sexta-feira, setembro 11, 2009

Guernica II - Eu político me confesso

Deixando seguir a leitura jornalística, tento recordar-me então, a quais momentos vividos poderei eu vir a ser, por isso , considerado um homem político, num futuro distante, caso alguém se dê ao trabalho.
Espero que conste no testamento o meu primeiro acto consciente e recordado. Um funeral. Dia de "feriados" escolares, no ano da morte de Zeca Afonso. Entrei pela primeira vez num cemitério para assistir ao seu enterro. Teria 13, 14 anos. Que não quero fazer as contas. Para lá do caos, devido à multidão, recordo caras conhecidas a segurar a urna, ou na marcha que se fez, lenta, até à sua cova funda. O Janita?, o Vitorino, O Manuel Alegre. Acerca do último, vejo uma reportagem no "Público", a propósito da sua despedida do cargo de Deputado na Assembleia da República. Coincidências entre homens políticos? A sua despedida e a minha lembrança? Os comícios, no tempo dos comícios, não contam, que ia à Praça apenas para ver os artistas.
As manifestações contra as propinas, na 5 de Outubro, mas principalmente em frente à casa da qual o outro senhor se despede, deixaram, sem dúvida, marca profunda em mim. Também a Ponte, as portagens, as cargas policiais então muito na moda, a mando de um outro senhor que nada sabe ou de pouco se lembra.
Testamentado pode ficar também, uma participação efectiva como candidato, nas listas para a Associação de Estudantes de Ciências, a tal Lista que foi "apenas pagar" as contas da "S", mas da qual me afastei de imediato, ao ver a fome que por ali havia. Não de Feijoada mas do seu tacho.
Alegro-me (já sem referência ao senhor Deputado Poeta) apenas do facto de ter participado, como membro da Assembleia de Representantes da Universidade, na eleição do Reitor. Votei, sem problema pela franquesa, no Professor Barata-Moura. Por mais nada, os tempos da Joana que não comia o prato mas a papa foram importantes mas, à data era também o artista que ia ver. Fique ainda a participação na manifestação contra a Guerra de Invasão do Iraque (2003), no dia de aniversário de minha mãe. A figura de cartaz, de cartola à Tio Sam e pistola em riste, chamava-nos, de cara alegre (igualmente não pondo o senhor Deputado no barulho), e quer-me ainda parecer que o senhor Deputado Poeta também por lá se manifestava.
Se alguém o disser de mim, eu confirmo. Pela amostra podem imaginar o autor tão político como o artista de Guernica? Eu político me confesso.

"Guernica"

" Picasso era um artista muito mais político do que habitualmente se imagina." Segundo o artigo (P., Ípsilon, 24-07-2009), a justificação para a afirmação acima transcrita estará exposta na Tate Liverpool na próxima Primavera.
"...tudo isso estará na exposição...", sendo "isso", algo relacionado com a sua filiação no PCF, entre outros envolvimentos em causas que hoje se dizem cívicas. Certo!
Quer então dizer que há quem imagina o autor de "Guernica" outra coisa que não um homem político. Genialidade na obra faz do homem um artista e a bem do decoro público e do politicamente correcto, será bom que o homem seja apenas um artista. É a ideia de obra sem mensagem. Sem vontade de comunicar. O homem como intérprete que não tem a noção que pinta, escreve, musíca o mundo, com os seus sentidos, ainda sem a noção de que alguém será interprete posterior da sua afirmação estética.
Como eu vejo, o símbolo artístico de duas décadas de abomináveis actos, feitos pelo homem contra o homem, é Guernica. É-o por ser uma imagem do início. É-o por não ter sido suficiente, o que nela se relata, para parar de imediato a loucura humana. Desconheço o impacte na época e o momento da sua revelação. Terá a sua beleza estética encorajado a futura loucura de 20 anos?

Sobre Camões

de Fernando Pessoa in Diário de Lisboa, de 4 de Fevereiro de 1924.


"Luís de Camões"

"...
Em certo modo viveu o que cantou, sendo, assim,

o único épico que foi lírico ao sê-lo.

Essa sua singularidade, que é uma virtude,

é, como todas as virtudes, origem de vários defeitos."

Razões para...

Rossio


Para beber, o Sol.
Para sair de mim, um horizonte.
Para sentir, sofrer.

Para pensar, absorver o mundo.
Para chorar, a ausência pela morte.
Para recordar, a infância.

Para escrever, o vazio.
Para escrever, a vida.

Para sorrir, o belo.

Para rir, os amigos.

quarta-feira, agosto 26, 2009

De novo na Graça

Hoje dei uma grande volta para cá chegar.

Ao sair de casa, nem de cá voltar tinha certeza.

Hoje dei uma bonita volta, pelos bairros orientais de Lisboa.

Beato, Marvila, Xabregas, Olivais, Chelas.

Saí em busca da minha identidade perdida.

Custou-me uma fortuna. A perda. Mas voltei a encontrá-la.

Encontrada, desci à cidade para senti-la,

sentir-lhe o cheiro, o canto, o ritmo, o sentido.

Vai bem a cidade cujas praças se enchem de esplanadas cheias.

No 28, para casa, sobe-se e desce-se pelas colinas,

mas o caminho não me deixa chegar a casa.

Fica a caminho da Graça e ora que aqui fiquei.

Estando o céu encoberto por nuvens cheias, o Sol sente-se tímido.

O seu calor é levado pela brisa forte e sinto-o fraco.

Por outro lado, como a hora é já de Sol que se põe,

fica a cidade mais à vista por não sentir o seu calor nos olhos.



Estou triste por mim.

Aliviado por ter encontrado a identidade perdida.

Alegremente embriagado pela possibilidade desejada.

É a razão da minha alegria que me deixa assustado.


Temo revelar que, no fundo, a minha identidade, profunda,


permanente e nua, seja de um vazio profundamente escuro e sem sentido.

sexta-feira, julho 31, 2009

Vampire Weekend - Walcott

Eu sempre gostei mais desta...

Lendo "LORD JIM",

" You are so subtle, Marlow."
"Who? I? said Marlow in a low voice.
"Oh, no! But he was; and try as I may for the success of this yarn
I am missing innumerable shades - they were so fine, so difficult
to render in colourless words.

e J. Conrad continua,

Because he complicated matters by being so simple, too - the simplest poor devil!
By Jove! ...

FADO LOUCO

FADO LOUCO


Fadista Louco




A ideia de existir
Um Fadista Louco
Que não 0 melhor
Nos poemas cantados
No Fado,

Ou melhor
A ideia,
De ser eu,
O "Fadista Louco",

Será a razão
Para aprender
A cantar, a cantar
O Fado,

Ou melhor,
A ser eu
Fadista, Fadista
Louco.

FADISTA LOUCO


Alberto Janes

Eu canto com os olhos bem fechados
Que o maestro dos meus fados
É quem lhes dá o condão
E assim não olho pra outros lados
Que canto de olhos fechados
Pra olhar pra o coração.


Meu coração que é fadista de outras eras
Que sonha viver quimeras
Em loucura desabrida
Meu coração, se canto, quase me mata
Pois por cada vez que bata
Rouba um pouco a minha vida

Ele e eu, cá vamos sofrendo os dois
Talvez um dia, depois dele parar pouco a pouco
Talvez alguém se lembre ainda de nós
E sinta na minha voz o que sentiu este louco.
"FADISTA LOUCO" retirado de: http://meiamaquinameiamulher.blogspot.com/, sem pedido.

quinta-feira, julho 30, 2009

O sr. Resistente

Enquanto esperava pelo autocarro enrolei um cigarro, sentado na escadaria do pequeno largo da aldeia. Deve ser este o sítio onde se espera. Pelo fim do dia, pelo fim da vida, pelo início e pelo fim da viagem.
A dois metros esperando também, estava um velho, "o resistente". O cigarro foi o seu pretexto para puxar conversa. Estavamos em igualdade de circunstâncias. Eu esperava pelo autocarro sentado, ele esperava sentado pelo fim que lhe estava reservado para a quele dia.


_Nunca apanhei o vício do cigarro_ lançou ele, _Aos 9 anos comecei a trabalhar, cavando a terra. Custava naquele tempo 12 tostões, uma porção de tabaco._ Continuou, sem que eu o interrompesse, contando que naquela altura o isqueiro era proibido. Usavam uma pedra, que raspada noutra superfície, acendia o cigarro.

