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Disse poiares Maduro, que
"aqueles que nos levaram ao tapete, procuram de novo fazer Política, uma forma diferente, mas é fazer Política; e criam de novo uma realidade alternativa. Agora, como estudaram filosofia, isto até tem uma expressão em termos filosóficos, chamam-lhe narrativa. Passa-se por Paris e subitamente fica-se mais sofisticado. A narrativa (dito de dedo no ar), o que é um paradoxo, para quem conhece filosofia, a narrativa é a construção de uma realidade que não existe. É particularmente Adacre que, quem usa essa expressão, que se refira a ela dessa forma. Mas é uma realidade falsa, mas que, constantemente repetida, procura passar pela verdade. Mas o país não pode viver de narrativas!", com as eleições em mira.
Em Mira, o ministro foi recebido com protestos. A notícia diz que, apesar dos protestos, Maduro conseguiu discursar. A notícia, lida na RTP, e que conta com um vídeo, não nos diz no entanto quem recebeu Miguel Poiares, maduro. Deslocou-se no no passado sábado, ao Concelho de Mira, para falar a militantes do PSD, no âmbito da preparação das próximas eleições Autárquicas. Pelo que se depreende que, Miguel Poiares Maduro, quer seja no papel de ministro da República, quer seja no de simpatizante ou apoiante de alguma candidatura, ou ainda simplesmente no de homem Político, tem algo a dizer ao Partido Social Democrata. Tem para lhes dizer, jogando o jogo da política que consegue fazer milagres, não assentar bem a Sócrates defender a sua narrativa. Vem assim, uma vez que está a fazer politiquice, substituir o argumento de Sócrates pela sua retórica política em vésperas de eleições.
A Sócrates, por estar-lhe vedada a ideia de poder fazer de novo política, não cabe contar-nos a sua, sempre pessoalmente distorcida, leitura do presente, usando para isso o seu conhecimento íntimo do passado tal como o seu desconhecimento. Se Sócrates está a usar a narrativa mais adequada para ler os últimos anos em Portugal e na Europa não está aqui em causa.
Sócrates, o que "nos levou ao tapete", exerce semanalmente a sua função de cidadão. De acordo com os critérios editoriais da RTP haverá interesse em ouvir a voz desta personagem da vida política recente. Tal como a cada um dos mortais, o papel que desempenha é uma semi-obrigação com algum carácter optativo. Talvez para aqueles que se satisfaçam com uma Democracia Representativa, sem escrutínio para lá do ato eletivo, isso baste. Estão tranquilos os conservadores, a vida não os obriga a procurar mudanças significativas, preferem preservar o status quo,.
As formas participativas de fazer política, reconhecem e consideram a existência de grupos de interesse potencialmente influenciadores dos partidos políticos. No final esse exercer de influência pode ajudar a moldar as políticas públicas escolhidas pelo poder executivo eleito. Atualmente, entre os grupos de interesse figuram empresas transnacionais, organismos internacionais, burocracias instaladas, tribunais de foro nacional e supranacional. Pouco ou nenhum lugar há para os cidadãos expressarem a sua voz, no que diretamente lhes interessa, fora dos circuitos semi-fechados que são os partidos políticos. Ou não trazem a sua narrativa para a discussão ou a narrativa contrária ao poder é consecutivamente classificada de protesto ou incidente. Numa boa ficção, trata-se de levantar um anti-herói. Sem Heitor o que seria de Aquiles? Sem Agamemnon conheceríamos nós Electra? Quem são hoje as Antigonas? Para que queremos nós valores políticos?
A ausência de valores, de um determinado jogo de valores, era o papel do Niilismo. Mas não lhe cabia o papel de cárcere. Era suposto dele sair um homem novo. Feito de valores por si eleitos como os melhores para si e para os seus concidadãos. Aos fracos cabia o papel de destruir em vez de criar, ou então o se deixar ficar preso, prolongando assim a existência ao seu guarda. Esta é também a opção dos que se perderam no modernismo do centro comercial.
