sexta-feira, abril 04, 2008
Longe...
Queria testar o desalento
Lembrei-me de recorrer à poesia
Como forma de fugir deste tormento
Longe do estado habitual, poderia?
Aproveito para espalhar ao vento,
Vozes infectadas com douta alegria
Deste lugar em que hoje me sento.
Toca o telefone, atende a velhinha.
Queria alguém mais novo, que fazer!?
Atende uma voz simpática, vizinha.
Posso pensar neste fado e cobri-lo de prazer
Ajuda a ganhar palha para levar a vidinha
Desta ou d'outra forma, estou longe do meu ser.
terça-feira, abril 01, 2008
Em construção II
Não
Pesado.
Arrastado.
Pendurado pelos suspensórios no ponteiro das horas.
Ainda se fosse no dos segundos!
Nem alucinante viagem nem pausada alegria.
Avanço, por sentir alvescer o pêlo, sei-o.
Cruel tortura. - A hora que não passa!
- Já de nada serve lamentar o avanço, sei-o.
Não servirei para estudo de historiador,
seria uma tarefa monótona, vazia.
A carcaça a ninguém servirá.
Nem abutres em repasto a quererão.
Na marquesa também não me encontrarão.
Vivo sou um peso e depois disso um peso.
Não quero sair deste ano em que completo 35
sem me erguer mais uma vez.
sábado, março 29, 2008
INAUGURAÇÃO
Esta praça inauguramos
Vós que cá não estais
Queira Deus que vos salvais
Em honra de Zeca cantamos
Nesta praça estranha dançamos
Os primeiros sempre fomos
Os melhores de vós somos
Neste dia consagrado
O nosso registo fica marcado
Inaugurada praça estás
Por esta gente capaz
INAUGURAÇÃO LUMINOSA
Sombra enfim aqui chegaste
Filha da LUZ que nos faz
Seja este o dia em que por fim
És inaugurada pelo Querubim
sexta-feira, março 07, 2008
O ser dentro de si
Perto do real.
Perto ou longe?
O perto que se afasta...
como quem foge,
de si. A sua imagem gasta
ouvi que morreu hoje
lê-lo mesmo sem percebê-lo. Vive. Basta.
26-11-06
Saiu. Não pretendia voltar mais.
A sua capacidade para viver tinha
excedido o limite aceitável.
O ser dentro de si existe.
Cérebro, frio.
Coração, vazio.
Músculos tesos
Ossos presos
A pele, solta, viçosa, é o tudo
que prende o ser dentro de si.
O que lhe dá forma é a memória
que de si tem.
terça-feira, janeiro 08, 2008
Olhares Celestes
Sempre viveram de costas voltadas.
Uma debaixo das rosas, a outra do pinhal.
Era a sua cegueira o que as mantinha separadas.
Soprava, certo dia, um vento tão forte.
Que desnudou as roseiras e os pinheiros levantou no ar.
Mas o que de mais lhes tinha trazido era má sorte.
Estavam as toupeiras na horta sem mais nada o que cheirar.
Quis a crueldade do cúpido vê-las casadas.
Vénus foi convocada e chamou-as ao altar.
-Ó toupeira que de rosas te cobres,
Diz-me como te posso agradar?
-Ó Deusa do amor, se tanto me concedes,
Quero ver. Não me serve mais cheirar.
-Ó toupeira que a pinhas me cheiras,
Conta-me como te posso presentear.
-Ó ser alado, por amor assim o queiras.
Abre-me os olhos. A minha amada quero olhar.
Viram-se enfim as duas toupeiras.
Logo os espinhos e as agulhas começaram a picar.
terça-feira, novembro 13, 2007
Imortalidade
Monotonia descentrada. Claramente imensa.
Pacífica. Potencial integro. Quimicalidade
primordial. Naturalmente não-viva.
Toda a robustez caracterizadora desta velha
rocha imortal, desaparecerá um dia no
momento em que o último golpe do
vento marítimo agreste a varrer definitiva-
mente como a poeira momentânea.
sexta-feira, outubro 12, 2007
sexta-feira, setembro 14, 2007
Boa companhia!