_Era para descançar as costas, fumava 5 ou 6 cigarros por dia. Eram os cinco minutos do descanço. Terminou, libertando por espanto, _ Nunca apanhei o vício.

Entre trabalhar na ponte de Lisboa, vender queijos de terra em terra e o trabalho "na lavra", fez de tudo. Fugiu com o pai de setúbal para a Comporta, por ser o seu velho Comunista e parecia agora fazer de memória viva da aldeia.

A aldeia da comporta está, hoje, maior. Mais casas de aluguer, mais turismo, mais gente. Há trinta anos tinha tudo isto mas em menor dimensão. As minhas recordações desses tempos são de uma época em que não se esperava por nada.

Desfrutava-se do Verão, das brincadeiras de criança, ao ritmo dos mais crescidos, sempre a lembrar-nos da hora de jantar, de tomar banho, dormir e da hora de parar de sonhar.

Afinal, o sr. Resistente e eu temos, como sempre e com todos, tudo isto em comum. Esperamos, sentados, pelo início da próxima viagem, recordando o tempo que passou.

Tendo escolhido aquela aldeia como refúgio para continuar a resistir, não sendo filho da terra, conhecia todos os que tinham um nome ligado à terra. Da minha madrinha dizia ser um amor de pessoa e que até lhe tinha feito uns cortinados que ainda lhe decoram a sala. Pareceu-me ser a única pessoa de quem tem uma boa recordação. Com o autocarro chegou o momento da despedida.

Boa Tarde.

segunda-feira, julho 13, 2009

Então sua Magestade?!



Então sua Magestade?




Sr. Galtung,


Let's start a petiton for global voting on one "first" global issue, even if climate change claimers are wrong, no one loses.


At the end, it's
Gaussian...The way richness is spread!




By Johan Galtung - 13 Jul 09

We find it all over, right now in the streets of Tegucigalpa, Tehran, Urumqi; as massive killing in connection with US-Allies attacks on Iraq, Afghanistan and Somalia, and elsewhere. There will probably be much more, looking at the world conflict maps.

Politically, each nation ruled not by its own kind but by some "majority", however sharing, distributive, democratic, but of some other kind--and there are very many of them, at least 1,900-- produces victims of violence, with huge potential for many more.

Economically, all the victims of a brutal capitalism, and it is exactly that, capital-ism, transporting capital upward from low to high making low lower and high higher so they die at the bottom and speculate the system into crisis at the top. Again, there are very many of these victims, so far at the bottom. But the system is so insane, and the focus on "bailout" rather than "stimulus" makes it even more so that major revolutions are highly likely.

Militarily, we have the new military order, the postmodern warfare between state terrorism and terrorism with civilians--women, children, the old--not as "collateral damage" but as targets. And once again, there are very many of those victims.

Culturally,
the major clash of civilizations, the Christian attack on the rest of the world since 1492, making evangelism a part of the general colonial-imperial package perpetrated on the world, is abating. But that a clash produce counter-clashes, particularly in the light of all the above, stands to reason.

Socially,
the direct and structural violence against women, as unborn, newborn, as children, for trafficking, sexualized violence and violent sex, as exploited labor all over inside and outside marriage, are rampant and have been so for a long time. Not strange that so many women preferred monastery to marriage.

And yet why that much violence right now?

Easy access to arms is one. The major arms producers are the veto powers in the UN. Judged by their long entries under human rights--except for France--in Amnesty International 2009 report, they are also major producers of anti-human crimes. This does not pass unnoticed, and their veto-right makes the UN increasingly not only irrelevant but counterproductive, on the way to oblivion.

Education is a second. Literacy is increasing enormously and one consequence is access to information that makes death by starvation or preventable-curable diseases not look inevitable, but the product of totally unacceptable economies. People all over the world read and watch information about the economic crisis also hitting the rich and draw their conclusion: this is man-made, exactly by men; hence avoidable, not a law of nature.

Human rights-democracy is a third. There is so much talk about the right to be master of one's own destiny, to decide in matters concerning oneself, that people and peoples all over the world want to go beyond rhetoric. That rhetoric was decisive in the struggle against an institution run by leading democracies, colonialism: the inconcistency was too flagrant. The same applies to the internal colonization of all those "minorities"--"" because this is about power and rights, not numbers--around the world.

Neo-religious awakening is a fourth. Less theocratic and dogmatic, more normative, making religious correctness political correctness; not excluding such secular values as education and human rights-democracy, not only in the Christian but also in the Islamic and other worlds. Those who believed that not only God but also religion was dead underestimated the religions as huge reservoirs of human wisdom about rights and obligations, with no secular substitutes able to produce equally compelling norms.

Woman emancipation is a fifth,
producing a backlash. As Göran Therborn says in his brilliant global history-sociology, Between Sex and Power: Family in the World, 1900-2000, by 2000 patriarchy had become "the big loser of the twentieth century". Once it was aristocracy, they hit back, like in Europe. Then the capitalist class, they hit back, like in and from the USA. Will men, unprepared for this, accept their abdication hands down?

But we need, we must have, education, human rights-democracy, women emancipation! And we cannot accept religious superstition with a divine mandate to kill believed in by so many adherents of the Abrahamic religions, Judaism-Christianity-Islam! Sure, but be aware that these four propositions are revolutionary in their implications. They carry new deals of cards in their wake, and holders of the old losing cards do not take that prospect gladly.

When the world's leading powers can get away with their violence and means thereof with impunity, even protected by a veto, we should not be surprised if many draw the conclusion that violence cannot be that wrong. If they resort to violence to uphold their privileges we should not be surprised if others use violence to obtain some. If they do not even have concepts of conflict resolution but see the goals by others as illegitimate at best and as rhetoric to conceal their evil nature at worst, then how do we get what humanity so much needs, a culture of conflict resolution as a part of a more general culture of peace? Even more important than control of arms and abolition of veto power. Instead we get an ICC twisted into an African Criminal Court run by the worst of the colonizers, the Dutch.

Yes, there is today less warfare among states. But much more among classes, nations, faiths and genders, aided by a fading state system. And other systems enter, with the habits of the old.



sexta-feira, julho 03, 2009

DEMOCRACIA

«A bandeira reflecte a paisagem imunda e a nossa gíria abafa o som do tambor.

«Nos centros alimentaremos a mais cínica prostituição. massacraremos as revoltas lógicas.

«Às terras aromáticas e dóceis! _ ao serviço das mais monstruosas explorações industriais ou militares.

«Até mais ver!, não importa onde. Recrutas do próprio querer, teremos a filosofia feroz; inaptos para a ciência, esgotados para o conforto; e que os outros rebentem. Este é o caminho. Em frente, marcha!»



tra-i-du-ção de Mário Cesariny, do poema DÉMOCRATIE, de Jean-Arthur RIMBAUD

quarta-feira, maio 20, 2009

Precários

Talvez esta imagem da realidade europeia ajude a perceber por que razão, em Espanha, o desemprego disparou para quase 20%. Quando a economia não cresce imagine quem desempenha o papel de mexilhão? A mobilidade não é só entre empregos. Muitas vezes é entre ter ou não ter.
Os precários Fonte: Eurostat

sábado, abril 25, 2009

Sim! Eu voto! E tu?

sábado, fevereiro 07, 2009

Esperanças concretas em sistemas que se mudam por dentro?

Desde o tempo das tragédias gregas que a transmissão de ideias é feita enquanto se entretém. Há algo de sublime nesta verdadeira estratégia de contágio. Sentem-nos. Que se faça escuro. Deixemo-los confortáveis e disponíveis. Agora, como quem embala uma criança, vão-se contando as novidades e abrindo as mentes. Processo antigo e a que hoje se chama cultura. Poderoso e perigoso nas mãos erradas. Podemos encontrar sociedades pujantes onde se valoriza a cultura. Podemos nas outras? Afinal o Renascimento só nos trouxe os mestres antigos e calados por instituições de divulgação cultural mais seguras nas trevas da ignorância.

Talvez o conhecimento do que significa a mudança ajudasse para compreender ao que se alude quando de mudança se fala. Aliás era bom saber que a mudança já aconteceu. Como seria possível a eleição de alguém sem o apoio de um partido e sobretudo sem a legal ajuda de financiamentos interessados nas suas causas particulares, que minam a saúde das democracias? Neste caso parece que se deve à esperança.

