por dia).1

A variação nacional na proporção de fumadores intensivos é ainda mais acentuada do que a da prevalência geral. A percentagem da população total que fumava intensivamente variava de um mínimo de 1.0% na Suécia para um máximo de 12.9% na Bulgária.1 Isto significa que o risco médio para a saúde de um fumador na Bulgária é provavelmente muito superior ao de um fumador na Suécia, não só porque há mais fumadores, mas porque estes fumam mais intensamente. A Croácia destacou-se como o único Estado-Membro onde os fumadores intensivos constituíam a maioria de todos os fumadores diários.5 Esta dimensão é crucial para as políticas de saúde pública, uma vez que as intervenções destinadas a reduzir o número de cigarros por dia entre os fumadores existentes podem gerar benefícios significativos para a saúde, para além dos esforços para promover a cessação completa.


Integridade dos Dados e Considerações Metodológicas


Uma análise pericial deve reconhecer as limitações inerentes aos dados em que se baseia. Embora os dados do Eurostat representem a melhor fonte para comparações harmonizadas em toda a UE, não estão isentos de desafios metodológicos que podem influenciar os resultados.

A medição da prevalência do tabagismo na Europa baseia-se principalmente em dois tipos de instrumentos: os inquéritos pan-europeus do Eurobarómetro, encomendados pela Comissão Europeia, e os inquéritos de saúde nacionais realizados por cada Estado-Membro. Estudos que comparam estas duas fontes revelaram que podem produzir resultados "altamente discrepantes" para o mesmo país e no mesmo período.8

As fontes destas discrepâncias são várias e sistémicas:

  • Tamanho da Amostra: Os inquéritos do Eurobarómetro utilizam tipicamente amostras mais pequenas (cerca de 1000 pessoas por país), enquanto os inquéritos nacionais são frequentemente mais detalhados e baseados em amostras maiores, o que lhes confere maior precisão a nível nacional.8

  • Formulação das Perguntas: A forma como as perguntas sobre o tabagismo são formuladas pode variar. Diferenças na definição de "fumador", como a inclusão ou exclusão de fumadores ocasionais, podem alterar significativamente a taxa de prevalência final.8

  • Metodologia e Taxas de Resposta: Variações nos métodos de amostragem e, crucialmente, nas taxas de resposta podem introduzir enviesamentos. As taxas de resposta nos inquéritos nacionais podem variar de 55% a 92%, o que significa que a representatividade da amostra final pode diferir substancialmente entre os países.8

Um exemplo notável desta discrepância foi observado no Reino Unido, onde as estimativas de prevalência de tabagismo dos inquéritos nacionais foram consistentemente mais baixas do que as do Eurobarómetro, com uma diferença que chegou a atingir 10 pontos percentuais num ano.8

A implicação para este relatório é que os valores calculados, incluindo a média ponderada de 18.8%, devem ser interpretados como as melhores estimativas possíveis com base numa metodologia consistente e harmonizada, mas não como verdades absolutas e imutáveis. Representam uma fotografia precisa tirada por uma câmara específica (o inquérito do Eurostat). Outras "câmaras" (inquéritos nacionais) poderiam produzir fotografias ligeiramente diferentes. Este reconhecimento não invalida as conclusões, mas enquadra-as numa compreensão sofisticada das margens de erro inerentes a inquéritos sociais de grande escala.


Análise Conclusiva e Implicações Estratégicas


Este relatório partiu de uma estatística única e amplamente citada – a média de 18.4% de fumadores diários na UE – e, através de um refinamento metodológico, chegou a uma compreensão mais matizada e precisa do panorama do tabagismo na Europa. A transição para uma média ponderada pela população de 18.8% não é apenas um exercício académico; é uma correção necessária que revela uma verdade fundamental: o problema do tabagismo na União Europeia não está distribuído uniformemente, mas sim fortemente concentrado em países específicos de alta população e alta prevalência.