01/01/07
Falam em voz baixa, quase sussurrando. Entre os dois, decidem o que vão pedir, aguardando pela chegada do empregado.
A sua aproximação à mesa foi curiosa, diferente.
Junto à mesa havia apenas uma cadeira. Um olhar demorado levou o homem a procurar uma outra para completar o quadro.
Ficou implícito no olhar desolado da senhora que era tarefa para o seu acompanhante. O marido.
Com a cabeça inclinada para o chão deu dois passos na direcção de uma cadeira recentemente abandonada. Pegou-lhe com ambas as mãos e ergueu o corpo deixando os braços esticados. Dirigiu-se então, com passos miudinhos e com a cadeira à sua frente, na direcção da esposa que o aguardava ainda de pé.
Tendo então a esposa decidido sentar-se na cadeira que os esperava, foi ternurenta a mudança de expressão que se lhe estampou no rosto. De um ar subserviente e amestrado de pessoa bem comportada adquiriu então aquela expressão de felicidade. Tinha composto o quadro.
Apenas os seus pedidos tardavam. Valia bem a espera. A cidade abria a noite.
Possibilidade Imaginada
A ausência da luz que te revela
Traz-me a possibilidade
De te imaginar. Aí. Firme, presente.
Correndo discretamente, ora para cima,
ora para baixo. Não o revelas. Apenas
sei que aí estás. A minha luta
por esquecer que a morte está presente
de dia e de noite obriga-me a
tomar por certo a tua existência.
Assim como os fantasmas existem
na possibilidade imaginada.
Corro. Salto as barreiras. Vivo e morro
em cada dia. A meta não é
um objectivo. A experiência de cada dia
basta-me.
Escuro total. Silhuetas perfeitas.
A noite torna-se a manifestação do
mundo sem sombras. Sentimos
essa falta e achamo-nos
abandonados.
Há uma hora em que somos avisados.
- Repara como eu sou livre.
- E por breves instantes ela desaparece
sob os nossos pés. Na maior parte
dos dias estamos desatentos ou
ocupados demais para ouvir o aviso
é chegado o momento do crepúsculo.
- Tornas-te enorme, fina, poderosa.
Mais do que nunca a sua presença
transmite-nos aquele sinal de
segurança. Como um anjo da guarda.
De repente some-se. Para onde irá?
Para leste. Esse oriente saudoso.
Origem da nostalgia que nos
embala e nos espreme a alma.
A sombra escura é aquilo que define
o dia. A noite é apenas a sua
ausência.
Setúbal é um presépio. Apenas
há lugar para um São José, uma
Maria, duas ovelhas, um burro, uma
vaca, três reis Magos, etc..
Todos os lugares estão tomados.
Não necessariamente pelos melhores
representantes.
quinta-feira, setembro 13, 2007
Rainbow Warrior
Recorda-se a criação verde, pela paz, de que foi pai com amor.
Não haverá a partir de hoje outro arco-íris igual.
Em todos irei procurar, para além do espanto absurdo com o truque dos elementos, o arco que ele usa para perfurar alguns vilões.
Estarás sempre entre os tons que compõem essa cromática ilusão.
Bob Hunter morreu. Os guerreiros não.
@ Graça
Ela senta-se com um bloco de notas e uma caneta e assim, cria as suas histórias. Quando li, num jornal de domingo, esta revelação do seu método, de imediato fiquei com a sensação de que é clara a vantagem do bloco de notas. Hoje, ao reparar na companhia momentânea da mesa ao lado, nota que também ela usa um bloco de notas, com espiral à cabeça. Fiquei de imediato com vontade de escrever. Como ela. Como ele.
Como é desordenada a construção em Lisboa. Entre amarelo, branco, e cor de tijolo, Amontoam-se sonhos de vidas que nem sempre podem sonhar. Nem sempre têm tempo. Como uma trave mestra que suporta o telhado, aberto para o céu, o tabuleiro da ponte limita os que não sonham. Aqui.
Se eu pudesse, traçaria em papel e com carvão, um sonho por casa, por telhado onde habita um coração.
Mas são tantas as janelas, fechadas pela mão, que não mais fecho os olhos, fujo da escuridão.
