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sexta-feira, março 04, 2011

A Bela Adormecida





Esperando o príncipe encantado

Subiu um monte vizinho

Sozinha, perdeu-se p'lo caminho

Não via o rio a seu lado.


Outrora fora ele envenenado

Foi-se assim embora o golfinho

-Neste rio não faço mais ninho

Voltarei se voltar a ser Sado


Acorda cidade adormecida

Como é bela a vista do monte!

É tempo de sarar essa ferida.

Como o rio, continua a corrida

Não deixes secar essa fonte

A tanto tua beleza convida.

sexta-feira, fevereiro 04, 2011

Saudade

Philosophy is really homesickness, an urge to be at home everywhere.
Where, then, are we going?
Always to our home.

Novalis, Fragments

sábado, dezembro 25, 2010

Presenças inesperadas.

No caminho para chegar a casa,

percebi que depressa tinha aprendido a percorre-lo.

Há dois dias que o era, e apenas uma outra vez o tinha percorrido.

Em Berlin faço um caminho para casa diferente pela quarta vez.

Tantas quantos os sítios aos quais já chamei ou ainda chamo casa.

Em comum têm o serem não mais do que um caminho dentro de casa.

É neste momento, assim, a minha casa, toda a cidade.

A vista sobre esta imensa planície,

desde o vigésimo terceiro andar,

é uma parte dos meus dias.

Por sê-lo, faz parte, quando a casa chego,

abeirar-me da janela e espreitar através dela.

É um encanto e consola a alma,

o perfil da cidade, com as suas luzes e formas.


Já tinha visto algumas estrelas no céu desta noite,

outro ponto de interesse que se tinha acrescentado

ao perfil de Berlin.


Muito verdadeiramente mesmo,

eu não estava era à espera disto.


Acima do horizonte,

lutando com as nuvens o seu lugar no meu dia,

levantava-se a Lua, bem tarde, já de madrugada.

Redonda, gorda e tão fraca.


De ambos os lados

entrecortada por um rasgo de nuvem.

Nem mesmo a intensidade do seu reflexo

conseguia negar aos rasgos de nuvem o seu lugar.


Cor de rosa, cor curiosa,

mostrou-me que a meu lado,

capaz de perceber de forma semelhante

um toque de humanidade na imagem daquela Lua,

faltava mesmo a minha cara e enorme amiga Alberta.


A Betinha sabe bem apreciar a natureza

e dela extrair o mais belo.


Sabes Betinha,

dei por mim a responder à pergunta,

vais passar o natal a casa,

com: eu estou em casa.

Por agora, Berlin é a minha casa,

e nela, haverá sempre lugar

para todos os meus amigos.

quarta-feira, novembro 24, 2010

MOFO

…A janela aberta trazia arrastado pela brisa o cheiro a mofo. De tempos a tempos ao ritmo da brisa da madrugada. Eram já as madrugadas quentes do início do verão. As limpezas no chão do quarto tinham-no deixado satisfeito e no entanto, a brisa trazia-lhe o cheiro fétido da água suja entranhada no soalho. Afinal a limpeza não tinha sido suficientemente perfeita…

