sábado, janeiro 01, 2011
sábado, dezembro 25, 2010
Presenças inesperadas.
No caminho para chegar a casa,
percebi que depressa tinha aprendido a percorre-lo.
Há dois dias que o era, e apenas uma outra vez o tinha percorrido.
Em Berlin faço um caminho para casa diferente pela quarta vez.
Tantas quantos os sítios aos quais já chamei ou ainda chamo casa.
Em comum têm o serem não mais do que um caminho dentro de casa.
É neste momento, assim, a minha casa, toda a cidade.
A vista sobre esta imensa planície,
desde o vigésimo terceiro andar,
é uma parte dos meus dias.
Por sê-lo, faz parte, quando a casa chego,
abeirar-me da janela e espreitar através dela.
É um encanto e consola a alma,
o perfil da cidade, com as suas luzes e formas.
Já tinha visto algumas estrelas no céu desta noite,
outro ponto de interesse que se tinha acrescentado
ao perfil de Berlin.
Muito verdadeiramente mesmo,
eu não estava era à espera disto.
Acima do horizonte,
lutando com as nuvens o seu lugar no meu dia,
levantava-se a Lua, bem tarde, já de madrugada.
Redonda, gorda e tão fraca.
De ambos os lados
entrecortada por um rasgo de nuvem.
Nem mesmo a intensidade do seu reflexo
conseguia negar aos rasgos de nuvem o seu lugar.
Cor de rosa, cor curiosa,
mostrou-me que a meu lado,
capaz de perceber de forma semelhante
um toque de humanidade na imagem daquela Lua,
faltava mesmo a minha cara e enorme amiga Alberta.
A Betinha sabe bem apreciar a natureza
e dela extrair o mais belo.
Sabes Betinha,
dei por mim a responder à pergunta,
vais passar o natal a casa,
com: eu estou em casa.
Por agora, Berlin é a minha casa,
e nela, haverá sempre lugar
para todos os meus amigos.
quarta-feira, novembro 24, 2010
MOFO
sexta-feira, junho 04, 2010
50 ANOS DE DÚVIDAS
Uma mensagem de esperança.
Que a civilização europeia duvida profundamente de si mesma está bem patente nas incertezas quanto ao futuro comum da União Europeia. E, tal como responde Ortega e Gasset, apesar disso, nunca uma civilização morreu de um ataque de dúvida. Os sucessivos impasses no processo da construção europeia não impediram, no entanto, desde os tratados fundadores de Roma até ao mais recente documento produzido pelas instituições comuns, que o caminho da Europa se fosse fazendo. “Toda civilización ha nacido o ha renacido como un movimiento natatorio de salvación”.[1] A frase anterior foi proferida por Ortega e Gasset no decorrer de uma conferência proferida a 7 de Setembro de 1949, na Universidade Livre de Berlin. O contexto é o do combate íntimo do homem, face às suas dúvidas. O produto desta reacção é um precipitado. Uma nova fé, de que se veste e com a qual vai viver a nova era. Numa analogia, entendida por mim, com o trabalho do Químico que sintetiza um novo composto é perfeita. Perante um novo composto, sintetizado, purificado, analisado e no fim comunicado, alguns investigadores adoptam aquela postura característica das mães babadas, comportam-se como se de um filho se tratasse e a ele dedicam muito do seu pensamento.
Gasset foi autor de várias conferências nas Universidades alemãs; em Berlin (1949), em Munique (1953) e vinte cinco anos passados da publicação A Rebelião Das Massas, em 1955. A continuada dedicação de Gasset ao povo alemão impressiona, embora não mais que o conteúdo das reflexões proferidas e publicadas. Numa nota de rodapé, na obra citada (p.247-8), são relatados os ecos da passagem, em 1949, por Berlin, mostrando a avidez dos estudantes alemães, imagino que não só estudantes, em ouvi-lo. A desordem instalou-se, com necessidade de intervenção policial, dada a falta de lugares, nas preenchidas salas de aula onde foi possível instalar altifalantes. Em 1955, Gasset dirá que a sua obra, A Rebelião Das Massas, foi ali mais lida do que compreendida mas a humorística analogia entre o nome do livro e o sucedido não tardou, a aparecer nos jornais. Para além destes factos, aquilo que mais me prende é a função que Gasset sabe estar a desempenhar naquela altura. Foi falar de Europa no sítio em que mais necessária, por ventura, seria uma lição de humildade e de saber. Talvez tenha funcionado como o tónico que o povo alemão, derrotado na maior das guerras até a data, precisava para encarar o futuro de cara levantada e com a consciência serenada. Quis recuperar o significado de conceitos que tinham perdido o sentido. Penso que foi um bom recuperador de ideias e formas de pensar, interrompidas ou deturpadas, entretanto. Na altura, era o decano da ideia de Europa.