Últimos Dias de 2004
Todos os miradouros são deslumbrantes. Os que até agora conheci, pelo menos. Aqui, no miradouro da Sr.ª do Monte, sinto o apelo para escrever. Começo por um cigarro. Tiro do meu saco um livro. Entrar nos lugares, bem como a viagem no tempo que a leitura nos proporciona, é o suficiente para despertar em mim o apelo pela escrita.
Com os olhos na ponte, ladeada pelo sol que se despede, percorro o horizonte em busca de sinais que desencadeiem a torrente eléctrica que desperta os alvéolos da memória. Igrejas, o Castelo, a outra margem, o rio, o Cristo, a ponte, o Sol-posto, nuvens, arautos de tempestades, na direcção do mar, a Estrela e depois a cidade que se deita abaixo da linha do horizonte.
Começam a aparecer as primeiras luzes. De um momento para depois, a cidade fica salteada por pequenos pontos amarelos, lembrando luzes de velas imperturbáveis pelo vento que, no cimo do monte, me traz o frio da noite. Aqui e à minha volta, sou acompanhado pelos visitantes que procuram aprisionar uma recordação na película ou nos pixeis das máquinas fotográficas. Para infelicidade sua, apenas conseguem capturar uma finita fracção de horizonte. São belas as fotografias que têm horizonte. Mais tarde ao rever na memória as fotografias pedidas a quem os acompanhava no momento, será sempre decepcionante a comparação com a sensação experimentada. Sem o cheiro a pinho, o som ténue da cidade, dos ramos a dançar ao ritmo dos suspiros de zéfiro, do badalar nas igrejas, do choro de quem sobe ao monte para rezar e assim se aproximar mais de quem partiu e reside agora junto da imagem da Senhora do Monte.
O céu, ponteado por pequenos cirros, rasgado por gaivotas e queimado por aviões, adquire então a imagem de uma zona espectral própria da hora. O vermelho seguido pelo laranja, amarelo, verde, azul, acabando num violeta que se levanta nas minhas costas.
Vista do cimo do monte, a iluminação natalícia que de especial tem o facto de poder ser vista do espaço – resta saber por quem – torna-se assim insignificante quando comparada com o presépio que é a cidade cada vez mais abandonada pelo regresso a casa.
domingo, maio 06, 2007
Solidão
Mesmo que não retire o sol a ninguém.
É não querer acordar, para não não te ver também.
Por não ter com quem festejar, preferir quem nunca vence.
É servir à noite para jantar, dois pratos, dois copos, vazios.
Para não ter a quem perguntar se viu o que mais ninguém viu.
Usar barba por não se lembrar, do beijo num rosto macio.
É ser pepita de sal numa lágrima, chorada na nascente dos rios.
Não casar, não ter filhos, ser velho aos quarenta,
Não amar nunca mais para não sentir o coração.
Assim querer continuar, pelo menos até aos noventa.
Percorrer mundo com semente na palma da mão,
Em busca da terra que melhor a alimenta.
Para poder viver mais tempo em solidão.
quarta-feira, maio 02, 2007
Poema em Construção
pairavam suspensos por fios imaginários
Infinitamente paralelos
apenas de perto perceptíveis
Pontos e traços
de uma mensagem eterna
decifrável usando um segredo
conhecido por quem partilha sentimentos ainda eternos
Vagueavam num carrossel ondulante
os pontos e os traços
da cifra do amor
Na terra deitado a lua admirava
Tinha-a por companheira num porto de mar
Pontos e traços em segredo desenhavam
no breu do firmamento
esquissos do teu beijar
quarta-feira, abril 25, 2007
25 de Abril...ás vezes!!! Fascismo nunca mais!!
- - Por volta das 19.30 H do dia 25 de Abril de 2007, em plena Rua do Carmo, junto ao c.c. do Chiado, decorria uma manifestação autorizada pela polícia, tendo em conta que a acompanhava, tal como é costume em qualquer manifestação
- - Após alguns indivíduos terem pintado numa parede algumas palavras, cerca de 6 elementos das forças policiais, apenas identificáveis pelos cacetetes que empunharam depois, agarraram os prevaricadores.
