sexta-feira, setembro 11, 2009
Na Praça
Ora são os vegetais, frescos, policromados, que observo cá do alto, ora os produtos habituais, para mim, na Praça. O queijo, o pão, o peixe, talvez, fruta, e hoje coentros de certeza, para a massa de peixe de que desfrutarei por certo em casa.
Para mim, casa é em Lisboa. Um quarto, sem sala, com cozinha e pouco mais.
Que importa ao pombo o poleiro da janela, se o que lhe interessa é mesmo a pomba, ou seja, o prazer. O Desejo é o sentimento que o faz correr por entre folhas de alface, cenouras ou uvas doces.
O chá não vem, não sei que faça. Quase durmo, é preguiça. Dormir posso sempre mais tarde.
Quero um queijo, um pão, uvas, figos, coentros e salsa, cebolas se forem boas, que não façam chorar muito, também levo.
Vou procurar a menina mais bonita, que me vende estes tesouros pelos quais anseio, seja doce e bonita, nova ou velha, eu levo um conto.
Talvez amanha leve o peixe que, de certeza, me agrade.
"Cheers"
Não quero dizer que é o único carteiro em Boston, mas é o único que entra no Cherrs no final da ronda.
Penso em Cliff por me identificar com a personagem que pensa que sabe muita coisa, que até sabe, que pensa que são coisas interessantes para "revelar", que não são, e que pensa que eles não fazem ideia do facto que irá lançar como grande novidade.
Cliff é aquela personagem que quando é chamado para informar, ser um programa ao vivo, isto é, gravado perante um público, como se de teatro se tratasse, aviso para os tele-espectadores, claro, fá-lo convencido de que pouca gente tem conhecimento que "Cheers" é gravado perante uma audiência, viva.
Hoje sinto-me o Cliff, embora haja sempre uma parte, em cada um deles, com a qual nos identificamos, por instantes. Será esse o segredo do sucesso deste clássico?
Guernica II - Eu político me confesso
Espero que conste no testamento o meu primeiro acto consciente e recordado. Um funeral. Dia de "feriados" escolares, no ano da morte de Zeca Afonso. Entrei pela primeira vez num cemitério para assistir ao seu enterro. Teria 13, 14 anos. Que não quero fazer as contas. Para lá do caos, devido à multidão, recordo caras conhecidas a segurar a urna, ou na marcha que se fez, lenta, até à sua cova funda. O Janita?, o Vitorino, O Manuel Alegre. Acerca do último, vejo uma reportagem no "Público", a propósito da sua despedida do cargo de Deputado na Assembleia da República. Coincidências entre homens políticos? A sua despedida e a minha lembrança? Os comícios, no tempo dos comícios, não contam, que ia à Praça apenas para ver os artistas.
As manifestações contra as propinas, na 5 de Outubro, mas principalmente em frente à casa da qual o outro senhor se despede, deixaram, sem dúvida, marca profunda em mim. Também a Ponte, as portagens, as cargas policiais então muito na moda, a mando de um outro senhor que nada sabe ou de pouco se lembra.
Testamentado pode ficar também, uma participação efectiva como candidato, nas listas para a Associação de Estudantes de Ciências, a tal Lista que foi "apenas pagar" as contas da "S", mas da qual me afastei de imediato, ao ver a fome que por ali havia. Não de Feijoada mas do seu tacho.
Alegro-me (já sem referência ao senhor Deputado Poeta) apenas do facto de ter participado, como membro da Assembleia de Representantes da Universidade, na eleição do Reitor. Votei, sem problema pela franquesa, no Professor Barata-Moura. Por mais nada, os tempos da Joana que não comia o prato mas a papa foram importantes mas, à data era também o artista que ia ver. Fique ainda a participação na manifestação contra a Guerra de Invasão do Iraque (2003), no dia de aniversário de minha mãe. A figura de cartaz, de cartola à Tio Sam e pistola em riste, chamava-nos, de cara alegre (igualmente não pondo o senhor Deputado no barulho), e quer-me ainda parecer que o senhor Deputado Poeta também por lá se manifestava.
Se alguém o disser de mim, eu confirmo. Pela amostra podem imaginar o autor tão político como o artista de Guernica? Eu político me confesso.
"Guernica"
Sobre Camões
"Luís de Camões"
"...
Em certo modo viveu o que cantou, sendo, assim,
o único épico que foi lírico ao sê-lo.
Essa sua singularidade, que é uma virtude,
é, como todas as virtudes, origem de vários defeitos."
quarta-feira, agosto 26, 2009
De novo na Graça
sexta-feira, julho 31, 2009
Lendo "LORD JIM",
"Who? I? said Marlow in a low voice.
"Oh, no! But he was; and try as I may for the success of this yarn
I am missing innumerable shades - they were so fine, so difficult
to render in colourless words.
e J. Conrad continua,
Because he complicated matters by being so simple, too - the simplest poor devil!
By Jove! ...