Parte das pressões ou simples manifestações de interesses expressas por empresários, banqueiros e ideólogos favorecem uma narrativa económica, financeira e política. A sua intensão nunca é prejudicar-se nos seus interesses. Não faz parte da natureza do grupo de interesse dar tiros no pé, falhar a mira. Seja um grupo maioritário ou minoritário, todo o grupo de interesse, que pode até ser apenas uma só pessoa, pretende que lhe seja dado o direito de fazer algo em seu benefício; de exercer certo tipo de atividade económica, que a sua ideia seja contemplada no desenhar da política pública. Quer seja por regulamento, ou por eliminação de regulamento em vigor. Por regulação ou por afrouxar essa regulação.
Acerta portanto Miguel Poiares Maduro, quando reconhece que há várias formas de fazer política. Penso que se identifica com a narrativa de dividir a política em três dimensões. A da estrutura política, a da política como um processo e a dos resultados após aplicação. A narrativa alheia, quando classificada de construção de realidade alternativa, passa a falsidade por ser uma construção quando baseada numa fé. Tem-se fé de que é assim. Não se sabe bem como explicar, não se compreende na totalidade o processo, o fenómeno ou até a estrutura.
Existem posições a favor e contra, a validade da narrativa. Como processo metodológico de compreensão da realidade, está limitado pelo tempo empregue na recolha de dados. Quanto mais tempo melhor mas, mais tempo também significa maior distancia em relação ao fato em análise. Não só distancia temporal como também distanciamento. A utilização de personagens e de um enredo com a existência ou não de um público, obrigam ao distanciamento necessário para a reflexão, no ato da construção da narrativa. O tempo apenas altera a realidade porque a vida conta-se em todos os segundos. Cada segundo conta.
A crítica à excessiva quantidade de tempo necessária para a recolha de dados é uma crítica impulsionada pela economia de tempo mas também pela preguiça. Usada de forma adequada, a narrativa é um método tão válido como qualquer outro método do processo político. Se sujeita a regras, pode ser incorporada em teorias existentes e em modos de ver a realidade, em ideologias, em novas normas, em novos regulamentos. As narrativas podem ser utilizadas para estabelecer consensos, para favorecer a difusão de políticas, para por fim, levar à adoção de determinada política pública. Não há outro fim para a política que não seja a da adoção de políticas públicas. Na literatura sobre políticas públicas, a narrativa aclara como e porquê os dados são interpretados e transformados em novos regulamentos, no ato de regulação. Quando ouvimos falar em ausência de regulação, todas as narrativas contam ou contaram. A própria ausência faz parte de uma narrativa que foi contada a quem tem o poder de decidir. Não é necessariamente a mesma narrativa que, aquele que tem o poder de decidir, expõe publicamente. Basta alguma imaginação para abrir as possibilidades de interpretação de um regulamento. Se ninguém se queixar, pode até ser uma possibilidade muito lucrativa. Poucos são os regulamentos que se auto-denunciam. O ato de protestar não deveria nunca ser classificado como um incidente em política.
Para os pós-estruturalistas a crítica era direcionada essencialmente para as metanarrativas, pelo seu perigo totalizador. Mas isso já é Filosofia e isso é outra coisa. Os homens providenciais, ou que se acham como tal, são os mais perigosos. É para eles que devemos olhar com maior atenção, para nos precavermos da deriva ditatorial. As avaliações de conjunto só são perigosas se baseadas em fracos valores.
Por ausência de políticas públicas que se conheçam, o ministro Poiares Maduro assume todas as que herda de Relvas. Veio mais tarde mas assinou por baixo todas as anteriores decisões do Governo. Falou em estabelecimento de consensos mas nega o valor das narrativas para a eles poder chegar. É já um homem do aparelho partidário.
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