sexta-feira, setembro 11, 2009

Na Praça

Inspirado por Calvino, nas locuções proferidas em contextos de que só ele saberá a glosa completa, venho à Praça, ao Mercado do Livramento, em busca de tesouros que, só aqui, sei poder encontrar.

Ora são os vegetais, frescos, policromados, que observo cá do alto, ora os produtos habituais, para mim, na Praça. O queijo, o pão, o peixe, talvez, fruta, e hoje coentros de certeza, para a massa de peixe de que desfrutarei por certo em casa.

Para mim, casa é em Lisboa. Um quarto, sem sala, com cozinha e pouco mais.

Que importa ao pombo o poleiro da janela, se o que lhe interessa é mesmo a pomba, ou seja, o prazer. O Desejo é o sentimento que o faz correr por entre folhas de alface, cenouras ou uvas doces.

O chá não vem, não sei que faça. Quase durmo, é preguiça. Dormir posso sempre mais tarde.

Quero um queijo, um pão, uvas, figos, coentros e salsa, cebolas se forem boas, que não façam chorar muito, também levo.

Vou procurar a menina mais bonita, que me vende estes tesouros pelos quais anseio, seja doce e bonita, nova ou velha, eu levo um conto.

Talvez amanha leve o peixe que, de certeza, me agrade.

"Cheers"

Pensando nas personagens da série, devo estar mais próximo de Cliff Clavin, o carteiro de Boston.

Não quero dizer que é o único carteiro em Boston, mas é o único que entra no Cherrs no final da ronda.

Penso em Cliff por me identificar com a personagem que pensa que sabe muita coisa, que até sabe, que pensa que são coisas interessantes para "revelar", que não são, e que pensa que eles não fazem ideia do facto que irá lançar como grande novidade.

Cliff é aquela personagem que quando é chamado para informar, ser um programa ao vivo, isto é, gravado perante um público, como se de teatro se tratasse, aviso para os tele-espectadores, claro, fá-lo convencido de que pouca gente tem conhecimento que "Cheers" é gravado perante uma audiência, viva.

Hoje sinto-me o Cliff, embora haja sempre uma parte, em cada um deles, com a qual nos identificamos, por instantes. Será esse o segredo do sucesso deste clássico?

Guernica II - Eu político me confesso

Deixando seguir a leitura jornalística, tento recordar-me então, a quais momentos vividos poderei eu vir a ser, por isso , considerado um homem político, num futuro distante, caso alguém se dê ao trabalho.
Espero que conste no testamento o meu primeiro acto consciente e recordado. Um funeral. Dia de "feriados" escolares, no ano da morte de Zeca Afonso. Entrei pela primeira vez num cemitério para assistir ao seu enterro. Teria 13, 14 anos. Que não quero fazer as contas. Para lá do caos, devido à multidão, recordo caras conhecidas a segurar a urna, ou na marcha que se fez, lenta, até à sua cova funda. O Janita?, o Vitorino, O Manuel Alegre. Acerca do último, vejo uma reportagem no "Público", a propósito da sua despedida do cargo de Deputado na Assembleia da República. Coincidências entre homens políticos? A sua despedida e a minha lembrança? Os comícios, no tempo dos comícios, não contam, que ia à Praça apenas para ver os artistas.
As manifestações contra as propinas, na 5 de Outubro, mas principalmente em frente à casa da qual o outro senhor se despede, deixaram, sem dúvida, marca profunda em mim. Também a Ponte, as portagens, as cargas policiais então muito na moda, a mando de um outro senhor que nada sabe ou de pouco se lembra.
Testamentado pode ficar também, uma participação efectiva como candidato, nas listas para a Associação de Estudantes de Ciências, a tal Lista que foi "apenas pagar" as contas da "S", mas da qual me afastei de imediato, ao ver a fome que por ali havia. Não de Feijoada mas do seu tacho.
Alegro-me (já sem referência ao senhor Deputado Poeta) apenas do facto de ter participado, como membro da Assembleia de Representantes da Universidade, na eleição do Reitor. Votei, sem problema pela franquesa, no Professor Barata-Moura. Por mais nada, os tempos da Joana que não comia o prato mas a papa foram importantes mas, à data era também o artista que ia ver. Fique ainda a participação na manifestação contra a Guerra de Invasão do Iraque (2003), no dia de aniversário de minha mãe. A figura de cartaz, de cartola à Tio Sam e pistola em riste, chamava-nos, de cara alegre (igualmente não pondo o senhor Deputado no barulho), e quer-me ainda parecer que o senhor Deputado Poeta também por lá se manifestava.
Se alguém o disser de mim, eu confirmo. Pela amostra podem imaginar o autor tão político como o artista de Guernica? Eu político me confesso.

