Ó rio que corres por entre as pedras!
Foges da turbulência da tua nascente.
Jovem, com pressa em ser grande,
Serás mar salgado, enorme, pesado e turbulento?
E que importa ao rio que, grande se desfaz,
Que se entrega de braços abertos ao oceano, em paz.
Terás memória suficiente para reconhecer
de que nascente és filho permanente?
És livre quando rio.
Corres desde fio
Até mar solto, profundo, frio.
Quantas vezes visitaste a nascente!
Diferente de ti sou, eu que embora quente,
Sou superfície sem espelho, tão indiferente.
Só corro, lento, parado por vezes.
Sem certeza de que mar será meu fim.
Diferente de ti, sendo eu água de ti,
Choro-te já turbulento, salgado, sem lamento.
Profunda tristeza nesta melancolia tranquilamente indiferente.
Eu, rio, sou mar e sou desalento.
Cada dia que se acaba eu aumento.