terça-feira, janeiro 26, 2010

NE CHANGE RIEN

Jeanne Balibar

Ne Change Rien
Os contrastes de Pedro Costa.
Uma silhueta traçada por um fio de luz toma posição no escuro, no palco. Acompanhada pelos reflexos dos instrumentos, por outras silhuetas, de gente, e pela música que timidamente produzem, Jeanne Balibar interpreta “Torture”. O contraste entre a imagem, tão finamente delineada, pontilhada por suaves focos, e a reacção do público convoca o primeiro arrepio.
“Ne Change Rien” dá-nos, a cada momento, a beleza do contraste entre: o claro e o escuro, a repetição até ao limite e a criação musical, a insegurança e a solidez.
É através do claro-escuro, magnificamente trabalhado, que Pedro Costa nos mostra traços de Jeanne Balibar, a desempenhar o papel de “Jeanne Balibar”. Vemos a cantora a lutar contra os tempos da canção, a interiorizar o ritmo certo para colocar as palavras, por entre fios de luz que saem dos corpos e que a pouco e pouco acabam por compor a sala. O mesmo acontecendo com a música saída da guitarra deRodolphe Burger, ao envolver o absoluto silêncio do estúdio. Desta combinação nascerá uma canção, nascerá “Cinema” por Jeanne Balibar.
“Ne Change Rien” documenta a aprendizagem dura e lenta, o voltar atrás constante, a repetição necessária, o caminho entre o satisfatório e o sublime. O plano, sempre fixo, discreto, é como o olhar de um convidado que assiste ao ensaio. É esse o nosso papel enquanto privilegiados espectadores. Será mesmo o único papel a ser desempenhado durante os 97 minutos do filme. O processo de criação da música está envolto numa tensão permanente que uma oportuna gargalhada ajuda a aliviar, e que, assim, nos permite libertar a respiração. Quem já teve a oportunidade de estar presente num momento de criação, com amigos, na garagem na sala de ensaios ou no estúdio, irá reconhecer essa tensão e o prazer que daí advém. O esforço dos longos ensaios e das sessões de gravação culminam nas performances ao vivo em que saltam à memória as dificuldades vencidas, elevando assim a nossa satisfação e reforçando a cumplicidade.
As músicas, compostas por Rodolphe Burger, com letras de Pierre Alféri, são apresentadas a Balibar para lhes dar voz, permitindo-lhe no entanto alguma margem na interpretação. Deste processo criativo surge o outro elemento de contraste que se dá entre a insegurança da intérprete e a solidez dos músicos, com Rodolphe à cabeça; assim como do contraste entre as vozes, a dela e a dele, a primeira cheia de leveza e a segunda mais grave. Contrasta ainda a voz límpida de Jeanne Balibar com a electrónica usada nalgumas músicas.
Pedro Costa filmou a actriz Jeanne Balibar, durante cinco anos, no papel de cantora que também é, registando assim o seu percurso por entre ensaios e gravações para os álbuns de Rock/Electro/New Wave, os ensaios para a ópera bufa de Jacques Offenbach, “La Périchole”, aulas de canto lírico, e concertos com a banda que perfaz o elenco do filme. A cantora afirma ser este um dos mais belos filmes que fez. Não representou um papel e acabou por se aproximar paradoxalmente do ideal profundo do que é isso de ser actriz. O filme não resulta de um projecto estruturado previamente, mas sim da sua permanente invenção ao longo dos anos decorridos.
“Ne Change Rien” segue os passos de Jeanne Balibar. As imagens, no estúdio de ensaios e de gravação, combinam instrumentos e demais aparelhagem, sempre revelados pelo subtil brilho de algum ponto de luz reflectido, deixando à imaginação a sua parte não iluminada. Mostra o mínimo, para deixar sonhar o máximo. É nesta atmosfera de meia-luz que se vão descobrindo alguns detalhes no espaço envolvente. Um gato, outro, uma lareira discretamente acesa, um pano com xadrez a cobrir peças de mobília, bancos. O exterior à casa entra por uma janela, já quase fora do plano em que a cantora está perante o microfone. Estamos na fase de gravações. “Papéis” estudados, trabalho de tecelagem, manobrado com botões e rato. Surgem agora as canções quase completas, a tensão aumenta e os planos tornam-se mais diversificados e curtos. “Cinema” está quase. A festa surge no entanto ao som de outra faixa do álbum “Slalom Dame”. “ Ton Diable” é o tema ao som do qual assistimos ao descomprimir em jeito de celebração, por parte da banda.
O slalom de Pedro Costa passa ainda pelo Teatro onde Jeanne Balibar ensaia “La Périchole”. Aqui, a câmara coloca-se numa posição mais lateral, vista da quarta parede, ainda como um privilegiado espectador de ensaios, virada para a saída de cena. São as cenas mais iluminadas.
O ensaio de canto lírico tem um plano fechado sobre a cara da cantora, revelando todos os pormenores do seu esforço e do seu sofrimento. Mais duas frases e acaba a lição. Respirar fundo outra vez.
Há outro lugar a destacar; Tóquio. Pedro Costa acompanha a banda. Filma cenas profundamente japonesas, pela contemplação do momento, com o som em fundo, de um ensaio, antecedendo um provável espectáculo. Aqui também, o exterior entra discretamente na cena, reflectido no vidro de um adereço na parede.
“Ne change Rien” termina com a banda a aquecer vozes e mãos, num improviso instrumental de “Rose”, penúltima faixa do primeiro álbum de Jeanne Balibar, no qual “Torture” é a última.
Inserido no género do documentário musical, de que “ONE PLUS ONE” (1968) de Godard será referência, passa para além do retrato da banda, e do registo do nascimento de uma canção; no caso dos Rolling Stones “nasceu” Sympathy For The Devil”, tendo pelo meio um exercício artístico com mensagem política.
Em “Ne Change Rien”, seguimos exclusivamente os passos da actriz Jeanne Balibar na sua pele de cantora, com uma narrativa cheia de tensão, alimentada pela repetição obsessiva, e que culmina no luminoso contraste de sombras da cena inicial.