FADO LOUCO
Fadista Louco
A ideia de existir
Um Fadista Louco
Que não 0 melhor
Nos poemas cantados
No Fado,
Ou melhor
A ideia,
De ser eu,
O "Fadista Louco",
Será a razão
Para aprender
A cantar, a cantar
O Fado,
Ou melhor,
A ser eu
Fadista, Fadista
Louco.
quinta-feira, julho 30, 2009
O sr. Resistente
_Nunca apanhei o vício do cigarro_ lançou ele, _Aos 9 anos comecei a trabalhar, cavando a terra. Custava naquele tempo 12 tostões, uma porção de tabaco._ Continuou, sem que eu o interrompesse, contando que naquela altura o isqueiro era proibido. Usavam uma pedra, que raspada noutra superfície, acendia o cigarro._Era para descançar as costas, fumava 5 ou 6 cigarros por dia. Eram os cinco minutos do descanço. Terminou, libertando por espanto, _ Nunca apanhei o vício.
Entre trabalhar na ponte de Lisboa, vender queijos de terra em terra e o trabalho "na lavra", fez de tudo. Fugiu com o pai de setúbal para a Comporta, por ser o seu velho Comunista e parecia agora fazer de memória viva da aldeia.
A aldeia da comporta está, hoje, maior. Mais casas de aluguer, mais turismo, mais gente. Há trinta anos tinha tudo isto mas em menor dimensão. As minhas recordações desses tempos são de uma época em que não se esperava por nada.
Desfrutava-se do Verão, das brincadeiras de criança, ao ritmo dos mais crescidos, sempre a lembrar-nos da hora de jantar, de tomar banho, dormir e da hora de parar de sonhar.
Afinal, o sr. Resistente e eu temos, como sempre e com todos, tudo isto em comum. Esperamos, sentados, pelo início da próxima viagem, recordando o tempo que passou.
Tendo escolhido aquela aldeia como refúgio para continuar a resistir, não sendo filho da terra, conhecia todos os que tinham um nome ligado à terra. Da minha madrinha dizia ser um amor de pessoa e que até lhe tinha feito uns cortinados que ainda lhe decoram a sala. Pareceu-me ser a única pessoa de quem tem uma boa recordação. Com o autocarro chegou o momento da despedida.
Boa Tarde.
quarta-feira, julho 29, 2009
segunda-feira, julho 13, 2009
Sr. Galtung,
By Johan Galtung - 13 Jul 09 We find it all over, right now in the streets of Tegucigalpa, Tehran, Urumqi; as massive killing in connection with US-Allies attacks on Iraq, Afghanistan and Somalia, and elsewhere. There will probably be much more, looking at the world conflict maps. |
sexta-feira, julho 03, 2009
DEMOCRACIA
«Nos centros alimentaremos a mais cínica prostituição. massacraremos as revoltas lógicas.
«Às terras aromáticas e dóceis! _ ao serviço das mais monstruosas explorações industriais ou militares.
«Até mais ver!, não importa onde. Recrutas do próprio querer, teremos a filosofia feroz; inaptos para a ciência, esgotados para o conforto; e que os outros rebentem. Este é o caminho. Em frente, marcha!»
tra-i-du-ção de Mário Cesariny, do poema DÉMOCRATIE, de Jean-Arthur RIMBAUD
quarta-feira, maio 20, 2009
Precários
sábado, fevereiro 07, 2009
Esperanças concretas em sistemas que se mudam por dentro?
Talvez o conhecimento do que significa a mudança ajudasse para compreender ao que se alude quando de mudança se fala. Aliás era bom saber que a mudança já aconteceu. Como seria possível a eleição de alguém sem o apoio de um partido e sobretudo sem a legal ajuda de financiamentos interessados nas suas causas particulares, que minam a saúde das democracias? Neste caso parece que se deve à esperança.
Para quem vota e sobretudo para quem vota num improvável vencedor é mesmo, a esperança, a única coisa que se pode ter numa democracia. Discutem-se ideias sendo estas opostas por vezes, parecidas noutras, sendo sempre igual o objectivo. O debate que interessa, é o das ideias. A medida do acomodamento ao sistema em vigor vê-se bem pela falta destas.
O caminho das ideias é muito comprido. Para uma boa parte a carga tornou-se demasiado pesada tendo lançado fora o lastro do conhecimento. Também há quem diga que nestes tempos confusos o mais sensato será mesmo repetir as ideias afirmadas no passado, para evitar enganos de trajectória. Goste-se ou não da ideia de democracia, quem nos garante que ela está para ficar? Quantas constituições foram postas na gaveta para dar lugar à escuridão da arbitrariedade e ao abismo da guerra? É sensato defender o menos mau dos sistemas.
É possível melhorar todo e qualquer sistema pelo simples facto de ser uma construção humana. A selecção natural fê-lo por nós.
