sexta-feira, outubro 02, 2009
Caminho
Não vejo nada.
Encontro-me numa sala,
sem tecto.
De cima entra uma luz tão limpa e clara,
branca,
como o branco das ondas a desfazerem-se na areia.
Não se vê nada.
Sinto o crepitar do fogo preso nas velas,
que iluminam o chão,
delimitando o caminho a percorrer.
quarta-feira, setembro 16, 2009
Pour Pasolini
Não sei bem porque gosto tanto desta parte de "Caro Diário", se é só pela música, se pela poesia da imagem, se pela beleza e mestria do take (começa aos 59''). Merecida homenagem.
sexta-feira, setembro 11, 2009
Na Praça
Ora são os vegetais, frescos, policromados, que observo cá do alto, ora os produtos habituais, para mim, na Praça. O queijo, o pão, o peixe, talvez, fruta, e hoje coentros de certeza, para a massa de peixe de que desfrutarei por certo em casa.
Para mim, casa é em Lisboa. Um quarto, sem sala, com cozinha e pouco mais.
Que importa ao pombo o poleiro da janela, se o que lhe interessa é mesmo a pomba, ou seja, o prazer. O Desejo é o sentimento que o faz correr por entre folhas de alface, cenouras ou uvas doces.
O chá não vem, não sei que faça. Quase durmo, é preguiça. Dormir posso sempre mais tarde.
Quero um queijo, um pão, uvas, figos, coentros e salsa, cebolas se forem boas, que não façam chorar muito, também levo.
Vou procurar a menina mais bonita, que me vende estes tesouros pelos quais anseio, seja doce e bonita, nova ou velha, eu levo um conto.
Talvez amanha leve o peixe que, de certeza, me agrade.
"Cheers"
Não quero dizer que é o único carteiro em Boston, mas é o único que entra no Cherrs no final da ronda.
Penso em Cliff por me identificar com a personagem que pensa que sabe muita coisa, que até sabe, que pensa que são coisas interessantes para "revelar", que não são, e que pensa que eles não fazem ideia do facto que irá lançar como grande novidade.
Cliff é aquela personagem que quando é chamado para informar, ser um programa ao vivo, isto é, gravado perante um público, como se de teatro se tratasse, aviso para os tele-espectadores, claro, fá-lo convencido de que pouca gente tem conhecimento que "Cheers" é gravado perante uma audiência, viva.
Hoje sinto-me o Cliff, embora haja sempre uma parte, em cada um deles, com a qual nos identificamos, por instantes. Será esse o segredo do sucesso deste clássico?
Guernica II - Eu político me confesso
Espero que conste no testamento o meu primeiro acto consciente e recordado. Um funeral. Dia de "feriados" escolares, no ano da morte de Zeca Afonso. Entrei pela primeira vez num cemitério para assistir ao seu enterro. Teria 13, 14 anos. Que não quero fazer as contas. Para lá do caos, devido à multidão, recordo caras conhecidas a segurar a urna, ou na marcha que se fez, lenta, até à sua cova funda. O Janita?, o Vitorino, O Manuel Alegre. Acerca do último, vejo uma reportagem no "Público", a propósito da sua despedida do cargo de Deputado na Assembleia da República. Coincidências entre homens políticos? A sua despedida e a minha lembrança? Os comícios, no tempo dos comícios, não contam, que ia à Praça apenas para ver os artistas.
As manifestações contra as propinas, na 5 de Outubro, mas principalmente em frente à casa da qual o outro senhor se despede, deixaram, sem dúvida, marca profunda em mim. Também a Ponte, as portagens, as cargas policiais então muito na moda, a mando de um outro senhor que nada sabe ou de pouco se lembra.
Testamentado pode ficar também, uma participação efectiva como candidato, nas listas para a Associação de Estudantes de Ciências, a tal Lista que foi "apenas pagar" as contas da "S", mas da qual me afastei de imediato, ao ver a fome que por ali havia. Não de Feijoada mas do seu tacho.