- - Tendo os detidos manifestado alguma resistência, o caso, até aí banal, mudou completamente de figura.
- - Os manifestantes, voltaram-se para trás, subiram a rua do Carmo e tentaram resgatar os seus companheiros de manifestação. Os elementos policiais, que não ostentavam qualquer identificação, repito, chamaram obviamente reforços.
- - Em apenas um minuto, a Rua do Carmo estava cercada por cima e por baixo, por forças policiais anti-motim.
- - É claro que devido ao dia em questão e à zona em causa, estavam muitos turistas, crianças, idosos, meros transeuntes e clientes do comércio que envolve toda a zona do chiado, na Rua do Carmo, no preciso momento em que o motim começou.
- - A natureza contestatária dos manifestantes (devo referir também que se tratava de uma manifestação contra o neo-fascismo e contra a xenofobia), bem conhecida anteriormente pela polícia, podia ter sugerido aos responsáveis policiais, adoptar uma posição mais cautelosa.
- - Mostraram no entanto, muita coragem e sentido do dever, pois, não se detiveram perante a primeira provocação fora da lei.
- - Eu, tendo saído do c.c. do Chiado naquele momento, resolvi deixar passar a manifestação e segui calmamente na traseira da demonstração, pretendendo sair dali na rua do elevador de Santa Justa, em direcção a casa.
- - Em dois segundos estava no meio da confusão. Dirigi-me, descendo o Carmo, para o local onde estava a maior parte da polícia de choque.
- - Reconhecendo, pela posição e atitude, aquele que me pareceu ser o responsável máximo pela força policial, tentei perguntar-lhe se devia e podia passar para trás da barreira policial.
- - Apenas ouvi um outro elemento policial, dizendo ao seu superior - Sr. Intendente (não me recordo se era mesmo intendente ou comissário…), saia daí (qual general, estava na frente do barreira policial) - e claro, não obtive resposta, ou melhor percebi logo que ali é que eu não ficava e passei por eles bem encostadinho à parede, sempre olhando-lhes nos olhos (que os meus mostravam claramente por quem eu estava; pela minha Saúde e Liberdade).
- - Olhei então para trás e foi ver os manifestantes, que pena tive deles, a uns bons 15 metros da polícia, espremendo-se uns contra os outros, sem possibilidade de fuga, como rebanho cercado por lobos esfomeados.
- - Deu-se a carga, fugiram por onde conseguiram os jovens manifestantes, levando tanta pancada quanta lhes conseguiram dar os polícias, e tudo isto sem ter ouvido uma só palavra pela parte do Sr. comissário. Foi só após uns bons minutos que se ouviu da parte de um dos policiais, um igual a todos os outros corajosos policias, uma palavra na direcção dos transeuntes que como eu estavam no meio daquela trapalhada. -Saiam já daqui! Para baixo! Fora!- e foi um pandemónio.
Já agora, devo também relatar que não vi ninguém a oferecer cravos.
Nem a Polícia, nem os manifestantes, nem os turistas, nem os comerciantes.
Já não se dão cravos no dia em que se comemora a Revolução dos cravos.
Dá-se pancada.
Dão-se péssimos exemplos de tolerância.
Mas continua a ser legal o cartaz do PNR em pleno Marquês de Pombal. Tem, mesmo, direito a protecção policial.
sábado, março 31, 2007
MANIFESTO
Uma sociedade dita activa, quando se trata de defender as melhores soluções para os seus problemas, que alicerça essas soluções em valores e que os projecta numa forma de organização política a que chamamos Democracia, é, a meu ver, uma sociedade que intervém.
Quanto à forma individual de participar nessa escolha, surgem então as seguintes questões – Como pode um indivíduo, membro desta comunidade, com pleno direito a participar na sua construção, escolher a melhor alternativa, não para si, apenas, mas para o bem comum, sem estar devidamente informado acerca das diversas possibilidades de escolha? A quem cabe o dever de informar?