Para quem vota e sobretudo para quem vota num improvável vencedor é mesmo, a esperança, a única coisa que se pode ter numa democracia. Discutem-se ideias sendo estas opostas por vezes, parecidas noutras, sendo sempre igual o objectivo. O debate que interessa, é o das ideias. A medida do acomodamento ao sistema em vigor vê-se bem pela falta destas.

O caminho das ideias é muito comprido. Para uma boa parte a carga tornou-se demasiado pesada tendo lançado fora o lastro do conhecimento. Também há quem diga que nestes tempos confusos o mais sensato será mesmo repetir as ideias afirmadas no passado, para evitar enganos de trajectória. Goste-se ou não da ideia de democracia, quem nos garante que ela está para ficar? Quantas constituições foram postas na gaveta para dar lugar à escuridão da arbitrariedade e ao abismo da guerra? É sensato defender o menos mau dos sistemas.

É possível melhorar todo e qualquer sistema pelo simples facto de ser uma construção humana. A selecção natural fê-lo por nós.

Se não for pelo sentido de responsabilidade, a que ninguém está obrigado, pode ser pelo desejo de viver, pelo instinto de sobrevivência. A história pode-se prestar às mais variadas leituras mas saibamos que o passado pesa tanto mais quanto mais fundo se escava. Tenho uma forte e cândida esperança em que a consciência do passado não se tenha apagado nesta geração que cresceu com os diversos saneamentos da história. Posso questionar uma leitura mas isso nunca apagará o passado.

O nosso tempo é caracterizado pela falta de memória aos mais diversos níveis. Alguns de nós têm acesso a um mundo de informação, ilusoriamente imaginado como eternamente ao alcance de um clique. Já não vamos a bibliotecas, já não memorizamos nada. Se ainda temos essa capacidade porque não a usamos? Ainda nos arriscamos a ficar conhecidos como a época do esquecimento.

Há oito anos vivia-se a crise da bolha especulativa Nasdaquiana. O financiamento das TIC, muito em voga à data, permitiu o rápido crescimento de empresas baseadas em conhecimento. O rebentar dessa bolha de especulação aliado à entrada da China nos mercados globais (de forma mais alargada), veio por a nu as fragilidades de algumas economias. O que erra é sempre a política. A economia não existe para tornar a vida difícil a uns quantos de nós, ela existe porque a vida nunca foi fácil. Gerir a escassez? Claro. As opções não referendadas, ou pior, não anunciadas, deixou alguns desprotegidos e pouco preparados para perceber o que está a acontecer. Queixarmo-nos de políticos é fácil mas, a propósito, qual é a queixa concreta que tem a apontar? Qual foi a decisão que teria impedido? Difícil de apontar por certo.
Ouvi em tempos a tese de só terem ocorrido duas verdadeiras revoluções com implicações na vida social, a passagem para a idade do cobre, e a revolução industrial. De comum percebe-se o cariz tecnológico associado à mudança. Escrever, ler, ouvir, são coisas que podemos fazer há muito tempo, usando agora computadores e a rede.

Se um mundo novo surgir desta crise, talvez seja pelo potencial de utilização de outras fontes de energia, que permitem e podem transformar a sociedade. Não tenhamos dúvidas de que essa escolha será feita pelos que elegermos. Será todo um mundo novo mas não ainda o que Ridley Scott projecta para 2019. As possibilidades de progresso não nos levarão, para já, a habitar outros planetas mas a “reforma infalível” de alguns usos, pode estar mais próxima.

sexta-feira, fevereiro 06, 2009

sábado, janeiro 31, 2009

The Great Illusion

The Great Illusion

By PAUL KRUGMAN
Published: August 14, 2008

So far, the international economic consequences of the war in the Caucasus have been fairly minor, despite Georgia’s role as a major corridor for oil shipments. But as I was reading the latest bad news, I found myself wondering whether this war is an omen — a sign that the second great age of globalization may share the fate of the first.

If you’re wondering what I’m talking about, here’s what you need to know: our grandfathers lived in a world of largely self-sufficient, inward-looking national economies — but our great-great grandfathers lived, as we do, in a world of large-scale international trade and investment, a world destroyed by nationalism.

Writing in 1919, the great British economist John Maynard Keynes described the world economy as it was on the eve of World War I. “The inhabitant of London could order by telephone, sipping his morning tea in bed, the various products of the whole earth ... he could at the same moment and by the same means adventure his wealth in the natural resources and new enterprises of any quarter of the world.”

And Keynes’s Londoner “regarded this state of affairs as normal, certain, and permanent, except in the direction of further improvement ... The projects and politics of militarism and imperialism, of racial and cultural rivalries, of monopolies, restrictions, and exclusion ... appeared to exercise almost no influence at all on the ordinary course of social and economic life, the internationalization of which was nearly complete in practice.”

But then came three decades of war, revolution, political instability, depression and more war. By the end of World War II, the world was fragmented economically as well as politically. And it took a couple of generations to put it back together.
So, can things fall apart again? Yes, they can.

Consider how things have played out in the current food crisis. For years we were told that self-sufficiency was an outmoded concept, and that it was safe to rely on world markets for food supplies. But when the prices of wheat, rice and corn soared, Keynes’s “projects and politics” of “restrictions and exclusion” made a comeback: many governments rushed to protect domestic consumers by banning or limiting exports, leaving food-importing countries in dire straits.

And now comes “militarism and imperialism.” By itself, as I said, the war in Georgia isn’t that big a deal economically. But it does mark the end of the Pax Americana — the era in which the United States more or less maintained a monopoly on the use of military force. And that raises some real questions about the future of globalization.

Most obviously, Europe’s dependence on Russian energy, especially natural gas, now looks very dangerous — more dangerous, arguably, than its dependence on Middle Eastern oil. After all, Russia has already used gas as a weapon: in 2006, it cut off supplies to Ukraine amid a dispute over prices.

And if Russia is willing and able to use force to assert control over its self-declared sphere of influence, won’t others do the same? Just think about the global economic disruption that would follow if China — which is about to surpass the United States as the world’s largest manufacturing nation — were to forcibly assert its claim to Taiwan.

Some analysts tell us not to worry: global economic integration itself protects us against war, they argue, because successful trading economies won’t risk their prosperity by engaging in military adventurism. But this, too, raises unpleasant historical memories.
Shortly before World War I another British author, Norman Angell, published a famous book titled “The Great Illusion,” in which he argued that war had become obsolete, that in the modern industrial era even military victors lose far more than they gain. He was right — but wars kept happening anyway.

So are the foundations of the second global economy any more solid than those of the first? In some ways, yes. For example, war among the nations of Western Europe really does seem inconceivable now, not so much because of economic ties as because of shared democratic values.
Much of the world, however, including nations that play a key role in the global economy, doesn’t share those values. Most of us have proceeded on the belief that, at least as far as economics goes, this doesn’t matter — that we can count on world trade continuing to flow freely simply because it’s so profitable. But that’s not a safe assumption. Angell was right to describe the belief that conquest pays as a great illusion. But the belief that economic rationality always prevents war is an equally great illusion. And today’s high degree of global economic interdependence, which can be sustained only if all major governments act sensibly, is more fragile than we imagine.

sexta-feira, janeiro 30, 2009

Boletim Meteorológico

diz que está tanto frio que os três graus parecem menos um!

Desacordo semântico?

ponho um ponto
canto um canto
pranto um pranto
começo no começo
sossego no sossego
parece e pareço
estudo o estudo
falo a fala
caminho o caminho
gosto do gosto
testo o texto

vejo-o o tejo

Um mundo de Paz

se a crise vem da medicina,
se o doente requer um médico
que a cura saiba para nos salvar,
então como esperar
que os remédios existentes possam servir para esta doença?
pensar. é preciso de novo pensar.
não quero remédio velho para crise nova.
mas se a crise é velha então prenda-se o médico.
ou estamos perante um caso de pura imprudência mundial.
globalizada que está a economia e global que se estende a crise.
ou procuramos uma solução global honesta e clara
ou caímos nas velhos remédios. Não se lembram?
1939-1945
antes amar.
se voltamos a cair nessa, juro que vou para outro mundo.um mundo de paz.