Um ponto comum entre Nietzsche e Ortega e Gasset, entre muitos, será a reflexão que fazem da situação de crise. A crise instalada, depois de um período de guerra, foi política e cultural. Em Nietzsche temos um elevar político, a formação do estado, e um posterior decaimento cultural. Em Gasset verificamos um declínio completo em termos políticos, no fim da 2ª Guerra Mundial. Se se verificou o erguer em termos culturais após as Guerras conducentes ao nascimento da Alemanha, será possível que depois da crise mundial tenha renascido a Europa?
Será a crise política actual fruto de um erguer cultural europeu marcado pela sua unificação? A Europa política ainda não conseguiu incorporar, no espírito, a sua nova dimensão. Estamos, então, no tempo do desenvolvimento da vertente cultural da nova Europa. É o tempo de compreender a forma viva, recriada. Explicá-la, será o próximo passo para um crescimento em termos políticos do projecto europeu de paz que, esperamos, viva e perpétua. Terá sido a compreensão de que a destruição seguinte poderia ser definitiva aquilo que nos tem impedido de uma nova catástrofe?
Gasset adverte: “…las catástrofes pertenecen a la normalidad de la historia, son una pieza necesaria en el funcionamiento del destino humano”[2], consciente, que está, do outro perigo, que é, o adormecimento criador. A superficialidade dos fenómenos de primeiro olhar - a penúria económica, a confusão política- actuais, será sinónimo de que tipo de crise-catástrofe? A que resulta da falta de vontade política ou da estranheza cultural vigente? Está pois, sugerido o caminho através do qual a Europa pode fazer-se.
A sociedade europeia.
Uma sociedade não se constitui por um acordo entre as vontades. Ao contrário, todo o acordo de vontades pressupõe a existência de uma sociedade. Ao pensar a sociedade europeia, Gasset desenvolve esta ideia, muito semelhante e indo na direcção daqueles que acusam, de tecnocrata, a construção do projecto Europeu. O direito não emana da sociedade, como um suspiro, naturalmente, mas é criado num ponto longínquo, tomando, por base, critérios que pretendem defender o bem comum mas que não são reconhecidos como naturais a ninguém. Os acordos que não favorecem nenhuma das partes, ou seja, que são igualmente maus, podem resultar num acordo positivo desde que o acordo seja suficientemente importante para o futuro imediato, pese embora poder ser uma fonte de futuros ressentimentos.
A sociedade europeia: tem costumes europeus, usos europeus, opinião pública europeia, direito europeu, poder político europeu. Estes elementos, caracterizadores sociais, desenvolvem-se naturalmente mas em diferentes estágios de evolução, conforme o avanço no caminho das idéias, efectuado pela sociedade em causa. O princípio da adopção das melhores práticas para os diversos ramos do saber, se forem só apresentadas como o melhor que se faz lá fora não terá melhor destino que toda a herança cultural europeia. Quer por simples resistência nuns casos ou por desajuste completo noutros, o ressentimento face à Europa é tanto português como de qualquer outra sociedade posta à margem ou que navegue noutra direcção.
Lisboa, Julho de 2008.
[1] “Toda a civilização nasceu ou renasceu como um movimento nadatório de salvação”. Ortega Y Gasset, Obras completas, Tomo IX, Meditación de Europa, Madrid, Alianza Editorial, 1983, p. 252.
[2] “As catástrofes pertencem à normalidade da história, são uma peça necessária ao funcionamento do destino humano”. Ortega y Gasset, ob. cit., p. 252.
terça-feira, janeiro 26, 2010
NE CHANGE RIEN
sexta-feira, outubro 02, 2009
O Falcão
Fui guloso e comecei pela queijada. Seguida pelo café em chávena grande.