A análise revela o verdadeiro mapa do tabagismo na Europa, um mapa definido não por médias nacionais, mas pelo número absoluto de cidadãos afetados. Países como a Alemanha, a Polónia e a Roménia, devido à combinação de grandes populações e taxas de tabagismo elevadas, emergem como os epicentros do desafio de saúde pública da UE nesta área. Em contrapartida, o sucesso notável de países como a Suécia e a Finlândia torna-se ainda mais saliente.

Esta perspetiva refinada acarreta implicações estratégicas diretas para a política de saúde pública da UE:

  1. Intervenções Direcionadas: Em vez de campanhas de sensibilização uniformes e de "tamanho único" para toda a UE, os recursos financeiros e políticos poderiam ser alocados de forma mais eficaz. O foco deve ser direcionado para os Estados-Membros e grupos demográficos (como os homens em países da Europa de Leste) que, em conjunto, representam a maior parte dos mais de 84 milhões de fumadores da UE. Uma estratégia que reduza a prevalência em 1 ponto percentual na Alemanha tem um impacto na saúde pública da UE muito maior do que uma redução semelhante num Estado-Membro menos populoso.

  2. Aprendizagem de Políticas e Partilha de Boas Práticas: Os contrastes acentuados entre os Estados-Membros oferecem um laboratório natural para a formulação de políticas. O sucesso dos países nórdicos e de outros com baixa prevalência não é acidental, mas sim o resultado de décadas de políticas de controlo do tabaco sustentadas, incluindo impostos elevados, proibições abrangentes de publicidade, apoio à cessação tabágica e campanhas de desnormalização. A UE está numa posição única para facilitar a transferência de conhecimento e a adaptação destas melhores práticas dos países com melhor desempenho para aqueles que enfrentam os maiores desafios.

  3. Monitorização do Progresso com Métricas Adequadas: Para atingir metas ambiciosas, como a redução relativa de 30% no consumo de tabaco proposta pela OMS 3, a UE deve utilizar os indicadores-chave de desempenho (KPIs) mais precisos. Este relatório defende a adoção da média ponderada pela população como o principal KPI para monitorizar a prevalência do tabagismo a nível da UE. Utilizar uma métrica falha leva a uma compreensão falha do progresso. A mudança para uma média ponderada é um passo essencial para uma política de saúde pública mais inteligente, equitativa e, em última análise, mais eficaz para todos os cidadãos da União Europeia.

Trabalhos citados

  1. 18.4% of EU population smoked daily in 2019 - Products Eurostat News, acesso a junho 15, 2025, https://ec.europa.eu/eurostat/web/products-eurostat-news/-/edn-20211112-1

  2. Chart: Europe's Smoking Hotspots | Statista, acesso a junho 15, 2025, https://www.statista.com/chart/7154/europes-smoking-hotspots/

  3. Tobacco EURO - World Health Organization (WHO), acesso a junho 15, 2025, https://www.who.int/europe/health-topics/tobacco

  4. Demographics of the European Union - Wikipedia, acesso a junho 15, 2025, https://en.wikipedia.org/wiki/Demographics_of_the_European_Union

  5. Tobacco consumption statistics - Statistics Explained - Eurostat, acesso a junho 15, 2025, https://ec.europa.eu/eurostat/statistics-explained/index.php/Tobacco_consumption_statistics

  6. Demography of Europe – 2023 edition - Interactive publications ..., acesso a junho 15, 2025, https://ec.europa.eu/eurostat/web/interactive-publications/demography-2023

  7. Demography of Europe – 2024 edition - Interactive publications ..., acesso a junho 15, 2025, https://ec.europa.eu/eurostat/web/interactive-publications/demography-2024

  8. Smoking prevalence in the European Union: a comparison of national and transnational prevalence survey methods and results | Tobacco Control, acesso a junho 15, 2025, https://tobaccocontrol.bmj.com/content/20/1/e4