Em primeiro lugar e desde logo, às instituições que dispõem de informação oficial, formalizada através de um quadro de valores estabelecidos o mais consensualmente possível. Esta pode parecer uma conclusão demasiado óbvia, e por isso, de certa forma irrelevante. Mas será mesmo assim?
No que concerne com esse suposto quadro de valores, cabe claro, às instituições, às organizações e a todos os particulares que o defendam, transmitir essa informação. É pois uma responsabilidade que obriga a todos. Esta é, também, a raiz da organização da sociedade, politicamente falando, por partidos.
No plano das instituições, e tratando-se de valores fundacionais de uma sociedade, parece-me perigoso que defendam uma orientação oficial desses valores já que estes não são referendáveis.
O processo eleitoral, quando transparente e livre, “dita” a força do partido, da ideia, do valor, do modelo mais votado para a construção dessa sociedade, bem como para o seu desenvolvimento.
Posto isto, vou então voltar à questão formulada anteriormente sobre o dever de informar. A responsabilidade de fornecer / obter informação.
Numa sociedade evoluída, democrática e em plena era da Informação, cabe às suas instituições, em primeiro lugar, aquelas que têm precisamente como função defender e fazer aplicar os valores normalizados e aceites, fornecer toda a informação. Aqui, há que ultrapassar a ideia mais ou menos plasmada no inconsciente individual, referindo-me às leis, de que o desconhecimento não desculpa o incumprimento. Princípio com o qual discordo em grande medida. Punir sem informar previamente é tanto uma chantagem como é também uma forma ditatorial de fazer valer a lei.
Para cada grupo social que se torne isolável por partilhar um mesmo conjunto de características, deve, a instituição, recorrendo a todos os meios postos ao seu dispor, fornecer a informação necessária. Educar. Transmitir o conhecimento para que possa ser replicado nos actos individuais desse grupo isolado. Cabe igualmente ao interessado manter-se disponível para receber a informação mais actualizada.
Resumindo, o indivíduo dá à organização, à instituição, os meios para que forneça informação e a responsabilidade de a transmitir. Processo dialéctico e dialogante, de preferência.
Apenas atingido o estado de conhecimento necessário e suficiente, pode o indivíduo, o grupo, escolher conscientemente, racionalmente. Ou seja, exercer a liberdade que advém da escolha racional.
Quando o problema que se põe é novo, não normalizado, não se pode pedir à instituição que nos representa e à qual incumbimos o dever de nos informar e proteger, que escolha por nós. Cabe-nos então, como sociedade activa, estabelecer a nova norma que queremos ver defendida e aplicada.
A sociedade vê-se então perante uma nova questão, um novo desafio e tem, apenas ela, a responsabilidade de encontrar a solução que melhor se adapta ao problema colocado. Como chegar lá é agora a questão.
Em primeiro lugar fomentando o livre debate de ideias, seguido da divulgação e transmissão das possibilidades encontradas, tendo no fim lugar o processo decisório.
Aqui, convém garantir a existência de um órgão neutro que se encarregue de todo o processo e de garantir a sua democraticidade. Se possível, esse órgão deve ser exterior ao grupo para legitimar no exterior, a solução encontrada.
Toda a instituição é questionável, destituível, estando o processo que leve a que tal aconteça, consagrado.
Neste momento da reflexão surge então o papel das elites. Penso na elite como corpo da arête, como o defendiam e ensinam os “Clássicos”. Quem dispõe do conhecimento retrospectivo, quem pode reflectir com base na História, tal como nos ensinam, dispõe das melhores ferramentas para orientar ou então para colocar as hipóteses mais adequadas, de acordo com o quadro de valores perpetuados ao longo das gerações que nos antecedem.
Onde está então a nossa elite?
Venho convocá-la para a discussão que se impõe. Questionando tudo e todos. Sem receios ou complacências. É preciso chamar os membros da sociedade para que falem.
Tahar Djaout era o nome de um escritor e jornalista argelino, morto em 1993, no período em que aquele país se viu confrontado com um tortuoso processo político e eleitoral. Este escritor, defensor em primeiro lugar da Liberdade, escreveu, entre outros, o livro “Os Vigilantes”.