sexta-feira, outubro 02, 2009

O Falcão

Hoje trago uma grande mágoa.
Fui guloso e comecei pela queijada. Seguida pelo café em chávena grande.
Nos mercados há regras. -"Só pode entrar às 7!"
- Começamos todos ao mesmo tempo? Mesmo sendo o primeiro? Ninguém com vontade de comprar tesouros! Eu não posso comprá-los?
Agora sim! Está tudo a postos.
Todos prontos para servir os prazeres que pessoas como eu procuram.
As cenouras parecem bonitas, estão demasiado bonitas, aliás.
Comprava uma couve, ali do meio do corredor.
Tenho comprado boas uvas. Irei, pois, procurar por boas uvas e baratas.
O fiscal é como o Falcão que afugenta os Pombos da pista.
Ningém vende nada, ninguém compra nada.
Levo daqui um pimento, um queijo, um pão, uvas.

Caminho

Abro uma porta.
Não vejo nada.
Encontro-me numa sala,
sem tecto.

De cima entra uma luz tão limpa e clara,
branca,
como o branco das ondas a desfazerem-se na areia.

Não se vê nada.
Sinto o crepitar do fogo preso nas velas,
que iluminam o chão,
delimitando o caminho a percorrer.

quarta-feira, setembro 16, 2009

Pour Pasolini

Não sei bem porque gosto tanto desta parte de "Caro Diário", se é só pela música, se pela poesia da imagem, se pela beleza e mestria do take (começa aos 59''). Merecida homenagem.

sexta-feira, setembro 11, 2009

Na Praça

Inspirado por Calvino, nas locuções proferidas em contextos de que só ele saberá a glosa completa, venho à Praça, ao Mercado do Livramento, em busca de tesouros que, só aqui, sei poder encontrar.

Ora são os vegetais, frescos, policromados, que observo cá do alto, ora os produtos habituais, para mim, na Praça. O queijo, o pão, o peixe, talvez, fruta, e hoje coentros de certeza, para a massa de peixe de que desfrutarei por certo em casa.

Para mim, casa é em Lisboa. Um quarto, sem sala, com cozinha e pouco mais.

Que importa ao pombo o poleiro da janela, se o que lhe interessa é mesmo a pomba, ou seja, o prazer. O Desejo é o sentimento que o faz correr por entre folhas de alface, cenouras ou uvas doces.

