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terça-feira, janeiro 26, 2010

NE CHANGE RIEN

Jeanne Balibar

Ne Change Rien
Os contrastes de Pedro Costa.
Uma silhueta traçada por um fio de luz toma posição no escuro, no palco. Acompanhada pelos reflexos dos instrumentos, por outras silhuetas, de gente, e pela música que timidamente produzem, Jeanne Balibar interpreta “Torture”. O contraste entre a imagem, tão finamente delineada, pontilhada por suaves focos, e a reacção do público convoca o primeiro arrepio.
“Ne Change Rien” dá-nos, a cada momento, a beleza do contraste entre: o claro e o escuro, a repetição até ao limite e a criação musical, a insegurança e a solidez.
É através do claro-escuro, magnificamente trabalhado, que Pedro Costa nos mostra traços de Jeanne Balibar, a desempenhar o papel de “Jeanne Balibar”. Vemos a cantora a lutar contra os tempos da canção, a interiorizar o ritmo certo para colocar as palavras, por entre fios de luz que saem dos corpos e que a pouco e pouco acabam por compor a sala. O mesmo acontecendo com a música saída da guitarra deRodolphe Burger, ao envolver o absoluto silêncio do estúdio. Desta combinação nascerá uma canção, nascerá “Cinema” por Jeanne Balibar.
“Ne Change Rien” documenta a aprendizagem dura e lenta, o voltar atrás constante, a repetição necessária, o caminho entre o satisfatório e o sublime. O plano, sempre fixo, discreto, é como o olhar de um convidado que assiste ao ensaio. É esse o nosso papel enquanto privilegiados espectadores. Será mesmo o único papel a ser desempenhado durante os 97 minutos do filme. O processo de criação da música está envolto numa tensão permanente que uma oportuna gargalhada ajuda a aliviar, e que, assim, nos permite libertar a respiração. Quem já teve a oportunidade de estar presente num momento de criação, com amigos, na garagem na sala de ensaios ou no estúdio, irá reconhecer essa tensão e o prazer que daí advém. O esforço dos longos ensaios e das sessões de gravação culminam nas performances ao vivo em que saltam à memória as dificuldades vencidas, elevando assim a nossa satisfação e reforçando a cumplicidade.
As músicas, compostas por Rodolphe Burger, com letras de Pierre Alféri, são apresentadas a Balibar para lhes dar voz, permitindo-lhe no entanto alguma margem na interpretação. Deste processo criativo surge o outro elemento de contraste que se dá entre a insegurança da intérprete e a solidez dos músicos, com Rodolphe à cabeça; assim como do contraste entre as vozes, a dela e a dele, a primeira cheia de leveza e a segunda mais grave. Contrasta ainda a voz límpida de Jeanne Balibar com a electrónica usada nalgumas músicas.
Pedro Costa filmou a actriz Jeanne Balibar, durante cinco anos, no papel de cantora que também é, registando assim o seu percurso por entre ensaios e gravações para os álbuns de Rock/Electro/New Wave, os ensaios para a ópera bufa de Jacques Offenbach, “La Périchole”, aulas de canto lírico, e concertos com a banda que perfaz o elenco do filme. A cantora afirma ser este um dos mais belos filmes que fez. Não representou um papel e acabou por se aproximar paradoxalmente do ideal profundo do que é isso de ser actriz. O filme não resulta de um projecto estruturado previamente, mas sim da sua permanente invenção ao longo dos anos decorridos.
“Ne Change Rien” segue os passos de Jeanne Balibar. As imagens, no estúdio de ensaios e de gravação, combinam instrumentos e demais aparelhagem, sempre revelados pelo subtil brilho de algum ponto de luz reflectido, deixando à imaginação a sua parte não iluminada. Mostra o mínimo, para deixar sonhar o máximo. É nesta atmosfera de meia-luz que se vão descobrindo alguns detalhes no espaço envolvente. Um gato, outro, uma lareira discretamente acesa, um pano com xadrez a cobrir peças de mobília, bancos. O exterior à casa entra por uma janela, já quase fora do plano em que a cantora está perante o microfone. Estamos na fase de gravações. “Papéis” estudados, trabalho de tecelagem, manobrado com botões e rato. Surgem agora as canções quase completas, a tensão aumenta e os planos tornam-se mais diversificados e curtos. “Cinema” está quase. A festa surge no entanto ao som de outra faixa do álbum “Slalom Dame”. “ Ton Diable” é o tema ao som do qual assistimos ao descomprimir em jeito de celebração, por parte da banda.
O slalom de Pedro Costa passa ainda pelo Teatro onde Jeanne Balibar ensaia “La Périchole”. Aqui, a câmara coloca-se numa posição mais lateral, vista da quarta parede, ainda como um privilegiado espectador de ensaios, virada para a saída de cena. São as cenas mais iluminadas.
O ensaio de canto lírico tem um plano fechado sobre a cara da cantora, revelando todos os pormenores do seu esforço e do seu sofrimento. Mais duas frases e acaba a lição. Respirar fundo outra vez.
Há outro lugar a destacar; Tóquio. Pedro Costa acompanha a banda. Filma cenas profundamente japonesas, pela contemplação do momento, com o som em fundo, de um ensaio, antecedendo um provável espectáculo. Aqui também, o exterior entra discretamente na cena, reflectido no vidro de um adereço na parede.
“Ne change Rien” termina com a banda a aquecer vozes e mãos, num improviso instrumental de “Rose”, penúltima faixa do primeiro álbum de Jeanne Balibar, no qual “Torture” é a última.
Inserido no género do documentário musical, de que “ONE PLUS ONE” (1968) de Godard será referência, passa para além do retrato da banda, e do registo do nascimento de uma canção; no caso dos Rolling Stones “nasceu” Sympathy For The Devil”, tendo pelo meio um exercício artístico com mensagem política.
Em “Ne Change Rien”, seguimos exclusivamente os passos da actriz Jeanne Balibar na sua pele de cantora, com uma narrativa cheia de tensão, alimentada pela repetição obsessiva, e que culmina no luminoso contraste de sombras da cena inicial.