"Guernica"

" Picasso era um artista muito mais político do que habitualmente se imagina." Segundo o artigo (P., Ípsilon, 24-07-2009), a justificação para a afirmação acima transcrita estará exposta na Tate Liverpool na próxima Primavera.
"...tudo isso estará na exposição...", sendo "isso", algo relacionado com a sua filiação no PCF, entre outros envolvimentos em causas que hoje se dizem cívicas. Certo!
Quer então dizer que há quem imagina o autor de "Guernica" outra coisa que não um homem político. Genialidade na obra faz do homem um artista e a bem do decoro público e do politicamente correcto, será bom que o homem seja apenas um artista. É a ideia de obra sem mensagem. Sem vontade de comunicar. O homem como intérprete que não tem a noção que pinta, escreve, musíca o mundo, com os seus sentidos, ainda sem a noção de que alguém será interprete posterior da sua afirmação estética.
Como eu vejo, o símbolo artístico de duas décadas de abomináveis actos, feitos pelo homem contra o homem, é Guernica. É-o por ser uma imagem do início. É-o por não ter sido suficiente, o que nela se relata, para parar de imediato a loucura humana. Desconheço o impacte na época e o momento da sua revelação. Terá a sua beleza estética encorajado a futura loucura de 20 anos?

Sobre Camões

de Fernando Pessoa in Diário de Lisboa, de 4 de Fevereiro de 1924.


"Luís de Camões"

"...
Em certo modo viveu o que cantou, sendo, assim,

o único épico que foi lírico ao sê-lo.

Essa sua singularidade, que é uma virtude,

é, como todas as virtudes, origem de vários defeitos."

Razões para...

Rossio


Para beber, o Sol.
Para sair de mim, um horizonte.
Para sentir, sofrer.

Para pensar, absorver o mundo.
Para chorar, a ausência pela morte.
Para recordar, a infância.

Para escrever, o vazio.
Para escrever, a vida.

Para sorrir, o belo.

Para rir, os amigos.

quarta-feira, agosto 26, 2009

De novo na Graça

Hoje dei uma grande volta para cá chegar.

Ao sair de casa, nem de cá voltar tinha certeza.

Hoje dei uma bonita volta, pelos bairros orientais de Lisboa.

Beato, Marvila, Xabregas, Olivais, Chelas.

Saí em busca da minha identidade perdida.

Custou-me uma fortuna. A perda. Mas voltei a encontrá-la.

Encontrada, desci à cidade para senti-la,

sentir-lhe o cheiro, o canto, o ritmo, o sentido.

Vai bem a cidade cujas praças se enchem de esplanadas cheias.

No 28, para casa, sobe-se e desce-se pelas colinas,

mas o caminho não me deixa chegar a casa.

Fica a caminho da Graça e ora que aqui fiquei.

Estando o céu encoberto por nuvens cheias, o Sol sente-se tímido.

O seu calor é levado pela brisa forte e sinto-o fraco.

Por outro lado, como a hora é já de Sol que se põe,

fica a cidade mais à vista por não sentir o seu calor nos olhos.



Estou triste por mim.

Aliviado por ter encontrado a identidade perdida.

Alegremente embriagado pela possibilidade desejada.

É a razão da minha alegria que me deixa assustado.


Temo revelar que, no fundo, a minha identidade, profunda,


permanente e nua, seja de um vazio profundamente escuro e sem sentido.

sexta-feira, julho 31, 2009

Vampire Weekend - Walcott

Eu sempre gostei mais desta...

Lendo "LORD JIM",

" You are so subtle, Marlow."
"Who? I? said Marlow in a low voice.
"Oh, no! But he was; and try as I may for the success of this yarn
I am missing innumerable shades - they were so fine, so difficult
to render in colourless words.

e J. Conrad continua,

Because he complicated matters by being so simple, too - the simplest poor devil!
By Jove! ...

FADO LOUCO

FADO LOUCO


Fadista Louco




A ideia de existir
Um Fadista Louco
Que não 0 melhor
Nos poemas cantados
No Fado,

Ou melhor
A ideia,
De ser eu,
O "Fadista Louco",

Será a razão
Para aprender
A cantar, a cantar
O Fado,

Ou melhor,
A ser eu
Fadista, Fadista
Louco.