O chá não vem, não sei que faça. Quase durmo, é preguiça. Dormir posso sempre mais tarde.

Quero um queijo, um pão, uvas, figos, coentros e salsa, cebolas se forem boas, que não façam chorar muito, também levo.

Vou procurar a menina mais bonita, que me vende estes tesouros pelos quais anseio, seja doce e bonita, nova ou velha, eu levo um conto.

Talvez amanha leve o peixe que, de certeza, me agrade.

"Cheers"

Pensando nas personagens da série, devo estar mais próximo de Cliff Clavin, o carteiro de Boston.

Não quero dizer que é o único carteiro em Boston, mas é o único que entra no Cherrs no final da ronda.

Penso em Cliff por me identificar com a personagem que pensa que sabe muita coisa, que até sabe, que pensa que são coisas interessantes para "revelar", que não são, e que pensa que eles não fazem ideia do facto que irá lançar como grande novidade.

Cliff é aquela personagem que quando é chamado para informar, ser um programa ao vivo, isto é, gravado perante um público, como se de teatro se tratasse, aviso para os tele-espectadores, claro, fá-lo convencido de que pouca gente tem conhecimento que "Cheers" é gravado perante uma audiência, viva.

Hoje sinto-me o Cliff, embora haja sempre uma parte, em cada um deles, com a qual nos identificamos, por instantes. Será esse o segredo do sucesso deste clássico?

Guernica II - Eu político me confesso

Deixando seguir a leitura jornalística, tento recordar-me então, a quais momentos vividos poderei eu vir a ser, por isso , considerado um homem político, num futuro distante, caso alguém se dê ao trabalho.
Espero que conste no testamento o meu primeiro acto consciente e recordado. Um funeral. Dia de "feriados" escolares, no ano da morte de Zeca Afonso. Entrei pela primeira vez num cemitério para assistir ao seu enterro. Teria 13, 14 anos. Que não quero fazer as contas. Para lá do caos, devido à multidão, recordo caras conhecidas a segurar a urna, ou na marcha que se fez, lenta, até à sua cova funda. O Janita?, o Vitorino, O Manuel Alegre. Acerca do último, vejo uma reportagem no "Público", a propósito da sua despedida do cargo de Deputado na Assembleia da República. Coincidências entre homens políticos? A sua despedida e a minha lembrança? Os comícios, no tempo dos comícios, não contam, que ia à Praça apenas para ver os artistas.
As manifestações contra as propinas, na 5 de Outubro, mas principalmente em frente à casa da qual o outro senhor se despede, deixaram, sem dúvida, marca profunda em mim. Também a Ponte, as portagens, as cargas policiais então muito na moda, a mando de um outro senhor que nada sabe ou de pouco se lembra.
Testamentado pode ficar também, uma participação efectiva como candidato, nas listas para a Associação de Estudantes de Ciências, a tal Lista que foi "apenas pagar" as contas da "S", mas da qual me afastei de imediato, ao ver a fome que por ali havia. Não de Feijoada mas do seu tacho.
Alegro-me (já sem referência ao senhor Deputado Poeta) apenas do facto de ter participado, como membro da Assembleia de Representantes da Universidade, na eleição do Reitor. Votei, sem problema pela franquesa, no Professor Barata-Moura. Por mais nada, os tempos da Joana que não comia o prato mas a papa foram importantes mas, à data era também o artista que ia ver. Fique ainda a participação na manifestação contra a Guerra de Invasão do Iraque (2003), no dia de aniversário de minha mãe. A figura de cartaz, de cartola à Tio Sam e pistola em riste, chamava-nos, de cara alegre (igualmente não pondo o senhor Deputado no barulho), e quer-me ainda parecer que o senhor Deputado Poeta também por lá se manifestava.
Se alguém o disser de mim, eu confirmo. Pela amostra podem imaginar o autor tão político como o artista de Guernica? Eu político me confesso.