Pensionário

Guerra - quem ama é mais justo na guerra.

Pensionário

Crise - momento para amar intensamente.

Fantasia

os poemas de amor são patéticos.
em parte por serem sempre verdade.
o amor é universal.
se disser que a minha nuvem se aclara quando penso no teu amor.
não é nada de original.
não é fácil sê-lo.
no amor nada é novo e nem é preciso inventar.
preciso é só amar. amar. ser verdadeiro.
não ter medo de nada.
gostar de dentro para fora. gostar por inteiro.
gostar tanto.
gostar até ter frio só de em ti pensar.
sobe o sangue ao coração e aí permanece.
deixa de dar calor à minha mão que a pensar em ti escreve.
pensar que de novo te posso sonhar é remédio para a maior crise.
se no fim for apenas fantasia, que seja a de um conto de amor.

EU JÁ NÃO SEI

Domingos Gonçalves Costa / Carlos Rocha

Eu já não sei
Se fiz bem ou se fiz mal
Em pôr um ponto final
Na minha paixão ardente
Eu já não sei
Porque quem sofre de amor
A cantar sofre melhor
As mágoas que o peito sente

Quando te vejo e em sonhos sigo os teus passos
Sinto o desejo de me lançar nos teus braços
Tenho vontade de te dizer frente a frente
Quanta saudade há do teu amor ausente
Num louco anseio, lembrando o que já chorei
Se te amo ou se te odeio
Eu já não sei

Eu já não sei
Sorrir como então sorria
Quando em lindos sonhos via
A tua adorada imagem
Eu já não sei
Se deva ou não deva querer-te
Pois quero às vezes esquecer-te
Quero, mas não tenho coragem

Entre a dor e o nada

Dói-me.
O pé dói-me tanto!
É naquele sítio do calcanhar já a subir para a perna.
Quando o pé acaba.
Dói-me o fim do pé e o fim da perna.
Dói-me o pé.
Dói-me a perna.
Dói-me tanto!
Parece que apenas tenho o fim do pé e o fim da perna.
Nem sinto mais corpo.
Já me dói tudo.
Tanto!
Não tivesse esta dor no fim do pé.
Não tivesse esta dor no fim da perna.
Não tinha mais corpo.
Não tinha nada.
Vivo ligado a um fim de pé e um fim de perna que me doem.
Não me doesse nada e nada era.
Era apenas aquele fim de fronteira.

Era a dor.

-Era tudo?
-Sim, era.

A perna agarrada a mim faz-me doer.
O pé que ali começa anda a doer-me.
A dor que ali trago prolonga-me.
Do pé para a perna vamos andando.

quarta-feira, janeiro 07, 2009

adn

Há noites em que é tudo o que eu queria.

perdido no fundo do meu exílio.

sinto dor é um martírio

como quando não sabia o que fazia.

 

 Ai! Era a alma que me doía

Tornaste-te para nós num círio

 onde encontramos o único sitio

 que pelos dias anónimos nos seguia.

 

 Os amigos ou a música nos chamam

 Isto não é para os que não amam

De olhos abertos

Eu transcendo. Nada transcende. Os conceitos
não me deixam transcender. Liberto-me
pela transcendência. Pela transcendência
sou o poder. Criador de novos significados
respigados pela imaginação, quando
liberto dos poderosos grilhões olimpicos.
A minha transcendência é intransmissivel.
Sempre que vejo a lua, porque se interpõe
entre mim e o infinito, petrifico.
Transcendo. Quando acompanhados
apreciamos o nascer do dia, cada um
transcende individualmente. tu transcendes.
Eu transcendo. Nós transcendemos.
Nada no mundo transcende fora de nós.
A transcendência é aquela experiencia
de sair para fora de nós. Eu gostava de
transcender pelas palavras, pairar no intervalo
entre dois impulsos eléctricos cerebrais e
assim como que sentir-lhes o fluxo e
dominar as suas linhas de força e frear
ou acelerar a corrente. Depois temos que
regressar a nós, a casa. Eu transcendo a
ideia de um espelho de água calmo e
sereno quando mergulho e abro os olhos
debaixo de água. Mas de olhos abertos
transcendo.

Monotonia

Tenho uma página rasgada.

Será apenas neste livro?

Dia após dia encontro novas páginas que quero rasgar. De novo encontro páginas em branco que me fazem querer escrever. Quero escrever nas suas almas. É isso acima de tudo o que me dá prazer. Nem as loucuras que se arrastam, nem o cansaço do dia nem mais nada. Só ler e isto, escrever nas almas de pessoas singulares, estimulantes e por vezes fugazes.

Na tentativa de encontrar a alma inerente a cada página.

De forma a quebrar a monotonia, sentida por uma página, cheia de linhas por preencher, continuo a escrever.

Agora, devido ao medo que sinto dos dias monótonos e insignificantes começo a ganhar a coragem para sair deste lugar sem lugar para mim.
Preciso de reunir as condições urgentemente. Ainda acredito na minha ideia.

Sem terceira via

"Desejo contém futuro. É por isso uma boa palavra.
A fragilidade das relações humanas torna as pessoas mais sóbrias."

David Grossman

Acrescento eu, amargas.

A coragem de se colocar no papel do nosso adversário e aí analisar a versão contraria à nossa, dá-nos a verdadeira e completa realidade.

A nossa e a outra.

O seu a seu dono

"Pensar é um perigo. Para o mundo capitalista."

Tom Zé

9-05-06

Pensionário

Adeus! - Sinal de que alguem fica.

Tenho frio

Há um lugar dentro de mim que tarda em ser preenchido.
Num passado não muito distante, três anos, a presença na mesma cidade de uma pessoa muito especial, afastava de mim a sensação de estar perdido, num imenso espaço de pessoas desconhecidas.

Embora não tivesse um contacto muito frequente com Sofia, a sua presença em Lisboa dava-me a sensação de ter um abrigo no seu ombro e enchia a cidade agora vazia.

Sofia partiu para um país distante. Começou uma vida nova noutro país.

Eram completamente alucinantes os nossos encontros. Havia sempre a certeza de bons momentos, a possibilidade do inesperado se concretizar, a beleza de uma conversa inteligente, o deslumbramento com a sua enorme alma.

Por diversas vezes, foi também possível viver a cidade. Jantares, concertos, idas ao Teatro, entre outros momentos, davam-me a sensação de estar no sítio certo na fase certa da minha vida.

A sua partida foi um grande abalo. Disse-lhe no noite da nossa despedida: Fizeste com que a cidade parecesse mais pequena, mais acolhedora, menos fria.
Tenho a certeza de que apesar de ires para o país do frio, serei eu a tremer.
Entre nós há uma sucessão de voltas que, ora nos separam, ora nos aproximam.

Sobre a morte

A morte não tem pressa. Há cidades em que se vive

a correr, sempre cheio de pressa. Quase não se

dá pela morte. E no entanto, morre-se

em cada dia que passa e de repente, sem

nos apercebermos, morremos.


Lisboa é uma dessas cidades. Raramente

nos apercebemos da morte sempre

presente.

no 204

o jogo estava decidido.

as cartas, por ele distribuidas, esperavam, sem mostrar nervosismo, o momento de revelar aquilo que em conjunto ou isoladamente iría acontecer àquela alma.
o destino não eram as cartas, estas eram simplesmente o meio, o objecto, utilizado por ele para transmitir sua mais recente decisão. é certo que o jogador aceitava o jogo. não tinha ele lido as regras antes de entrar no quarto?

ao chegar ao hotel

que tinha sem saber procurado durante duas horas. era guiado por uma morada, expressa num anúncio de jornal; "empobreça, seja feliz. avenida da boa viagem n.º três, segundo andar.

na verdade foi o nome da avenida que lhe despertou a curosidade. aquele nome trouxe-lhe à memória num relampago, recordações de tempos vividos a um ritmo alucinante, cheio de experiências e viagens. era mais do que um sinal. era o destino que o chamava.

chegado ao hotel,

dirigiu-se à recepção e tocou na campainha com um gesto muito suave. não tendo ouvido toque que considerasse suficientemente audível, por quem o deveria receber, esperou alguns segundos e voltou a tocar a campainha, agora com força e de forma enérgica. estava ainda com a mão em cima da sineta quanto á sua frente surgiu um homem de aspecto cuidado, farda de hotel e muito velho de cara.

surgiu por detrás do balcão num impulso comprometido pois, tinha estado a dormir no chão fresco.