FADISTA LOUCO


Alberto Janes

Eu canto com os olhos bem fechados
Que o maestro dos meus fados
É quem lhes dá o condão
E assim não olho pra outros lados
Que canto de olhos fechados
Pra olhar pra o coração.


Meu coração que é fadista de outras eras
Que sonha viver quimeras
Em loucura desabrida
Meu coração, se canto, quase me mata
Pois por cada vez que bata
Rouba um pouco a minha vida

Ele e eu, cá vamos sofrendo os dois
Talvez um dia, depois dele parar pouco a pouco
Talvez alguém se lembre ainda de nós
E sinta na minha voz o que sentiu este louco.
"FADISTA LOUCO" retirado de: http://meiamaquinameiamulher.blogspot.com/, sem pedido.

quinta-feira, julho 30, 2009

O sr. Resistente

Enquanto esperava pelo autocarro enrolei um cigarro, sentado na escadaria do pequeno largo da aldeia. Deve ser este o sítio onde se espera. Pelo fim do dia, pelo fim da vida, pelo início e pelo fim da viagem.
A dois metros esperando também, estava um velho, "o resistente". O cigarro foi o seu pretexto para puxar conversa. Estavamos em igualdade de circunstâncias. Eu esperava pelo autocarro sentado, ele esperava sentado pelo fim que lhe estava reservado para a quele dia.


_Nunca apanhei o vício do cigarro_ lançou ele, _Aos 9 anos comecei a trabalhar, cavando a terra. Custava naquele tempo 12 tostões, uma porção de tabaco._ Continuou, sem que eu o interrompesse, contando que naquela altura o isqueiro era proibido. Usavam uma pedra, que raspada noutra superfície, acendia o cigarro.

_Era para descançar as costas, fumava 5 ou 6 cigarros por dia. Eram os cinco minutos do descanço. Terminou, libertando por espanto, _ Nunca apanhei o vício.

Entre trabalhar na ponte de Lisboa, vender queijos de terra em terra e o trabalho "na lavra", fez de tudo. Fugiu com o pai de setúbal para a Comporta, por ser o seu velho Comunista e parecia agora fazer de memória viva da aldeia.

A aldeia da comporta está, hoje, maior. Mais casas de aluguer, mais turismo, mais gente. Há trinta anos tinha tudo isto mas em menor dimensão. As minhas recordações desses tempos são de uma época em que não se esperava por nada.

Desfrutava-se do Verão, das brincadeiras de criança, ao ritmo dos mais crescidos, sempre a lembrar-nos da hora de jantar, de tomar banho, dormir e da hora de parar de sonhar.

Afinal, o sr. Resistente e eu temos, como sempre e com todos, tudo isto em comum. Esperamos, sentados, pelo início da próxima viagem, recordando o tempo que passou.

Tendo escolhido aquela aldeia como refúgio para continuar a resistir, não sendo filho da terra, conhecia todos os que tinham um nome ligado à terra. Da minha madrinha dizia ser um amor de pessoa e que até lhe tinha feito uns cortinados que ainda lhe decoram a sala. Pareceu-me ser a única pessoa de quem tem uma boa recordação. Com o autocarro chegou o momento da despedida.

Boa Tarde.

segunda-feira, julho 13, 2009

Então sua Magestade?!



Então sua Magestade?




Sr. Galtung,


Let's start a petiton for global voting on one "first" global issue, even if climate change claimers are wrong, no one loses.


At the end, it's
Gaussian...The way richness is spread!




By Johan Galtung - 13 Jul 09

We find it all over, right now in the streets of Tegucigalpa, Tehran, Urumqi; as massive killing in connection with US-Allies attacks on Iraq, Afghanistan and Somalia, and elsewhere. There will probably be much more, looking at the world conflict maps.

Politically, each nation ruled not by its own kind but by some "majority", however sharing, distributive, democratic, but of some other kind--and there are very many of them, at least 1,900-- produces victims of violence, with huge potential for many more.

Economically, all the victims of a brutal capitalism, and it is exactly that, capital-ism, transporting capital upward from low to high making low lower and high higher so they die at the bottom and speculate the system into crisis at the top. Again, there are very many of these victims, so far at the bottom. But the system is so insane, and the focus on "bailout" rather than "stimulus" makes it even more so that major revolutions are highly likely.