sexta-feira, outubro 02, 2009

Caminho

Abro uma porta.
Não vejo nada.
Encontro-me numa sala,
sem tecto.

De cima entra uma luz tão limpa e clara,
branca,
como o branco das ondas a desfazerem-se na areia.

Não se vê nada.
Sinto o crepitar do fogo preso nas velas,
que iluminam o chão,
delimitando o caminho a percorrer.

sexta-feira, setembro 11, 2009

Sobre Camões

de Fernando Pessoa in Diário de Lisboa, de 4 de Fevereiro de 1924.


"Luís de Camões"

"...
Em certo modo viveu o que cantou, sendo, assim,

o único épico que foi lírico ao sê-lo.

Essa sua singularidade, que é uma virtude,

é, como todas as virtudes, origem de vários defeitos."

Razões para...

Rossio


Para beber, o Sol.
Para sair de mim, um horizonte.
Para sentir, sofrer.

Para pensar, absorver o mundo.
Para chorar, a ausência pela morte.
Para recordar, a infância.

Para escrever, o vazio.
Para escrever, a vida.

Para sorrir, o belo.

Para rir, os amigos.

sexta-feira, julho 31, 2009

FADO LOUCO

FADO LOUCO


Fadista Louco




A ideia de existir
Um Fadista Louco
Que não 0 melhor
Nos poemas cantados
No Fado,

Ou melhor
A ideia,
De ser eu,
O "Fadista Louco",

Será a razão
Para aprender
A cantar, a cantar
O Fado,

Ou melhor,
A ser eu
Fadista, Fadista
Louco.

FADISTA LOUCO


Alberto Janes

Eu canto com os olhos bem fechados
Que o maestro dos meus fados
É quem lhes dá o condão
E assim não olho pra outros lados
Que canto de olhos fechados
Pra olhar pra o coração.