-estava à sua espera. o que o demorou? -surpreso, já não pela chegada súbita do homem que se lhe dirigia mas pelas suas palavras, mostrou-lhe o recorte do jornal e com o dedo apontou para a morada.

-sabe me dizer onde posso encontrar este sítio?

- não precisa de continuar a procurar. é aqui. -de súbito lembrou-se das palavras iniciais do velho e apoiando as mãos no balcão aproximou-se e olhando-o nos olhos perguntou-lhe:

-estava à minha espera? como é que me conhece? quem lhe disse que eu vinha? - todas estas dúvidas passaram-lhe pela frente e cairam em cima do velho como uma tempestade.

- calma meu jovem, confíe em mim que sei o que digo. estão à sua espera no 204.- a voz calma e ritmo pausado transmitiu-lhe serenidade e confiança, como é hábito nas pessoas mais idosas.

- então onde me devo dirigir? disse o 204? onde fica?

- sobe no elevador. é no segundo andar. segunda porta à direita.

- ainda o velho não tinha acabado já p.w. alva lhe tinha virado costas, dirigindo-se para o elevador que ficava ao fundo do hall do hotel. não tendo tido tempo de acabar a sua missão, o velho, contornou o balcão e correu a direcção do jovem.

- espere, tenho que lhe dar isto. leia com atenção, antes de entrar, é muito importante.

- alva, surpreendido com a agilidade do velho olhou para a folha azul que aquele lhe entregava e começou a ler.

"bem vindo. prepara-te para um jogo de cartas. por certo reconhecerás facilmente de que jogo se trata. existem duas regras. 1º rejeita uma carta. deixa o jogo proseguir e aproveita esse tempo para pensar no teu passado. com base naquilo em que acreditas, retira outra carta e guarda-a. 2º tens o poder de acabar o jogo quando entenderes. basta-te para isso dizer- termino o jogo. agora entra".

- alva estava bastante confuso. dentro dele, dois sentimentos impediam-no de tomar uma decisão. por um lado sentia-se receoso, que espécie de jogo que ele até conhecia era aquele?, por outro sentia uma enorme curosidade em saber quem iria encontrar dentro daquele quarto de hotel. algo lhe dizia que seria alguem bem conhecido. tratar-se-ia então de uma brincadeira, tipo partida, de um ou vários amigos. foi no entanto por outra razão que se decidiu a bater na porta do 204.

a sua veia de jogador cegou-lhe qualquer tipo de receio. era incapaz de recusar um jogo. preparou-se para bater à porta, pronto que estava para descobrir quem e o que o esperava, quando ouviu a porta do elevador a abrir. atrás de si, num passo lento e seguro viu aproximar-se em sua direcção, uma senhora.

pernas compridas, elegante de roupa e de corpo, com longos cabelos loiros. ficou paralisado com o braço erguido, a um palmo da porta.

ao reparar que estava a ser observada, baixou o olhar continuando a caminhar naquela direcção.

com isto, alva acabou por bater à porta e, ouvindo o som de um trinco de fechadura a estalar, rodou a maçaneta e entrou no quarto. não estava a fugir mas a evitar o embaraço de cruzar o olhar e daí surgir alguma pergunta, que era coisa para a qual não estava por certo preparado.

"antes a morte que tal sorte"

haverá uma resposta satisfatória para a ilusão?

existe um problema perigosissimo em basear uma relação numa ilusão

um dia ela pode acabar

arrastando dessa forma muitas das certezas que assim descobres não serem afinal mais do que ilusões

sonhas, constróis ilusões, prossegues num caminho e de repente esse caminho acaba.

funde-se num mar de ilusões e entras em queda livre por te faltar um chão por onde avançar.

assim, de repente.

ainda mais rápido do que o tempo necessário para construir uma ilusão.

claro que o amor é uma ilusão

não serve portanto para ser a base de uma relação

no entanto acho-me incapaz de fazer um investimento de tipo especulativo em relação a alguém.

quando as acções têm margem de progressão compras e assim que encontras outro investimento

que consideras mais rentável vendes tudo e refazes a tua aposta

nem se trata de retirar mais valias

se sobe, apostas.

''Fragmentos diários''

Há um determinado objecto que pertence ao guarda-fatos.

Cá em casa esse objecto pertence ao guarda-fato.

Fato usado, gasto pelo tempo.

sábado, janeiro 03, 2009

What to Do

Volume 55, Number 20 · December 18, 2008


What to Do



What the world needs right now is a rescue operation. The global credit system is in a state of paralysis, and a global slump is building momentum as I write this. Reform of the weaknesses that made this crisis possible is essential, but it can wait a little while. First, we need to deal with the clear and present danger. To do this, policymakers around the world need to do two things: get credit flowing again and prop up spending.


The first task is the harder of the two, but it must be done, and soon. Hardly a day goes by without news of some further disaster wreaked by the freezing up of credit. As I was writing this, for example, reports were coming in of the collapse of letters of credit, the key financing method for world trade. Suddenly, buyers of imports, especially in developing countries, can't carry through on their deals, and ships are standing idle: the Baltic Dry Index, a widely used measure of shipping costs, has fallen 89 percent this year.


What lies behind the credit squeeze is the combination of reduced trust in and decimated capital at financial institutions. People and institutions, including the financial institutions, don't want to deal with anyone unless they have substantial capital to back up their promises, yet the crisis has depleted capital across the board.


The obvious solution is to put in more capital. In fact, that's a standard response in financial crises. In 1933 the Roosevelt administration used the Reconstruction Finance Corporation to recapitalize banks by buying preferred stock—stock that had priority over common stock in terms of its claims on profits. When Sweden experienced a financial crisis in the early 1990s, the government stepped in and provided the banks with additional capital equal to 4 percent of the country's GDP—the equivalent of about $600 billion for the United States today—in return for a partial ownership. When Japan moved to rescue its banks in 1998, it purchased more than $500 billion in preferred stock, the equivalent relative to GDP of around a $2 trillion capital injection in the United States. In each case, the provision of capital helped restore the ability of banks to lend, and unfroze the credit markets.


A financial rescue along similar lines is now underway in the United States and other advanced economies, although it was late in coming, thanks in part to the ideological tilt of the Bush administration. At first, after the fall of Lehman Brothers, the Treasury Department proposed buying up $700 billion in troubled assets from banks and other financial institutions. Yet it was never clear how this was supposed to help the situation. (If the Treasury paid market value, it would do little to help the banks' capital position, while if it paid above-market value it would stand accused of throwing taxpayers' money away.) Never mind: after dithering for three weeks, the United States followed the lead already set, first by Britain and then by continental European countries, and turned the plan into a recapitalization scheme.


It seems doubtful, however, that this will be enough to turn things around, for at least three reasons. First, even if the full $700 billion is used for recapitalization (so far only a fraction has been committed), it will still be small, relative to GDP, compared with the Japanese bank bailout—and it's arguable that the severity of the financial crisis in the United States and Europe now rivals that of Japan. Second, it's still not clear how much of the bailout will reach the components of the shadow banking system—largely unregulated financial organizations including investment banks and hedge funds—that are at the core of the problem. Third, it's not clear whether banks will be willing to lend out the funds, as opposed to sitting on them (a problem encountered by the New Deal seventy-five years ago).


My guess is that the recapitalization will eventually have to get bigger and broader, and that there will eventually have to be more assertion of government control—in effect, it will come closer to a full temporary nationalization of a significant part of the financial system. Just to be clear, this isn't a long-term goal, a matter of seizing the economy's commanding heights: finance should be reprivatized as soon as it's safe to do so, just as Sweden put banking back in the private sector after its big bailout in the early Nineties. But for now the important thing is to loosen up credit by any means at hand, without getting tied up in ideological knots. Nothing could be worse than failing to do what's necessary out of fear that acting to save the financial system is somehow "socialist."


The same goes for another line of approach to resolving the credit crunch: getting the Federal Reserve, temporarily, into the business of lending directly to the nonfinancial sector. The Federal Reserve's willingness to buy commercial paper is a major step in this direction, but more will probably be necessary.