Militarily, we have the new military order, the postmodern warfare between state terrorism and terrorism with civilians--women, children, the old--not as "collateral damage" but as targets. And once again, there are very many of those victims.

Culturally,
the major clash of civilizations, the Christian attack on the rest of the world since 1492, making evangelism a part of the general colonial-imperial package perpetrated on the world, is abating. But that a clash produce counter-clashes, particularly in the light of all the above, stands to reason.

Socially,
the direct and structural violence against women, as unborn, newborn, as children, for trafficking, sexualized violence and violent sex, as exploited labor all over inside and outside marriage, are rampant and have been so for a long time. Not strange that so many women preferred monastery to marriage.

And yet why that much violence right now?

Easy access to arms is one. The major arms producers are the veto powers in the UN. Judged by their long entries under human rights--except for France--in Amnesty International 2009 report, they are also major producers of anti-human crimes. This does not pass unnoticed, and their veto-right makes the UN increasingly not only irrelevant but counterproductive, on the way to oblivion.

Education is a second. Literacy is increasing enormously and one consequence is access to information that makes death by starvation or preventable-curable diseases not look inevitable, but the product of totally unacceptable economies. People all over the world read and watch information about the economic crisis also hitting the rich and draw their conclusion: this is man-made, exactly by men; hence avoidable, not a law of nature.

Human rights-democracy is a third. There is so much talk about the right to be master of one's own destiny, to decide in matters concerning oneself, that people and peoples all over the world want to go beyond rhetoric. That rhetoric was decisive in the struggle against an institution run by leading democracies, colonialism: the inconcistency was too flagrant. The same applies to the internal colonization of all those "minorities"--"" because this is about power and rights, not numbers--around the world.

Neo-religious awakening is a fourth. Less theocratic and dogmatic, more normative, making religious correctness political correctness; not excluding such secular values as education and human rights-democracy, not only in the Christian but also in the Islamic and other worlds. Those who believed that not only God but also religion was dead underestimated the religions as huge reservoirs of human wisdom about rights and obligations, with no secular substitutes able to produce equally compelling norms.

Woman emancipation is a fifth,
producing a backlash. As Göran Therborn says in his brilliant global history-sociology, Between Sex and Power: Family in the World, 1900-2000, by 2000 patriarchy had become "the big loser of the twentieth century". Once it was aristocracy, they hit back, like in Europe. Then the capitalist class, they hit back, like in and from the USA. Will men, unprepared for this, accept their abdication hands down?

But we need, we must have, education, human rights-democracy, women emancipation! And we cannot accept religious superstition with a divine mandate to kill believed in by so many adherents of the Abrahamic religions, Judaism-Christianity-Islam! Sure, but be aware that these four propositions are revolutionary in their implications. They carry new deals of cards in their wake, and holders of the old losing cards do not take that prospect gladly.

When the world's leading powers can get away with their violence and means thereof with impunity, even protected by a veto, we should not be surprised if many draw the conclusion that violence cannot be that wrong. If they resort to violence to uphold their privileges we should not be surprised if others use violence to obtain some. If they do not even have concepts of conflict resolution but see the goals by others as illegitimate at best and as rhetoric to conceal their evil nature at worst, then how do we get what humanity so much needs, a culture of conflict resolution as a part of a more general culture of peace? Even more important than control of arms and abolition of veto power. Instead we get an ICC twisted into an African Criminal Court run by the worst of the colonizers, the Dutch.

Yes, there is today less warfare among states. But much more among classes, nations, faiths and genders, aided by a fading state system. And other systems enter, with the habits of the old.



sexta-feira, julho 03, 2009

DEMOCRACIA

«A bandeira reflecte a paisagem imunda e a nossa gíria abafa o som do tambor.

«Nos centros alimentaremos a mais cínica prostituição. massacraremos as revoltas lógicas.

«Às terras aromáticas e dóceis! _ ao serviço das mais monstruosas explorações industriais ou militares.