"Guernica"

" Picasso era um artista muito mais político do que habitualmente se imagina." Segundo o artigo (P., Ípsilon, 24-07-2009), a justificação para a afirmação acima transcrita estará exposta na Tate Liverpool na próxima Primavera.
"...tudo isso estará na exposição...", sendo "isso", algo relacionado com a sua filiação no PCF, entre outros envolvimentos em causas que hoje se dizem cívicas. Certo!
Quer então dizer que há quem imagina o autor de "Guernica" outra coisa que não um homem político. Genialidade na obra faz do homem um artista e a bem do decoro público e do politicamente correcto, será bom que o homem seja apenas um artista. É a ideia de obra sem mensagem. Sem vontade de comunicar. O homem como intérprete que não tem a noção que pinta, escreve, musíca o mundo, com os seus sentidos, ainda sem a noção de que alguém será interprete posterior da sua afirmação estética.
Como eu vejo, o símbolo artístico de duas décadas de abomináveis actos, feitos pelo homem contra o homem, é Guernica. É-o por ser uma imagem do início. É-o por não ter sido suficiente, o que nela se relata, para parar de imediato a loucura humana. Desconheço o impacte na época e o momento da sua revelação. Terá a sua beleza estética encorajado a futura loucura de 20 anos?

Sobre Camões

de Fernando Pessoa in Diário de Lisboa, de 4 de Fevereiro de 1924.


"Luís de Camões"

"...
Em certo modo viveu o que cantou, sendo, assim,

o único épico que foi lírico ao sê-lo.

Essa sua singularidade, que é uma virtude,

é, como todas as virtudes, origem de vários defeitos."

Razões para...

Rossio


Para beber, o Sol.
Para sair de mim, um horizonte.
Para sentir, sofrer.

Para pensar, absorver o mundo.
Para chorar, a ausência pela morte.
Para recordar, a infância.

Para escrever, o vazio.
Para escrever, a vida.

Para sorrir, o belo.

Para rir, os amigos.

quarta-feira, agosto 26, 2009

De novo na Graça

Hoje dei uma grande volta para cá chegar.

Ao sair de casa, nem de cá voltar tinha certeza.

Hoje dei uma bonita volta, pelos bairros orientais de Lisboa.

Beato, Marvila, Xabregas, Olivais, Chelas.

Saí em busca da minha identidade perdida.

Custou-me uma fortuna. A perda. Mas voltei a encontrá-la.

Encontrada, desci à cidade para senti-la,

sentir-lhe o cheiro, o canto, o ritmo, o sentido.

Vai bem a cidade cujas praças se enchem de esplanadas cheias.

No 28, para casa, sobe-se e desce-se pelas colinas,

mas o caminho não me deixa chegar a casa.

Fica a caminho da Graça e ora que aqui fiquei.

Estando o céu encoberto por nuvens cheias, o Sol sente-se tímido.

O seu calor é levado pela brisa forte e sinto-o fraco.

Por outro lado, como a hora é já de Sol que se põe,

fica a cidade mais à vista por não sentir o seu calor nos olhos.



Estou triste por mim.

Aliviado por ter encontrado a identidade perdida.

Alegremente embriagado pela possibilidade desejada.

É a razão da minha alegria que me deixa assustado.


Temo revelar que, no fundo, a minha identidade, profunda,


permanente e nua, seja de um vazio profundamente escuro e sem sentido.

sexta-feira, julho 31, 2009

FADO LOUCO

FADO LOUCO


Fadista Louco




A ideia de existir
Um Fadista Louco
Que não 0 melhor
Nos poemas cantados
No Fado,

Ou melhor
A ideia,
De ser eu,
O "Fadista Louco",

Será a razão
Para aprender
A cantar, a cantar
O Fado,

Ou melhor,
A ser eu
Fadista, Fadista
Louco.