Alegro-me (já sem referência ao senhor Deputado Poeta) apenas do facto de ter participado, como membro da Assembleia de Representantes da Universidade, na eleição do Reitor. Votei, sem problema pela franquesa, no Professor Barata-Moura. Por mais nada, os tempos da Joana que não comia o prato mas a papa foram importantes mas, à data era também o artista que ia ver. Fique ainda a participação na manifestação contra a Guerra de Invasão do Iraque (2003), no dia de aniversário de minha mãe. A figura de cartaz, de cartola à Tio Sam e pistola em riste, chamava-nos, de cara alegre (igualmente não pondo o senhor Deputado no barulho), e quer-me ainda parecer que o senhor Deputado Poeta também por lá se manifestava.
Se alguém o disser de mim, eu confirmo. Pela amostra podem imaginar o autor tão político como o artista de Guernica? Eu político me confesso.
"Guernica"
Sobre Camões
"Luís de Camões"
"...
Em certo modo viveu o que cantou, sendo, assim,
o único épico que foi lírico ao sê-lo.
Essa sua singularidade, que é uma virtude,
é, como todas as virtudes, origem de vários defeitos."
quarta-feira, agosto 26, 2009
De novo na Graça
sexta-feira, julho 31, 2009
Lendo "LORD JIM",
"Who? I? said Marlow in a low voice.
"Oh, no! But he was; and try as I may for the success of this yarn
I am missing innumerable shades - they were so fine, so difficult
to render in colourless words.
e J. Conrad continua,
Because he complicated matters by being so simple, too - the simplest poor devil!
By Jove! ...
FADO LOUCO
Fadista Louco
A ideia de existir
Um Fadista Louco
Que não 0 melhor
Nos poemas cantados
No Fado,
Ou melhor
A ideia,
De ser eu,
O "Fadista Louco",
Será a razão
Para aprender
A cantar, a cantar
O Fado,
Ou melhor,
A ser eu
Fadista, Fadista
Louco.
quinta-feira, julho 30, 2009
O sr. Resistente
_Nunca apanhei o vício do cigarro_ lançou ele, _Aos 9 anos comecei a trabalhar, cavando a terra. Custava naquele tempo 12 tostões, uma porção de tabaco._ Continuou, sem que eu o interrompesse, contando que naquela altura o isqueiro era proibido. Usavam uma pedra, que raspada noutra superfície, acendia o cigarro._Era para descançar as costas, fumava 5 ou 6 cigarros por dia. Eram os cinco minutos do descanço. Terminou, libertando por espanto, _ Nunca apanhei o vício.
Entre trabalhar na ponte de Lisboa, vender queijos de terra em terra e o trabalho "na lavra", fez de tudo. Fugiu com o pai de setúbal para a Comporta, por ser o seu velho Comunista e parecia agora fazer de memória viva da aldeia.
A aldeia da comporta está, hoje, maior. Mais casas de aluguer, mais turismo, mais gente. Há trinta anos tinha tudo isto mas em menor dimensão. As minhas recordações desses tempos são de uma época em que não se esperava por nada.
Desfrutava-se do Verão, das brincadeiras de criança, ao ritmo dos mais crescidos, sempre a lembrar-nos da hora de jantar, de tomar banho, dormir e da hora de parar de sonhar.
Afinal, o sr. Resistente e eu temos, como sempre e com todos, tudo isto em comum. Esperamos, sentados, pelo início da próxima viagem, recordando o tempo que passou.
Tendo escolhido aquela aldeia como refúgio para continuar a resistir, não sendo filho da terra, conhecia todos os que tinham um nome ligado à terra. Da minha madrinha dizia ser um amor de pessoa e que até lhe tinha feito uns cortinados que ainda lhe decoram a sala. Pareceu-me ser a única pessoa de quem tem uma boa recordação. Com o autocarro chegou o momento da despedida.