«Até mais ver!, não importa onde. Recrutas do próprio querer, teremos a filosofia feroz; inaptos para a ciência, esgotados para o conforto; e que os outros rebentem. Este é o caminho. Em frente, marcha!»



tra-i-du-ção de Mário Cesariny, do poema DÉMOCRATIE, de Jean-Arthur RIMBAUD

quarta-feira, maio 20, 2009

Precários

Talvez esta imagem da realidade europeia ajude a perceber por que razão, em Espanha, o desemprego disparou para quase 20%. Quando a economia não cresce imagine quem desempenha o papel de mexilhão? A mobilidade não é só entre empregos. Muitas vezes é entre ter ou não ter.
Os precários Fonte: Eurostat

sábado, abril 25, 2009

Sim! Eu voto! E tu?

sábado, fevereiro 07, 2009

Esperanças concretas em sistemas que se mudam por dentro?

Desde o tempo das tragédias gregas que a transmissão de ideias é feita enquanto se entretém. Há algo de sublime nesta verdadeira estratégia de contágio. Sentem-nos. Que se faça escuro. Deixemo-los confortáveis e disponíveis. Agora, como quem embala uma criança, vão-se contando as novidades e abrindo as mentes. Processo antigo e a que hoje se chama cultura. Poderoso e perigoso nas mãos erradas. Podemos encontrar sociedades pujantes onde se valoriza a cultura. Podemos nas outras? Afinal o Renascimento só nos trouxe os mestres antigos e calados por instituições de divulgação cultural mais seguras nas trevas da ignorância.

Talvez o conhecimento do que significa a mudança ajudasse para compreender ao que se alude quando de mudança se fala. Aliás era bom saber que a mudança já aconteceu. Como seria possível a eleição de alguém sem o apoio de um partido e sobretudo sem a legal ajuda de financiamentos interessados nas suas causas particulares, que minam a saúde das democracias? Neste caso parece que se deve à esperança.

Para quem vota e sobretudo para quem vota num improvável vencedor é mesmo, a esperança, a única coisa que se pode ter numa democracia. Discutem-se ideias sendo estas opostas por vezes, parecidas noutras, sendo sempre igual o objectivo. O debate que interessa, é o das ideias. A medida do acomodamento ao sistema em vigor vê-se bem pela falta destas.

O caminho das ideias é muito comprido. Para uma boa parte a carga tornou-se demasiado pesada tendo lançado fora o lastro do conhecimento. Também há quem diga que nestes tempos confusos o mais sensato será mesmo repetir as ideias afirmadas no passado, para evitar enganos de trajectória. Goste-se ou não da ideia de democracia, quem nos garante que ela está para ficar? Quantas constituições foram postas na gaveta para dar lugar à escuridão da arbitrariedade e ao abismo da guerra? É sensato defender o menos mau dos sistemas.

É possível melhorar todo e qualquer sistema pelo simples facto de ser uma construção humana. A selecção natural fê-lo por nós.

Se não for pelo sentido de responsabilidade, a que ninguém está obrigado, pode ser pelo desejo de viver, pelo instinto de sobrevivência. A história pode-se prestar às mais variadas leituras mas saibamos que o passado pesa tanto mais quanto mais fundo se escava. Tenho uma forte e cândida esperança em que a consciência do passado não se tenha apagado nesta geração que cresceu com os diversos saneamentos da história. Posso questionar uma leitura mas isso nunca apagará o passado.

O nosso tempo é caracterizado pela falta de memória aos mais diversos níveis. Alguns de nós têm acesso a um mundo de informação, ilusoriamente imaginado como eternamente ao alcance de um clique. Já não vamos a bibliotecas, já não memorizamos nada. Se ainda temos essa capacidade porque não a usamos? Ainda nos arriscamos a ficar conhecidos como a época do esquecimento.

Há oito anos vivia-se a crise da bolha especulativa Nasdaquiana. O financiamento das TIC, muito em voga à data, permitiu o rápido crescimento de empresas baseadas em conhecimento. O rebentar dessa bolha de especulação aliado à entrada da China nos mercados globais (de forma mais alargada), veio por a nu as fragilidades de algumas economias. O que erra é sempre a política. A economia não existe para tornar a vida difícil a uns quantos de nós, ela existe porque a vida nunca foi fácil. Gerir a escassez? Claro. As opções não referendadas, ou pior, não anunciadas, deixou alguns desprotegidos e pouco preparados para perceber o que está a acontecer. Queixarmo-nos de políticos é fácil mas, a propósito, qual é a queixa concreta que tem a apontar? Qual foi a decisão que teria impedido? Difícil de apontar por certo.
Ouvi em tempos a tese de só terem ocorrido duas verdadeiras revoluções com implicações na vida social, a passagem para a idade do cobre, e a revolução industrial. De comum percebe-se o cariz tecnológico associado à mudança. Escrever, ler, ouvir, são coisas que podemos fazer há muito tempo, usando agora computadores e a rede.