Se não for pelo sentido de responsabilidade, a que ninguém está obrigado, pode ser pelo desejo de viver, pelo instinto de sobrevivência. A história pode-se prestar às mais variadas leituras mas saibamos que o passado pesa tanto mais quanto mais fundo se escava. Tenho uma forte e cândida esperança em que a consciência do passado não se tenha apagado nesta geração que cresceu com os diversos saneamentos da história. Posso questionar uma leitura mas isso nunca apagará o passado.
O nosso tempo é caracterizado pela falta de memória aos mais diversos níveis. Alguns de nós têm acesso a um mundo de informação, ilusoriamente imaginado como eternamente ao alcance de um clique. Já não vamos a bibliotecas, já não memorizamos nada. Se ainda temos essa capacidade porque não a usamos? Ainda nos arriscamos a ficar conhecidos como a época do esquecimento.
Se um mundo novo surgir desta crise, talvez seja pelo potencial de utilização de outras fontes de energia, que permitem e podem transformar a sociedade. Não tenhamos dúvidas de que essa escolha será feita pelos que elegermos. Será todo um mundo novo mas não ainda o que Ridley Scott projecta para 2019. As possibilidades de progresso não nos levarão, para já, a habitar outros planetas mas a “reforma infalível” de alguns usos, pode estar mais próxima.
sexta-feira, fevereiro 06, 2009
sábado, janeiro 31, 2009
The Great Illusion
By PAUL KRUGMAN
Published: August 14, 2008
So far, the international economic consequences of the war in the Caucasus have been fairly minor, despite Georgia’s role as a major corridor for oil shipments. But as I was reading the latest bad news, I found myself wondering whether this war is an omen — a sign that the second great age of globalization may share the fate of the first.
If you’re wondering what I’m talking about, here’s what you need to know: our grandfathers lived in a world of largely self-sufficient, inward-looking national economies — but our great-great grandfathers lived, as we do, in a world of large-scale international trade and investment, a world destroyed by nationalism.
Writing in 1919, the great British economist John Maynard Keynes described the world economy as it was on the eve of World War I. “The inhabitant of London could order by telephone, sipping his morning tea in bed, the various products of the whole earth ... he could at the same moment and by the same means adventure his wealth in the natural resources and new enterprises of any quarter of the world.”
And Keynes’s Londoner “regarded this state of affairs as normal, certain, and permanent, except in the direction of further improvement ... The projects and politics of militarism and imperialism, of racial and cultural rivalries, of monopolies, restrictions, and exclusion ... appeared to exercise almost no influence at all on the ordinary course of social and economic life, the internationalization of which was nearly complete in practice.”
But then came three decades of war, revolution, political instability, depression and more war. By the end of World War II, the world was fragmented economically as well as politically. And it took a couple of generations to put it back together.
So, can things fall apart again? Yes, they can.
Consider how things have played out in the current food crisis. For years we were told that self-sufficiency was an outmoded concept, and that it was safe to rely on world markets for food supplies. But when the prices of wheat, rice and corn soared, Keynes’s “projects and politics” of “restrictions and exclusion” made a comeback: many governments rushed to protect domestic consumers by banning or limiting exports, leaving food-importing countries in dire straits.
And now comes “militarism and imperialism.” By itself, as I said, the war in Georgia isn’t that big a deal economically. But it does mark the end of the Pax Americana — the era in which the United States more or less maintained a monopoly on the use of military force. And that raises some real questions about the future of globalization.
Most obviously, Europe’s dependence on Russian energy, especially natural gas, now looks very dangerous — more dangerous, arguably, than its dependence on Middle Eastern oil. After all, Russia has already used gas as a weapon: in 2006, it cut off supplies to Ukraine amid a dispute over prices.
And if Russia is willing and able to use force to assert control over its self-declared sphere of influence, won’t others do the same? Just think about the global economic disruption that would follow if China — which is about to surpass the United States as the world’s largest manufacturing nation — were to forcibly assert its claim to Taiwan.
Some analysts tell us not to worry: global economic integration itself protects us against war, they argue, because successful trading economies won’t risk their prosperity by engaging in military adventurism. But this, too, raises unpleasant historical memories.
Shortly before World War I another British author, Norman Angell, published a famous book titled “The Great Illusion,” in which he argued that war had become obsolete, that in the modern industrial era even military victors lose far more than they gain. He was right — but wars kept happening anyway.
So are the foundations of the second global economy any more solid than those of the first? In some ways, yes. For example, war among the nations of Western Europe really does seem inconceivable now, not so much because of economic ties as because of shared democratic values.
Much of the world, however, including nations that play a key role in the global economy, doesn’t share those values. Most of us have proceeded on the belief that, at least as far as economics goes, this doesn’t matter — that we can count on world trade continuing to flow freely simply because it’s so profitable. But that’s not a safe assumption. Angell was right to describe the belief that conquest pays as a great illusion. But the belief that economic rationality always prevents war is an equally great illusion. And today’s high degree of global economic interdependence, which can be sustained only if all major governments act sensibly, is more fragile than we imagine.