All these actions should be coordinated with other advanced countries. The reason is the globalization of finance. Part of the payoff for US rescues of the financial system is that they help loosen up access to credit in Europe; part of the payoff to European rescue efforts is that they loosen up credit here. So everyone should be doing more or less the same thing; we're all in this together.


And one more thing: the spread of the financial crisis to emerging markets makes a global rescue for developing countries part of the solution to the crisis. As with recapitalization, parts of this were already in place during the autumn: the International Monetary Fund was providing loans to countries with troubled economies like Ukraine, with less of the moralizing and demands for austerity that it engaged in during the Asian crisis of the 1990s. Meanwhile, the Fed provided swap lines to several emerging-market central banks, giving them the right to borrow dollars as needed. As with recapitalization, the efforts so far look as if they're in the right direction but too small, so more will be needed.


Even if the rescue of the financial system starts to bring credit markets back to life, we'll still face a global slump that's gathering momentum. What should be done about that? The answer, almost surely, is good old Keynesian fiscal stimulus.


Now, the United States tried a fiscal stimulus in early 2008; both the Bush administration and congressional Democrats touted it as a plan to "jump-start" the economy. The actual results were, however, disappointing, for two reasons. First, the stimulus was too small, accounting for only about 1 percent of GDP. The next one should be much bigger, say, as much as 4 percent of GDP. Second, most of the money in the first package took the form of tax rebates, many of which were saved rather than spent. The next plan should focus on sustaining and expanding government spending—sustaining it by providing aid to state and local governments, expanding it with spending on roads, bridges, and other forms of infrastructure.


The usual objection to public spending as a form of economic stimulus is that it takes too long to get going—that by the time the boost to demand arrives, the slump is over. That doesn't seem to be a major worry now, however: it's very hard to see any quick economic recovery, unless some unexpected new bubble arises to replace the housing bubble. (A headline in the satirical newspaper The Onion captured the problem perfectly: "Recession-Plagued Nation Demands New Bubble to Invest In.") As long as public spending is pushed along with reasonable speed, it should arrive in plenty of time to help—and it has two great advantages over tax breaks. On one side, the money would actually be spent; on the other, something of value (e.g., bridges that don't fall down) would be created.


Some readers may object that providing a fiscal stimulus through public works spending is what Japan did in the 1990s—and it is. Even in Japan, however, public spending probably prevented a weak economy from plunging into an actual depression. There are, moreover, reasons to believe that stimulus through public spending would work better in the United States, if done promptly, than it did in Japan. For one thing, we aren't yet stuck in the trap of deflationary expectations that Japan fell into after years of insufficiently forceful policies. And Japan waited far too long to recapitalize its banking system, a mistake we hopefully won't repeat.


The point in all of this is to approach the current crisis in the spirit that we'll do whatever it takes to turn things around; if what has been done so far isn't enough, do more and do something different, until credit starts to flow and the real economy starts to recover.

And once the recovery effort is well underway, it will be time to turn to prophylactic measures: reforming the system so that the crisis doesn't happen again.


Financial Reform

"We have magneto trouble," said John Maynard Keynes at the start of the Great Depression: most of the economic engine was in good shape, but a crucial component, the financial system, wasn't working. He also said this: "We have involved ourselves in a colossal muddle, having blundered in the control of a delicate machine, the working of which we do not understand." Both statements are as true now as they were then.


How did this second great colossal muddle arise? In the aftermath of the Great Depression, we redesigned the machine so that we did understand it, well enough at any rate to avoid big disasters. Banks, the piece of the system that malfunctioned so badly in the 1930s, were placed under tight regulation and supported by a strong safety net. Meanwhile, international movements of capital, which played a disruptive role in the 1930s, were also limited. The financial system became a little boring but much safer.


Then things got interesting and dangerous again. Growing international capital flows set the stage for devastating currency crises in the 1990s and for a globalized financial crisis in 2008. The growth of the shadow banking system, without any corresponding extension of regulation, set the stage for latter-day bank runs on a massive scale. These runs involved frantic mouse clicks rather than frantic mobs outside locked bank doors, but they were no less devastating.

What we're going to have to do, clearly, is relearn the lessons our grandfathers were taught by the Great Depression. I won't try to lay out the details of a new regulatory regime, but the basic principle should be clear: anything that has to be rescued during a financial crisis, because it plays an essential role in the financial mechanism, should be regulated when there isn't a crisis so that it doesn't take excessive risks. Since the 1930s commercial banks have been required to have adequate capital, hold reserves of liquid assets that can be quickly converted into cash, and limit the types of investments they make, all in return for federal guarantees when things go wrong. Now that we've seen a wide range of non-bank institutions create what amounts to a banking crisis, comparable regulation has to be extended to a much larger part of the system.

We're also going to have to think hard about how to deal with financial globalization. In the aftermath of the Asian crisis of the 1990s, there were some calls for long-term restrictions on international capital flows, not just temporary controls in times of crisis. For the most part these calls were rejected in favor of a strategy of building up large foreign exchange reserves that were supposed to stave off future crises. Now it seems that this strategy didn't work. For countries like Brazil and Korea, it must seem like a nightmare: after all that they've done, they're going through the 1990s crisis all over again. Exactly what form the next response should take isn't clear, but financial globalization has definitely turned out to be even more dangerous than we realized.


The Power of Ideas

As readers may have gathered, I believe not only that we're living in a new era of depression economics, but also that John Maynard Keynes—the economist who made sense of the Great Depression—is now more relevant than ever. Keynes concluded his masterwork, The General Theory of Employment, Interest and Money, with a famous disquisition on the importance of economic ideas: "Soon or late, it is ideas, not vested interests, which are dangerous for good or evil."

We can argue about whether that's always true, but in times like these, it definitely is. The quintessential economic sentence is supposed to be "There is no free lunch"; it says that there are limited resources, that to have more of one thing you must accept less of another, that there is no gain without pain. Depression economics, however, is the study of situations where there is a free lunch, if we can only figure out how to get our hands on it, because there are unemployed resources that could be put to work. The true scarcity in Keynes's world—and ours—was therefore not of resources, or even of virtue, but of understanding.

We will not achieve the understanding we need, however, unless we are willing to think clearly about our problems and to follow those thoughts wherever they lead. Some people say that our economic problems are structural, with no quick cure available; but I believe that the only important structural obstacles to world prosperity are the obsolete doctrines that clutter the minds of men.

—November 20, 2008

Copyright © 2009, 1999 by Paul Krugman

sábado, dezembro 13, 2008

segunda-feira, dezembro 08, 2008

Pós materialistas

Vós fazeis viagens sem ter fito no destino
Nós vemos fotografias em revistas ou sofás
Pós de descobertas de lugares tão esquecidas após

Vós correis léguas em escadas rolantes
Nós trepamos colinas em escadas de pedra
Pós que sujam sapatos tão brilhantes já não após

Vós tendes três carros em garagem pessoal
Nós esperamos em filas para o passe mensal
Pós no pára-brisa que esperam sedentos após

Vós viveis cercados, filmando o que é fora
Nós amontoamo-nos em ruas que duram a hora
Pós tão presos que se desprendem das flores após

Vós morreis isolados da matéria fundamental
Nós mortos cansados de etérea ornamental
Pós materialistas somos todos, vós, nós, após

segunda-feira, novembro 24, 2008

Janelas

São janelas. Tantas, fechadas, abertas, cobertas.
São elas que marcam o ritmo.
Umas seguidas por outras, acima, abaixo, ao lado.
Transformam muros em casas. Dão luz ao interior do sossego.
São a espinha dorsal de uma vida que se esconde, vista de fora.
Abertas, transformam em gruta a morada tão vetusta.
A graça é a minha janela sobre a cidade.
Daqui, vejo o mundo reflectido nas janelas da História,
símbolos erguidos no passado, construídos com suor.
A cada monumento associamos gente, um homem que o sonhou.
Mandado erguer, fez-se.

Nos vossos parapeitos, fincaram cotovelos as testemunhas do passado.
Depois de vós, outros fincaram e nelas se debruçaram.
Namoraram. Esperaram. Choraram. De vós saltaram. Acordaram.
Janelas negras. As do Carmo. Finas as da Estrela e do Castelo. Janelas.
Largas as de seda. Verdes as da Rua. Pequenas nas águas furtadas.
No cimo das casas belas noites passadas.