Meu coração que é fadista de outras eras
Que sonha viver quimeras
Em loucura desabrida
Meu coração, se canto, quase me mata
Pois por cada vez que bata
Rouba um pouco a minha vida

Ele e eu, cá vamos sofrendo os dois
Talvez um dia, depois dele parar pouco a pouco
Talvez alguém se lembre ainda de nós
E sinta na minha voz o que sentiu este louco.
"FADISTA LOUCO" retirado de: http://meiamaquinameiamulher.blogspot.com/, sem pedido.

sexta-feira, janeiro 30, 2009

Boletim Meteorológico

diz que está tanto frio que os três graus parecem menos um!

Desacordo semântico?

ponho um ponto
canto um canto
pranto um pranto
começo no começo
sossego no sossego
parece e pareço
estudo o estudo
falo a fala
caminho o caminho
gosto do gosto
testo o texto

vejo-o o tejo

Pensionário

Guerra - quem ama é mais justo na guerra.

Pensionário

Crise - momento para amar intensamente.

Fantasia

os poemas de amor são patéticos.
em parte por serem sempre verdade.
o amor é universal.
se disser que a minha nuvem se aclara quando penso no teu amor.
não é nada de original.
não é fácil sê-lo.
no amor nada é novo e nem é preciso inventar.
preciso é só amar. amar. ser verdadeiro.
não ter medo de nada.
gostar de dentro para fora. gostar por inteiro.
gostar tanto.
gostar até ter frio só de em ti pensar.
sobe o sangue ao coração e aí permanece.
deixa de dar calor à minha mão que a pensar em ti escreve.
pensar que de novo te posso sonhar é remédio para a maior crise.
se no fim for apenas fantasia, que seja a de um conto de amor.

Entre a dor e o nada

Dói-me.
O pé dói-me tanto!
É naquele sítio do calcanhar já a subir para a perna.
Quando o pé acaba.
Dói-me o fim do pé e o fim da perna.
Dói-me o pé.
Dói-me a perna.
Dói-me tanto!
Parece que apenas tenho o fim do pé e o fim da perna.
Nem sinto mais corpo.
Já me dói tudo.
Tanto!
Não tivesse esta dor no fim do pé.
Não tivesse esta dor no fim da perna.
Não tinha mais corpo.
Não tinha nada.
Vivo ligado a um fim de pé e um fim de perna que me doem.
Não me doesse nada e nada era.
Era apenas aquele fim de fronteira.

Era a dor.

-Era tudo?
-Sim, era.

A perna agarrada a mim faz-me doer.
O pé que ali começa anda a doer-me.
A dor que ali trago prolonga-me.
Do pé para a perna vamos andando.

quarta-feira, janeiro 07, 2009

adn

Há noites em que é tudo o que eu queria.

perdido no fundo do meu exílio.

sinto dor é um martírio

como quando não sabia o que fazia.

 

 Ai! Era a alma que me doía

Tornaste-te para nós num círio

 onde encontramos o único sitio

 que pelos dias anónimos nos seguia.

 

 Os amigos ou a música nos chamam

 Isto não é para os que não amam

De olhos abertos

Eu transcendo. Nada transcende. Os conceitos
não me deixam transcender. Liberto-me
pela transcendência. Pela transcendência
sou o poder. Criador de novos significados
respigados pela imaginação, quando
liberto dos poderosos grilhões olimpicos.
A minha transcendência é intransmissivel.
Sempre que vejo a lua, porque se interpõe
entre mim e o infinito, petrifico.
Transcendo. Quando acompanhados
apreciamos o nascer do dia, cada um
transcende individualmente. tu transcendes.
Eu transcendo. Nós transcendemos.
Nada no mundo transcende fora de nós.
A transcendência é aquela experiencia
de sair para fora de nós. Eu gostava de
transcender pelas palavras, pairar no intervalo
entre dois impulsos eléctricos cerebrais e
assim como que sentir-lhes o fluxo e
dominar as suas linhas de força e frear
ou acelerar a corrente. Depois temos que
regressar a nós, a casa. Eu transcendo a
ideia de um espelho de água calmo e
sereno quando mergulho e abro os olhos
debaixo de água. Mas de olhos abertos
transcendo.