Na edição portuguesa, este livro contém uma nota editorial antecedida por uma reflexão de Tahar Djaout que deixo agora à vossa consideração:
“ O silêncio é a morte
E tu, se falas, morres
Se te calas, morres
Então, fala e morre.”
E vós, como quereis morrer?
quinta-feira, março 22, 2007
Inquietante
Algo tem de ser feito.
Se somos mesmo a maioria então temos que o demonstrar.
Os mais valorosos de nós sempre fomos?
Esta é uma excelente ocasião para afirmar valores.
Liberdade?
Igualdade?
Fraternidade?
Vamos então ver o que valem estas palavras soltas.
sábado, fevereiro 10, 2007
Página # 32
E no intervalo que se estabeleceu entretanto
Tanto mudou. Mudou o calendário,
Mudei eu. Um ano de Mudas e danças.
Dancei de tanto estar parado.No coração.
Ou não. Mudaram os usos, mantiveram-se
os costumes. De tarde e de noite descemos
vezes sem conta a uma praça no fim da
cidade. Tinhamos a certeza de lá
encontrar um recanto acolhedor.
Por vezes era tão só para afogar a
sêca dor. Por vezes era mesmo em busca
de Amor.
sexta-feira, junho 02, 2006
quinta-feira, maio 06, 2004
LEITO DE MENTE
sábado, maio 01, 2004
Silêncio
Inundam-me o espírito de solidão.
Levam-me o sono, a fome e a paz.
Induz tanto frio o teu silêncio.
Poderei ouvir-te uma expressão,
Amiga, sincera, estulta, tanto faz?
sábado, abril 17, 2004
domingo, abril 11, 2004
SEM CERTEZA
perpétuo sentimento de vazio.
apesar de a vida proseguir e se adensar
de implantes, o sentimento é de imobilidade.
no momento do primeiro passo, terei força para tal fardo?
não estou por certo mais forte, nem por fora.
o primeiro passo foi dado.
fui forte.
A DÚVIDA DINAMICA
Não é por isso que aqui estou mas já que assim é, aproveito. A dúvida que me mantém neste ponto, qual zero absoluto, prende-se com a incerteza, ponderável, sobre qual a direcção a percorrer em pensamento.
Ao focar a reflexão no espectro temporal passado, deparo-me com uma dispersão considerável de factos, tão concretos como a minha visão permite que os absorva, tendo em conta a desfocagem da memória. Neste ponto, a dúvida reside em retirar daqui algo de válido para o que no futuro vou poder realizar.
É também incerto e quem sabe igualmente vasto, o espectro futuro.
Da decomposição destes dois periodos devem sobressair algumas certezas que se possam considerar válidas para construir um desígnio.
Como acontece com a neutralidade. Se colocarmos um corpo neutro num universo de entidades positivas e negativas, com igual representatividade e densidade de carga, em equilibrio, de que lado surgirá o elemento neutro? É tentador dizer- No meio pois então!-Apesar de ser quase impossível conceber esse ponto, quando não nos é possível ter a percepção do todo.
De forma natural diremos que é fácil escolher por onde não queremos ir. Ainda que consigamos identificar esse conjunto descontinuo de nãocaminhos, estaremos sempre perante um universo igualmente vasto e imensurável de possibilidades.
Será portanto uma questão de propôr e isolar cada uma das infinitas possibilidades com que nos poderiamos deparar do ponto exterior a esse imenso conjunto que é o universo de possíveis.
O espectro futuro, quando decomposto, é constituido sem qualquer dúvida por sonhos. Não podemos ser hipócritas e negá-lo. Trata-se de escolher os diversos sonhos que se combinarão de determinada forma e com aquela sequência, levando a um final idealizado.
Quanto maior fôr o número de micro-sonhos, dimensão justa quando comparado com o todo das possibilidades, maior é a incerteza associada a esse caminho, traçado.
Velho paradigma. Ao considerar a vida constituida por ciclos que se podem ou não repetir, a importância do passado é incontestável.
Da análise consciente dos factos antes referidos e sem perder a noção da incerteza a eles associada, podemos, igualmente, encontrar o tal desígnio.
MANIF
simbólicas teses frias e nuas
verdades cruas.