Boa Tarde.
quarta-feira, julho 29, 2009
segunda-feira, julho 13, 2009
Sr. Galtung,
By Johan Galtung - 13 Jul 09 We find it all over, right now in the streets of Tegucigalpa, Tehran, Urumqi; as massive killing in connection with US-Allies attacks on Iraq, Afghanistan and Somalia, and elsewhere. There will probably be much more, looking at the world conflict maps. |
sexta-feira, julho 03, 2009
DEMOCRACIA
«Nos centros alimentaremos a mais cínica prostituição. massacraremos as revoltas lógicas.
«Às terras aromáticas e dóceis! _ ao serviço das mais monstruosas explorações industriais ou militares.
«Até mais ver!, não importa onde. Recrutas do próprio querer, teremos a filosofia feroz; inaptos para a ciência, esgotados para o conforto; e que os outros rebentem. Este é o caminho. Em frente, marcha!»
tra-i-du-ção de Mário Cesariny, do poema DÉMOCRATIE, de Jean-Arthur RIMBAUD
quarta-feira, maio 20, 2009
Precários
sábado, fevereiro 07, 2009
Esperanças concretas em sistemas que se mudam por dentro?
Talvez o conhecimento do que significa a mudança ajudasse para compreender ao que se alude quando de mudança se fala. Aliás era bom saber que a mudança já aconteceu. Como seria possível a eleição de alguém sem o apoio de um partido e sobretudo sem a legal ajuda de financiamentos interessados nas suas causas particulares, que minam a saúde das democracias? Neste caso parece que se deve à esperança.
Para quem vota e sobretudo para quem vota num improvável vencedor é mesmo, a esperança, a única coisa que se pode ter numa democracia. Discutem-se ideias sendo estas opostas por vezes, parecidas noutras, sendo sempre igual o objectivo. O debate que interessa, é o das ideias. A medida do acomodamento ao sistema em vigor vê-se bem pela falta destas.
O caminho das ideias é muito comprido. Para uma boa parte a carga tornou-se demasiado pesada tendo lançado fora o lastro do conhecimento. Também há quem diga que nestes tempos confusos o mais sensato será mesmo repetir as ideias afirmadas no passado, para evitar enganos de trajectória. Goste-se ou não da ideia de democracia, quem nos garante que ela está para ficar? Quantas constituições foram postas na gaveta para dar lugar à escuridão da arbitrariedade e ao abismo da guerra? É sensato defender o menos mau dos sistemas.
É possível melhorar todo e qualquer sistema pelo simples facto de ser uma construção humana. A selecção natural fê-lo por nós.
Se não for pelo sentido de responsabilidade, a que ninguém está obrigado, pode ser pelo desejo de viver, pelo instinto de sobrevivência. A história pode-se prestar às mais variadas leituras mas saibamos que o passado pesa tanto mais quanto mais fundo se escava. Tenho uma forte e cândida esperança em que a consciência do passado não se tenha apagado nesta geração que cresceu com os diversos saneamentos da história. Posso questionar uma leitura mas isso nunca apagará o passado.
O nosso tempo é caracterizado pela falta de memória aos mais diversos níveis. Alguns de nós têm acesso a um mundo de informação, ilusoriamente imaginado como eternamente ao alcance de um clique. Já não vamos a bibliotecas, já não memorizamos nada. Se ainda temos essa capacidade porque não a usamos? Ainda nos arriscamos a ficar conhecidos como a época do esquecimento.
Se um mundo novo surgir desta crise, talvez seja pelo potencial de utilização de outras fontes de energia, que permitem e podem transformar a sociedade. Não tenhamos dúvidas de que essa escolha será feita pelos que elegermos. Será todo um mundo novo mas não ainda o que Ridley Scott projecta para 2019. As possibilidades de progresso não nos levarão, para já, a habitar outros planetas mas a “reforma infalível” de alguns usos, pode estar mais próxima.