FADISTA LOUCO


Alberto Janes

Eu canto com os olhos bem fechados
Que o maestro dos meus fados
É quem lhes dá o condão
E assim não olho pra outros lados
Que canto de olhos fechados
Pra olhar pra o coração.


Meu coração que é fadista de outras eras
Que sonha viver quimeras
Em loucura desabrida
Meu coração, se canto, quase me mata
Pois por cada vez que bata
Rouba um pouco a minha vida

Ele e eu, cá vamos sofrendo os dois
Talvez um dia, depois dele parar pouco a pouco
Talvez alguém se lembre ainda de nós
E sinta na minha voz o que sentiu este louco.
"FADISTA LOUCO" retirado de: http://meiamaquinameiamulher.blogspot.com/, sem pedido.

quinta-feira, julho 30, 2009

O sr. Resistente

Enquanto esperava pelo autocarro enrolei um cigarro, sentado na escadaria do pequeno largo da aldeia. Deve ser este o sítio onde se espera. Pelo fim do dia, pelo fim da vida, pelo início e pelo fim da viagem.
A dois metros esperando também, estava um velho, "o resistente". O cigarro foi o seu pretexto para puxar conversa. Estavamos em igualdade de circunstâncias. Eu esperava pelo autocarro sentado, ele esperava sentado pelo fim que lhe estava reservado para a quele dia.


_Nunca apanhei o vício do cigarro_ lançou ele, _Aos 9 anos comecei a trabalhar, cavando a terra. Custava naquele tempo 12 tostões, uma porção de tabaco._ Continuou, sem que eu o interrompesse, contando que naquela altura o isqueiro era proibido. Usavam uma pedra, que raspada noutra superfície, acendia o cigarro.

_Era para descançar as costas, fumava 5 ou 6 cigarros por dia. Eram os cinco minutos do descanço. Terminou, libertando por espanto, _ Nunca apanhei o vício.

Entre trabalhar na ponte de Lisboa, vender queijos de terra em terra e o trabalho "na lavra", fez de tudo. Fugiu com o pai de setúbal para a Comporta, por ser o seu velho Comunista e parecia agora fazer de memória viva da aldeia.

A aldeia da comporta está, hoje, maior. Mais casas de aluguer, mais turismo, mais gente. Há trinta anos tinha tudo isto mas em menor dimensão. As minhas recordações desses tempos são de uma época em que não se esperava por nada.

Desfrutava-se do Verão, das brincadeiras de criança, ao ritmo dos mais crescidos, sempre a lembrar-nos da hora de jantar, de tomar banho, dormir e da hora de parar de sonhar.

Afinal, o sr. Resistente e eu temos, como sempre e com todos, tudo isto em comum. Esperamos, sentados, pelo início da próxima viagem, recordando o tempo que passou.

Tendo escolhido aquela aldeia como refúgio para continuar a resistir, não sendo filho da terra, conhecia todos os que tinham um nome ligado à terra. Da minha madrinha dizia ser um amor de pessoa e que até lhe tinha feito uns cortinados que ainda lhe decoram a sala. Pareceu-me ser a única pessoa de quem tem uma boa recordação. Com o autocarro chegou o momento da despedida.

Boa Tarde.

sexta-feira, julho 03, 2009

DEMOCRACIA

«A bandeira reflecte a paisagem imunda e a nossa gíria abafa o som do tambor.

«Nos centros alimentaremos a mais cínica prostituição. massacraremos as revoltas lógicas.

«Às terras aromáticas e dóceis! _ ao serviço das mais monstruosas explorações industriais ou militares.

«Até mais ver!, não importa onde. Recrutas do próprio querer, teremos a filosofia feroz; inaptos para a ciência, esgotados para o conforto; e que os outros rebentem. Este é o caminho. Em frente, marcha!»



tra-i-du-ção de Mário Cesariny, do poema DÉMOCRATIE, de Jean-Arthur RIMBAUD

sexta-feira, fevereiro 06, 2009