Monotonia

Tenho uma página rasgada.

Será apenas neste livro?

Dia após dia encontro novas páginas que quero rasgar. De novo encontro páginas em branco que me fazem querer escrever. Quero escrever nas suas almas. É isso acima de tudo o que me dá prazer. Nem as loucuras que se arrastam, nem o cansaço do dia nem mais nada. Só ler e isto, escrever nas almas de pessoas singulares, estimulantes e por vezes fugazes.

Na tentativa de encontrar a alma inerente a cada página.

De forma a quebrar a monotonia, sentida por uma página, cheia de linhas por preencher, continuo a escrever.

Agora, devido ao medo que sinto dos dias monótonos e insignificantes começo a ganhar a coragem para sair deste lugar sem lugar para mim.
Preciso de reunir as condições urgentemente. Ainda acredito na minha ideia.

Sem terceira via

"Desejo contém futuro. É por isso uma boa palavra.
A fragilidade das relações humanas torna as pessoas mais sóbrias."

David Grossman

Acrescento eu, amargas.

A coragem de se colocar no papel do nosso adversário e aí analisar a versão contraria à nossa, dá-nos a verdadeira e completa realidade.

A nossa e a outra.

Pensionário

Adeus! - Sinal de que alguem fica.

Tenho frio

Há um lugar dentro de mim que tarda em ser preenchido.
Num passado não muito distante, três anos, a presença na mesma cidade de uma pessoa muito especial, afastava de mim a sensação de estar perdido, num imenso espaço de pessoas desconhecidas.

Embora não tivesse um contacto muito frequente com Sofia, a sua presença em Lisboa dava-me a sensação de ter um abrigo no seu ombro e enchia a cidade agora vazia.

Sofia partiu para um país distante. Começou uma vida nova noutro país.

Eram completamente alucinantes os nossos encontros. Havia sempre a certeza de bons momentos, a possibilidade do inesperado se concretizar, a beleza de uma conversa inteligente, o deslumbramento com a sua enorme alma.

Por diversas vezes, foi também possível viver a cidade. Jantares, concertos, idas ao Teatro, entre outros momentos, davam-me a sensação de estar no sítio certo na fase certa da minha vida.

A sua partida foi um grande abalo. Disse-lhe no noite da nossa despedida: Fizeste com que a cidade parecesse mais pequena, mais acolhedora, menos fria.
Tenho a certeza de que apesar de ires para o país do frio, serei eu a tremer.
Entre nós há uma sucessão de voltas que, ora nos separam, ora nos aproximam.

Sobre a morte

A morte não tem pressa. Há cidades em que se vive

a correr, sempre cheio de pressa. Quase não se

dá pela morte. E no entanto, morre-se

em cada dia que passa e de repente, sem

nos apercebermos, morremos.


Lisboa é uma dessas cidades. Raramente

nos apercebemos da morte sempre

presente.

"antes a morte que tal sorte"

haverá uma resposta satisfatória para a ilusão?

existe um problema perigosissimo em basear uma relação numa ilusão

um dia ela pode acabar

arrastando dessa forma muitas das certezas que assim descobres não serem afinal mais do que ilusões

sonhas, constróis ilusões, prossegues num caminho e de repente esse caminho acaba.

funde-se num mar de ilusões e entras em queda livre por te faltar um chão por onde avançar.

assim, de repente.

ainda mais rápido do que o tempo necessário para construir uma ilusão.

claro que o amor é uma ilusão

não serve portanto para ser a base de uma relação

no entanto acho-me incapaz de fazer um investimento de tipo especulativo em relação a alguém.

quando as acções têm margem de progressão compras e assim que encontras outro investimento

que consideras mais rentável vendes tudo e refazes a tua aposta

nem se trata de retirar mais valias

se sobe, apostas.

''Fragmentos diários''

Há um determinado objecto que pertence ao guarda-fatos.

Cá em casa esse objecto pertence ao guarda-fato.

Fato usado, gasto pelo tempo.