Cliché de Lisboa. Escrever numa esplanada.
São eles que estão de passagem.
Levarão a memória de um pôr de Sol na Graça.

quarta-feira, novembro 05, 2008

Como escrever: biliões ou milhares de milhões?


1 000 000 000 000


Como escrever: biliões ou milhares de milhões?


A escrita dos grandes números obedece às regras aprovadas na 9ª Conferência Geral dos Pesos e Medidas (CGPM), em 1948. Estas regras foram adoptadas oficialmente em Portugal, pelas Portarias nºs 14 608 e 17 052, respectivamente de 11 de Novembro de 1953 e 4 de Março de 1959.
Assim, definiu-se que os milhões, biliões, etc. são formados de acordo com a regra “N”1:
Deste modo, tem-se:


1Nos EUA segue-se a regra “n-1”, originando sempre confusão na comunicação social, falado ou escrita, quando se refere “biliões” que na Europa são “milhares de milhões”

Sem o alto patrocínio do IPQ
Hallo!
(364) 365
O novo Presidente
352


segunda-feira, novembro 03, 2008

Silêncio

Acabou mais uma vez.
No final apenas um um longo silêncio.
Esta Rocha dura e fria em que me transformei apenas grita o mudo adeus.
Por sabê-la tão perto, temo falar demasiado.
A proximidade amordaçante não permite que diga em voz alta que acabou.
Está tudo redito.

Da caneta não pingam palavras como era costume.
O meu silêncio secou a pena de escriba.
Será uma simples recusa solidária ou falta de tinta?
Se de falta se trata, maior será o meu problema.
Onde vou agora encontrar, à venda, a tinta do amor?
Procuro pacificar a alma escrevendo. Não consigo.
-Silêncio!
-??!
-A vossa vida atribulada perturba o meu silêncio.

quarta-feira, setembro 24, 2008

sexta-feira, agosto 01, 2008

Eu-sô-rio.

Ó rio que corres por entre as pedras!

Foges da turbulência da tua nascente.

Jovem, com pressa em ser grande,


Não sabes que no fim da tua corrida,

Serás mar salgado, enorme, pesado e turbulento?


E que importa ao rio que, grande se desfaz,

Que se entrega de braços abertos ao oceano, em paz.


Terás memória suficiente para reconhecer

de que nascente és filho permanente?


És livre quando rio.

Corres desde fio

Até mar solto, profundo, frio.


Quantas vezes visitaste a nascente!

Diferente de ti sou, eu que embora quente,

Sou superfície sem espelho, tão indiferente.


Só corro, lento, parado por vezes.

Sem certeza de que mar será meu fim.


Diferente de ti, sendo eu água de ti,

Choro-te já turbulento, salgado, sem lamento.

Profunda tristeza nesta melancolia tranquilamente indiferente.


Eu, rio, sou mar e sou desalento.

Cada dia que se acaba eu aumento.

terça-feira, junho 10, 2008

Etnologia




Etnologia Todos os anos, fazemos uma viajem pelo espaço. Literalmente. Damos a volta ao sol em 365 dias mais seis horas e mais qualquer coisa em minutos e segundos. Alguém se dá conta disso? Passamos os dias a tentar perceber a mais velha de todas as leis, a Lei da Sobrevivência, e esquecemo-nos de que é a viagem em torno do Sol que nos mantém em movimento. A única verdadeira e Global viagem é aquela que fazemos todos os anos. Em torno do Sol, vamos girando como num carrocel de feira, ignorando o tempo e o espaço, as suas múltiplas dimensões, ora menor ora maior, ora mais perto ora mais longe, ignorando por completo as diferentes velocidades que o mundo contém. Temos uma imagem do nosso passado, individual ou colectivo, projectada num espaço, a Terra, num tempo, o da Cultura. Parece que nos esquecemos que a viagem vai mesmo terminar. Obedecemos mais facilmente a outros homens como nós do que às Leis Universais. 

A imagem que fazemos do futuro, ainda está presa pelos constrangimentos do nosso passado, sem entender o que se passa no presente. Viajamos às cegas, pensando que estamos parados.




quarta-feira, junho 04, 2008

Adamada

Adamada

.rasnep ervil od siaidnum soduef soa ecaf
oudívidni od oãçatrebil ad avitarran a odal
etse araP. No centro o indivíduo. Para este
lado a narrativa do mercado, capitalista,
aniquilador da liberdade de escolha,
conducente ao monopólio.

sexta-feira, abril 04, 2008

Longe...

Em estado de euforia,

Queria testar o desalento

Lembrei-me de recorrer à poesia

Como forma de fugir deste tormento


Longe do estado habitual, poderia?

Aproveito para espalhar ao vento,

Vozes infectadas com douta alegria

Deste lugar em que hoje me sento.


Toca o telefone, atende a velhinha.

Queria alguém mais novo, que fazer!?

Atende uma voz simpática, vizinha.


Posso pensar neste fado e cobri-lo de prazer

Ajuda a ganhar palha para levar a vidinha

Desta ou d'outra forma, estou longe do meu ser.

terça-feira, abril 01, 2008

Em construção II

Todo o mundo e o resto que é nada...

Em construção...

Ah! Poema da minha alma...

Não

Turvo.

Pesado.

Arrastado.

Pendurado pelos suspensórios no ponteiro das horas.

Ainda se fosse no dos segundos!

Nem alucinante viagem nem pausada alegria.

Avanço, por sentir alvescer o pêlo, sei-o.

Cruel tortura. - A hora que não passa!

- Já de nada serve lamentar o avanço, sei-o.

Não servirei para estudo de historiador,

seria uma tarefa monótona, vazia.

A carcaça a ninguém servirá.

Nem abutres em repasto a quererão.

Na marquesa também não me encontrarão.

Vivo sou um peso e depois disso um peso.

Não quero sair deste ano em que completo 35

sem me erguer mais uma vez.

sábado, março 29, 2008

INAUGURAÇÃO

Nós que aqui estamos
Esta praça inauguramos
Vós que cá não estais
Queira Deus que vos salvais

Em honra de Zeca cantamos
Nesta praça estranha dançamos
Os primeiros sempre fomos
Os melhores de vós somos

Neste dia consagrado
O nosso registo fica marcado
Inaugurada praça estás
Por esta gente capaz

INAUGURAÇÃO LUMINOSA

Sombra enfim aqui chegaste
Filha da LUZ que nos faz
Seja este o dia em que por fim
És inaugurada pelo Querubim

sexta-feira, março 07, 2008

O ser dentro de si

Surrealismo.
Perto do real.
Perto ou longe?
O perto que se afasta...
como quem foge,
de si. A sua imagem gasta
ouvi que morreu hoje
lê-lo mesmo sem percebê-lo. Vive. Basta.

26-11-06

Saiu. Não pretendia voltar mais.
A sua capacidade para viver tinha
excedido o limite aceitável.


O ser dentro de si existe.
Cérebro, frio.
Coração, vazio.
Músculos tesos
Ossos presos
A pele, solta, viçosa, é o tudo
que prende o ser dentro de si.
O que lhe dá forma é a memória
que de si tem.

terça-feira, janeiro 08, 2008

Olhares Celestes

Duas toupeiras viviam debaixo do meu quintal.
Sempre viveram de costas voltadas.
Uma debaixo das rosas, a outra do pinhal.
Era a sua cegueira o que as mantinha separadas.

Soprava, certo dia, um vento tão forte.
Que desnudou as roseiras e os pinheiros levantou no ar.
Mas o que de mais lhes tinha trazido era má sorte.
Estavam as toupeiras na horta sem mais nada o que cheirar.

Quis a crueldade do cúpido vê-las casadas.
Vénus foi convocada e chamou-as ao altar.

-Ó toupeira que de rosas te cobres,
Diz-me como te posso agradar?
-Ó Deusa do amor, se tanto me concedes,
Quero ver. Não me serve mais cheirar.

-Ó toupeira que a pinhas me cheiras,
Conta-me como te posso presentear.
-Ó ser alado, por amor assim o queiras.
Abre-me os olhos. A minha amada quero olhar.

Viram-se enfim as duas toupeiras.
Logo os espinhos e as agulhas começaram a picar.

terça-feira, novembro 13, 2007

Imortalidade

Negra. Fria. Sempre. Simplesmente densa.
Monotonia descentrada. Claramente imensa.
Pacífica. Potencial integro. Quimicalidade
primordial. Naturalmente não-viva.
Toda a robustez caracterizadora desta velha
rocha imortal, desaparecerá um dia no
momento em que o último golpe do
vento marítimo agreste a varrer definitiva-
mente como a poeira momentânea.

sexta-feira, setembro 14, 2007

Boa companhia!