Se um mundo novo surgir desta crise, talvez seja pelo potencial de utilização de outras fontes de energia, que permitem e podem transformar a sociedade. Não tenhamos dúvidas de que essa escolha será feita pelos que elegermos. Será todo um mundo novo mas não ainda o que Ridley Scott projecta para 2019. As possibilidades de progresso não nos levarão, para já, a habitar outros planetas mas a “reforma infalível” de alguns usos, pode estar mais próxima.

sexta-feira, fevereiro 06, 2009

sábado, janeiro 31, 2009

The Great Illusion

The Great Illusion

By PAUL KRUGMAN
Published: August 14, 2008

So far, the international economic consequences of the war in the Caucasus have been fairly minor, despite Georgia’s role as a major corridor for oil shipments. But as I was reading the latest bad news, I found myself wondering whether this war is an omen — a sign that the second great age of globalization may share the fate of the first.

If you’re wondering what I’m talking about, here’s what you need to know: our grandfathers lived in a world of largely self-sufficient, inward-looking national economies — but our great-great grandfathers lived, as we do, in a world of large-scale international trade and investment, a world destroyed by nationalism.

Writing in 1919, the great British economist John Maynard Keynes described the world economy as it was on the eve of World War I. “The inhabitant of London could order by telephone, sipping his morning tea in bed, the various products of the whole earth ... he could at the same moment and by the same means adventure his wealth in the natural resources and new enterprises of any quarter of the world.”

And Keynes’s Londoner “regarded this state of affairs as normal, certain, and permanent, except in the direction of further improvement ... The projects and politics of militarism and imperialism, of racial and cultural rivalries, of monopolies, restrictions, and exclusion ... appeared to exercise almost no influence at all on the ordinary course of social and economic life, the internationalization of which was nearly complete in practice.”

But then came three decades of war, revolution, political instability, depression and more war. By the end of World War II, the world was fragmented economically as well as politically. And it took a couple of generations to put it back together.
So, can things fall apart again? Yes, they can.

Consider how things have played out in the current food crisis. For years we were told that self-sufficiency was an outmoded concept, and that it was safe to rely on world markets for food supplies. But when the prices of wheat, rice and corn soared, Keynes’s “projects and politics” of “restrictions and exclusion” made a comeback: many governments rushed to protect domestic consumers by banning or limiting exports, leaving food-importing countries in dire straits.

And now comes “militarism and imperialism.” By itself, as I said, the war in Georgia isn’t that big a deal economically. But it does mark the end of the Pax Americana — the era in which the United States more or less maintained a monopoly on the use of military force. And that raises some real questions about the future of globalization.

Most obviously, Europe’s dependence on Russian energy, especially natural gas, now looks very dangerous — more dangerous, arguably, than its dependence on Middle Eastern oil. After all, Russia has already used gas as a weapon: in 2006, it cut off supplies to Ukraine amid a dispute over prices.

And if Russia is willing and able to use force to assert control over its self-declared sphere of influence, won’t others do the same? Just think about the global economic disruption that would follow if China — which is about to surpass the United States as the world’s largest manufacturing nation — were to forcibly assert its claim to Taiwan.

Some analysts tell us not to worry: global economic integration itself protects us against war, they argue, because successful trading economies won’t risk their prosperity by engaging in military adventurism. But this, too, raises unpleasant historical memories.
Shortly before World War I another British author, Norman Angell, published a famous book titled “The Great Illusion,” in which he argued that war had become obsolete, that in the modern industrial era even military victors lose far more than they gain. He was right — but wars kept happening anyway.

So are the foundations of the second global economy any more solid than those of the first? In some ways, yes. For example, war among the nations of Western Europe really does seem inconceivable now, not so much because of economic ties as because of shared democratic values.
Much of the world, however, including nations that play a key role in the global economy, doesn’t share those values. Most of us have proceeded on the belief that, at least as far as economics goes, this doesn’t matter — that we can count on world trade continuing to flow freely simply because it’s so profitable. But that’s not a safe assumption. Angell was right to describe the belief that conquest pays as a great illusion. But the belief that economic rationality always prevents war is an equally great illusion. And today’s high degree of global economic interdependence, which can be sustained only if all major governments act sensibly, is more fragile than we imagine.