RETÁLHOS
próxima área de serviço, palmela. a sinceridade passa por dizer não. a sinceridade acima de tudo. tanto para escrever, tanto para ler e no entanto...sem retiro, sem solidão não sai nada. a vida de kafka passou-se numa enorme solidão. a qualquer preço. não para ele. o preço foi sobretudo suportado por outros. é claro que também o sentiu. a diferença reside no facto de ter apesar de tudo, chegado a mim. posso sem dúvida dizer que a quantificação dos sentimentos pode ser uma realidade. no futuro tudo pode ser realidade. dizer o contrário é pior. melhor será nada dizer. ficará apenas registado na minha memória até que o permita. no papel ficará até que ele seja sujeito. a sinceridade é mais fácil posta no papel.
Duas horas no nevoeiro
vivemos uma vida programada, no meio de um rebanho e basta-nos meio metro para nos sentirmos diferentes de gado. as implicações de não vermos para além de meio metro não são suficientes para que deixe-mos de seguir as nossas vidas de tão repetitivas que são. deveria ser suficiente no entanto para que nos preocupassemos mais com os outros e com as implicações das nossas acções no futuro da humanidade. guiados pela monotonia, seguimos vidas já vividas com apenas meio metro de futuro.
SONETO DE NATAL
agora que me encontrei
resolvem-se as desgraças
partem os corações
estou mais perto que pensava
estou tão certo do que não sei
que estou certo que perto
de alguém sempre estarei
por agora estou sozinho
mas com kafka estou,
oiço a música, bebo chá.
mais tarde daqui vou
por agora estou sozinho
mais bocage não sou.
ROSTO VAZIO, OSSUDO
sem grande dificuldade podemo-nos aperceber de que, no metro, as pessoas viajam de boca fechada, com os cantos da boca para baixo. como se acompanhassem ou sentissem o peso dos olhos, estes sempre baixos. é um cenário só por si deprimente. o sol por fim lá apareceu. aos soluços, por entre as nuvens. estou a forçar demasiado.
em mim também. o kafka gostaria deste espaço. ali sentado não fui capaz de conter a vontade de escrever e libertei-me do embaraço. da exposição da world press photo escrevi aquilo que me ficou na alma. foram sete. queria que fossem seis. poderia excluir um mas seria difícil. que pessoa iria salvar? aproveitei e comprei um livro de pessoa.
voltei ao sítio onde o chá é bom e a música é melhor. tenho a certeza de que kafka gostaria de aqui estar. seis dias após o meu aniversário, julguei estar enganado e não ter 27 mas sim 26 e alguns dias. estava enganado como é óbvio. o que eu não queria era de forma alguma encarar a realidade de estar a ficar mais velho. velho de mais. no entanto foram seis dias de verdade. sonhei com um cão azul. azul como as placas nas auto-estradas. azul com pequenas pintas brancas, só perceptíveis quando o agarrei. fiquei com a certeza de que há cores nos meus sonhos. aquele foi de certeza a cores. não pretendo de forma alguma contornar o kafkiano cerco que se aperta à minha volta. quero nele entrar. penetrar como a mão numa luva com medida exacta. no do Bocage já é difícil. apenas a viagem deste é certa.
" rosto vazio, ossudo, que usava abertamente o seu vazio. quando me ia sentar olhei para ela, atentamente, pela primeira vez, na altura em que estava sentado já tinha dela uma opinião inabalável. a imagem do descontentamento que uma rua exprime, na qual toda a gente está a levantar um pé, numa tentativa para se escapar do lugar em que se encontra. é difícil sacudir-me, e no entanto estou inquieto. quando tarde eu estava deitado na cama e alguém, de repente, deu a volta à chave na fechadura, fiquei uns momentos com o corpo cheio de fechaduras, como se fosse num baile de máscaras, e com pequenos intervalos abria-se uma fechadura aqui e outra ali".