“ Quando ando sozinho, só eu e aquilo que me acontece é que ficamos a saber aquilo que me acontece.”

João 2005

01/01/07


Falam em voz baixa, quase sussurrando. Entre os dois, decidem o que vão pedir, aguardando pela chegada do empregado.

A sua aproximação à mesa foi curiosa, diferente.
Junto à mesa havia apenas uma cadeira. Um olhar demorado levou o homem a procurar uma outra para completar o quadro.

Ficou implícito no olhar desolado da senhora que era tarefa para o seu acompanhante. O marido.
Com a cabeça inclinada para o chão deu dois passos na direcção de uma cadeira recentemente abandonada. Pegou-lhe com ambas as mãos e ergueu o corpo deixando os braços esticados. Dirigiu-se então, com passos miudinhos e com a cadeira à sua frente, na direcção da esposa que o aguardava ainda de pé.

Tendo então a esposa decidido sentar-se na cadeira que os esperava, foi ternurenta a mudança de expressão que se lhe estampou no rosto. De um ar subserviente e amestrado de pessoa bem comportada adquiriu então aquela expressão de felicidade. Tinha composto o quadro.

Apenas os seus pedidos tardavam. Valia bem a espera. A cidade abria a noite.

Possibilidade Imaginada

Noite escura. Rio dormente. Negro.
A ausência da luz que te revela
Traz-me a possibilidade
De te imaginar. Aí. Firme, presente.
Correndo discretamente, ora para cima,
ora para baixo. Não o revelas. Apenas
sei que aí estás. A minha luta
por esquecer que a morte está presente
de dia e de noite obriga-me a
tomar por certo a tua existência.
Assim como os fantasmas existem
na possibilidade imaginada.

Corro. Salto as barreiras. Vivo e morro
em cada dia. A meta não é
um objectivo. A experiência de cada dia
basta-me.

Escuro total. Silhuetas perfeitas.
A noite torna-se a manifestação do
mundo sem sombras. Sentimos
essa falta e achamo-nos
abandonados.

Há uma hora em que somos avisados.
- Repara como eu sou livre.
- E por breves instantes ela desaparece
sob os nossos pés. Na maior parte
dos dias estamos desatentos ou
ocupados demais para ouvir o aviso
é chegado o momento do crepúsculo.

- Tornas-te enorme, fina, poderosa.
Mais do que nunca a sua presença
transmite-nos aquele sinal de
segurança. Como um anjo da guarda.
De repente some-se. Para onde irá?
Para leste. Esse oriente saudoso.
Origem da nostalgia que nos
embala e nos espreme a alma.

A sombra escura é aquilo que define
o dia. A noite é apenas a sua
ausência.

Setúbal é um presépio. Apenas
há lugar para um São José, uma
Maria, duas ovelhas, um burro, uma
vaca, três reis Magos, etc..
Todos os lugares estão tomados.
Não necessariamente pelos melhores
representantes.

quinta-feira, setembro 13, 2007

Rainbow Warrior

No jornal da sua morte não morreu o caçador.
Recorda-se a criação verde, pela paz, de que foi pai com amor.
Não haverá a partir de hoje outro arco-íris igual.
Em todos irei procurar, para além do espanto absurdo com o truque dos elementos, o arco que ele usa para perfurar alguns vilões.
Estarás sempre entre os tons que compõem essa cromática ilusão.
Bob Hunter morreu. Os guerreiros não.

@ Graça

“ Quando chegar a minha vez de ir para Nova Iorque será para publicar livros. Muitos.”

Ela senta-se com um bloco de notas e uma caneta e assim, cria as suas histórias. Quando li, num jornal de domingo, esta revelação do seu método, de imediato fiquei com a sensação de que é clara a vantagem do bloco de notas. Hoje, ao reparar na companhia momentânea da mesa ao lado, nota que também ela usa um bloco de notas, com espiral à cabeça. Fiquei de imediato com vontade de escrever. Como ela. Como ele.

Como é desordenada a construção em Lisboa. Entre amarelo, branco, e cor de tijolo, Amontoam-se sonhos de vidas que nem sempre podem sonhar. Nem sempre têm tempo. Como uma trave mestra que suporta o telhado, aberto para o céu, o tabuleiro da ponte limita os que não sonham. Aqui.

Se eu pudesse, traçaria em papel e com carvão, um sonho por casa, por telhado onde habita um coração.
Mas são tantas as janelas, fechadas pela mão, que não mais fecho os olhos, fujo da escuridão.

Últimos Dias de 2004


Todos os miradouros são deslumbrantes. Os que até agora conheci, pelo menos. Aqui, no miradouro da Sr.ª do Monte, sinto o apelo para escrever. Começo por um cigarro. Tiro do meu saco um livro. Entrar nos lugares, bem como a viagem no tempo que a leitura nos proporciona, é o suficiente para despertar em mim o apelo pela escrita.

Com os olhos na ponte, ladeada pelo sol que se despede, percorro o horizonte em busca de sinais que desencadeiem a torrente eléctrica que desperta os alvéolos da memória. Igrejas, o Castelo, a outra margem, o rio, o Cristo, a ponte, o Sol-posto, nuvens, arautos de tempestades, na direcção do mar, a Estrela e depois a cidade que se deita abaixo da linha do horizonte.

Começam a aparecer as primeiras luzes. De um momento para depois, a cidade fica salteada por pequenos pontos amarelos, lembrando luzes de velas imperturbáveis pelo vento que, no cimo do monte, me traz o frio da noite. Aqui e à minha volta, sou acompanhado pelos visitantes que procuram aprisionar uma recordação na película ou nos pixeis das máquinas fotográficas. Para infelicidade sua, apenas conseguem capturar uma finita fracção de horizonte. São belas as fotografias que têm horizonte. Mais tarde ao rever na memória as fotografias pedidas a quem os acompanhava no momento, será sempre decepcionante a comparação com a sensação experimentada. Sem o cheiro a pinho, o som ténue da cidade, dos ramos a dançar ao ritmo dos suspiros de zéfiro, do badalar nas igrejas, do choro de quem sobe ao monte para rezar e assim se aproximar mais de quem partiu e reside agora junto da imagem da Senhora do Monte.

O céu, ponteado por pequenos cirros, rasgado por gaivotas e queimado por aviões, adquire então a imagem de uma zona espectral própria da hora. O vermelho seguido pelo laranja, amarelo, verde, azul, acabando num violeta que se levanta nas minhas costas.

Vista do cimo do monte, a iluminação natalícia que de especial tem o facto de poder ser vista do espaço – resta saber por quem – torna-se assim insignificante quando comparada com o presépio que é a cidade cada vez mais abandonada pelo regresso a casa.

domingo, maio 06, 2007

Solidão

Solidão é acreditar num sol que só a mim pertence.
Mesmo que não retire o sol a ninguém.
É não querer acordar, para não não te ver também.
Por não ter com quem festejar, preferir quem nunca vence.

É servir à noite para jantar, dois pratos, dois copos, vazios.
Para não ter a quem perguntar se viu o que mais ninguém viu.
Usar barba por não se lembrar, do beijo num rosto macio.
É ser pepita de sal numa lágrima, chorada na nascente dos rios.

Não casar, não ter filhos, ser velho aos quarenta,
Não amar nunca mais para não sentir o coração.
Assim querer continuar, pelo menos até aos noventa.

Percorrer mundo com semente na palma da mão,
Em busca da terra que melhor a alimenta.
Para poder viver mais tempo em solidão.

quarta-feira, maio 02, 2007

Poema em Construção

Tal como as nuvens

pairavam suspensos por fios imaginários

Infinitamente paralelos

apenas de perto perceptíveis

Pontos e traços

de uma mensagem eterna

decifrável usando um segredo

conhecido por quem partilha sentimentos ainda eternos

Vagueavam num carrossel ondulante

os pontos e os traços

da cifra do amor

Na terra deitado a lua admirava

Tinha-a por companheira num porto de mar

Pontos e traços em segredo desenhavam

no breu do firmamento

esquissos do teu beijar