Nos mercados há regras. -"Só pode entrar às 7!"
- Começamos todos ao mesmo tempo? Mesmo sendo o primeiro? Ninguém com vontade de comprar tesouros! Eu não posso comprá-los?
Agora sim! Está tudo a postos.
Todos prontos para servir os prazeres que pessoas como eu procuram.
As cenouras parecem bonitas, estão demasiado bonitas, aliás.
Comprava uma couve, ali do meio do corredor.
Tenho comprado boas uvas. Irei, pois, procurar por boas uvas e baratas.
O fiscal é como o Falcão que afugenta os Pombos da pista.
Ningém vende nada, ninguém compra nada.
Levo daqui um pimento, um queijo, um pão, uvas.
Caminho
Não vejo nada.
Encontro-me numa sala,
sem tecto.
De cima entra uma luz tão limpa e clara,
branca,
como o branco das ondas a desfazerem-se na areia.
Não se vê nada.
Sinto o crepitar do fogo preso nas velas,
que iluminam o chão,
delimitando o caminho a percorrer.
quarta-feira, setembro 16, 2009
Pour Pasolini
Não sei bem porque gosto tanto desta parte de "Caro Diário", se é só pela música, se pela poesia da imagem, se pela beleza e mestria do take (começa aos 59''). Merecida homenagem.
sexta-feira, setembro 11, 2009
Na Praça
Ora são os vegetais, frescos, policromados, que observo cá do alto, ora os produtos habituais, para mim, na Praça. O queijo, o pão, o peixe, talvez, fruta, e hoje coentros de certeza, para a massa de peixe de que desfrutarei por certo em casa.
Para mim, casa é em Lisboa. Um quarto, sem sala, com cozinha e pouco mais.
Que importa ao pombo o poleiro da janela, se o que lhe interessa é mesmo a pomba, ou seja, o prazer. O Desejo é o sentimento que o faz correr por entre folhas de alface, cenouras ou uvas doces.
O chá não vem, não sei que faça. Quase durmo, é preguiça. Dormir posso sempre mais tarde.
Quero um queijo, um pão, uvas, figos, coentros e salsa, cebolas se forem boas, que não façam chorar muito, também levo.
Vou procurar a menina mais bonita, que me vende estes tesouros pelos quais anseio, seja doce e bonita, nova ou velha, eu levo um conto.
Talvez amanha leve o peixe que, de certeza, me agrade.
"Cheers"
Não quero dizer que é o único carteiro em Boston, mas é o único que entra no Cherrs no final da ronda.
Penso em Cliff por me identificar com a personagem que pensa que sabe muita coisa, que até sabe, que pensa que são coisas interessantes para "revelar", que não são, e que pensa que eles não fazem ideia do facto que irá lançar como grande novidade.
Cliff é aquela personagem que quando é chamado para informar, ser um programa ao vivo, isto é, gravado perante um público, como se de teatro se tratasse, aviso para os tele-espectadores, claro, fá-lo convencido de que pouca gente tem conhecimento que "Cheers" é gravado perante uma audiência, viva.
Hoje sinto-me o Cliff, embora haja sempre uma parte, em cada um deles, com a qual nos identificamos, por instantes. Será esse o segredo do sucesso deste clássico?
Guernica II - Eu político me confesso
Espero que conste no testamento o meu primeiro acto consciente e recordado. Um funeral. Dia de "feriados" escolares, no ano da morte de Zeca Afonso. Entrei pela primeira vez num cemitério para assistir ao seu enterro. Teria 13, 14 anos. Que não quero fazer as contas. Para lá do caos, devido à multidão, recordo caras conhecidas a segurar a urna, ou na marcha que se fez, lenta, até à sua cova funda. O Janita?, o Vitorino, O Manuel Alegre. Acerca do último, vejo uma reportagem no "Público", a propósito da sua despedida do cargo de Deputado na Assembleia da República. Coincidências entre homens políticos? A sua despedida e a minha lembrança? Os comícios, no tempo dos comícios, não contam, que ia à Praça apenas para ver os artistas.
As manifestações contra as propinas, na 5 de Outubro, mas principalmente em frente à casa da qual o outro senhor se despede, deixaram, sem dúvida, marca profunda em mim. Também a Ponte, as portagens, as cargas policiais então muito na moda, a mando de um outro senhor que nada sabe ou de pouco se lembra.
Testamentado pode ficar também, uma participação efectiva como candidato, nas listas para a Associação de Estudantes de Ciências, a tal Lista que foi "apenas pagar" as contas da "S", mas da qual me afastei de imediato, ao ver a fome que por ali havia. Não de Feijoada mas do seu tacho.
Alegro-me (já sem referência ao senhor Deputado Poeta) apenas do facto de ter participado, como membro da Assembleia de Representantes da Universidade, na eleição do Reitor. Votei, sem problema pela franquesa, no Professor Barata-Moura. Por mais nada, os tempos da Joana que não comia o prato mas a papa foram importantes mas, à data era também o artista que ia ver. Fique ainda a participação na manifestação contra a Guerra de Invasão do Iraque (2003), no dia de aniversário de minha mãe. A figura de cartaz, de cartola à Tio Sam e pistola em riste, chamava-nos, de cara alegre (igualmente não pondo o senhor Deputado no barulho), e quer-me ainda parecer que o senhor Deputado Poeta também por lá se manifestava.
Se alguém o disser de mim, eu confirmo. Pela amostra podem imaginar o autor tão político como o artista de Guernica? Eu político me confesso.
"Guernica"
Sobre Camões
"Luís de Camões"
"...
Em certo modo viveu o que cantou, sendo, assim,
o único épico que foi lírico ao sê-lo.
Essa sua singularidade, que é uma virtude,
é, como todas as virtudes, origem de vários defeitos."
quarta-feira, agosto 26, 2009
De novo na Graça
sexta-feira, julho 31, 2009
Lendo "LORD JIM",
"Who? I? said Marlow in a low voice.
"Oh, no! But he was; and try as I may for the success of this yarn
I am missing innumerable shades - they were so fine, so difficult
to render in colourless words.
e J. Conrad continua,
Because he complicated matters by being so simple, too - the simplest poor devil!
By Jove! ...
FADO LOUCO
Fadista Louco
A ideia de existir
Um Fadista Louco
Que não 0 melhor
Nos poemas cantados
No Fado,
Ou melhor
A ideia,
De ser eu,
O "Fadista Louco",
Será a razão
Para aprender
A cantar, a cantar
O Fado,
Ou melhor,
A ser eu
Fadista, Fadista
Louco.
quinta-feira, julho 30, 2009
O sr. Resistente
_Nunca apanhei o vício do cigarro_ lançou ele, _Aos 9 anos comecei a trabalhar, cavando a terra. Custava naquele tempo 12 tostões, uma porção de tabaco._ Continuou, sem que eu o interrompesse, contando que naquela altura o isqueiro era proibido. Usavam uma pedra, que raspada noutra superfície, acendia o cigarro._Era para descançar as costas, fumava 5 ou 6 cigarros por dia. Eram os cinco minutos do descanço. Terminou, libertando por espanto, _ Nunca apanhei o vício.
Entre trabalhar na ponte de Lisboa, vender queijos de terra em terra e o trabalho "na lavra", fez de tudo. Fugiu com o pai de setúbal para a Comporta, por ser o seu velho Comunista e parecia agora fazer de memória viva da aldeia.
A aldeia da comporta está, hoje, maior. Mais casas de aluguer, mais turismo, mais gente. Há trinta anos tinha tudo isto mas em menor dimensão. As minhas recordações desses tempos são de uma época em que não se esperava por nada.
Desfrutava-se do Verão, das brincadeiras de criança, ao ritmo dos mais crescidos, sempre a lembrar-nos da hora de jantar, de tomar banho, dormir e da hora de parar de sonhar.
Afinal, o sr. Resistente e eu temos, como sempre e com todos, tudo isto em comum. Esperamos, sentados, pelo início da próxima viagem, recordando o tempo que passou.
Tendo escolhido aquela aldeia como refúgio para continuar a resistir, não sendo filho da terra, conhecia todos os que tinham um nome ligado à terra. Da minha madrinha dizia ser um amor de pessoa e que até lhe tinha feito uns cortinados que ainda lhe decoram a sala. Pareceu-me ser a única pessoa de quem tem uma boa recordação. Com o autocarro chegou o momento da despedida.
Boa Tarde.