FOSSO
ecrâns, ondas e esplanadas.
tísico futuro o nosso
tristes exemplos de democracia
contados em cifrões
mau tempo e depressões
espero poder um dia
inundar o espírito com o fosso
sabendo que as ferrugentas espadas
serviram para repor sonhos sem sepulturas
O QUE FOI
estendem poemas imanando flogisto
antes ouvidos em leito de fôgo
agora se estinguem por bálsamos perdidos.
c
bocejo bucólico busca beijos
toscas tonalidades tangem trevas
lamento livros lesados livres
De A a Z
bocejo bucólico busca beijos
cuidado campo completa crises
dentro depositado dorme depois
envio espadas engolidas enfim
forte figura fugindo finalmente
gravura gemida gasto galanteio
hipóteses hirtas houve higiénicas
ídolos imortais insensíveis imanam
juízos jamais jaulam jazigos
lamento livros lesados livres
mais motes marcando mulheres
nunca neve nas nínfas
oferta ordenada ou oprimida
pouco passo para poetas
quiosques quebram querelas quebradas
raízes refazem ricos retábulos
rasto ruím rompe ruídos
toscas tonalidades tangem trevas
uns urnam ursos úteis
veio valado vesto véu
xupista xeque xis xula
zamora zinga zero zel
b
lixo lavado lá longe
irídio infestado indo impuro
espias estradas embora eufóricas
De A a Z
barcas bucólicas beijam bicas
cartazes completos criam costumes
dever ditados direitos degolados
espias estradas embora eufóricas
férias fermentadas ficam ferventes
graves germes gulosos gigantes
haviam homens hortas húmidas
irídio infestado indo impuro
janelas júlias jazigos jotas
lume liberto levado letrado
montes marcados muito mugidos
nata nervosa nobre nada
oferecer olímpicos olhos ossados
pouco pó positivo pesado
qual quadro quando quinina
raio rotulado rumo recibo
sonda semelhante semente suada
trinca tijolos tapados talvez
único ufo untado uivo
verte vozes voláteis vazios
xuto xerifico xeno xale
zaranza zéfiro zonzo zombar
a
imagem ideal igualdade invertida
mitos materiais merecem mira
será sempre sem sorte
De A a Z
brumas bem baralhadas baixam
colagem cobre curta cabeça
dúvida despida de dôr
etapa estúpida entre espaço
farejo fria folha fonesta
gravado golpe gerido gurdamos
há homenagens hoje humanas
imagem ideal igualdade invertida
jorna jogada já jejuada
lixo lavado lá longe
mitos materiais merecem mira nebelina negra numa nuvem
ouvir oníricas odes ôcas
poder parar pêla palavra
queiram queimar questões queridas
razões ruivas recebem ritmo
será sempre sem sorte
tudo tem tempo tapado uma última uva usada
víl vale vizinho voado wales will watch wars
xadrês xipado xuxu xopa
zona zera zoo zen
Tanto...Nada
Tanto para fazer e por enquanto...nada!?
Nada para ler mas entretanto...tanto!?
De tudo o que há por dizer, do quanto por fazer e entre as sílabas por ler,
Nada que eu diga ou faça será no,
por,
ou entre,
Tanto.
segunda-feira, março 22, 2004
UM VELHO
mesmo na beira do sinal
com os olhos vazios
cheio de fome.cheio de nada.
era um só
sábio traste sem vaidade parece que apenas queria
companhia para verter voláteis vozes vazias.
pouco sabereis do nada que sabia
não deixou gosto amargo
tão pouco trama guardada
quem sabe se um dia
ao percorrer zéfiro no largo
descubra o vazio deixado.
ESPERANÇA INGÉNUA
rumos por aqui começo
desnorte por aqui avanço
palavras frias
sentidos certos
poderemos sem certeza continuar por este caminho que nos leva até ao último fôlego trajando corpos sôfregos desiguais.
corpos fartos da sua utilidade.
manta que aquece a alma
sem referências ao divino
continua a servir de retábulo para memórias que teimam em não te deixar
processo ferido de morte
derrama o teu interior
nas correntes que com o tempo te levarão para o mais que certo lugar
cremado e não esquecido
poderias pelo menos agora deixar as feridas sarar.
verdade sem oposto
coisa difícil de encontrar
se desse poço eu bebesse
o coração rebatesse
tudo tomaria o devido lugar.
foi duvidoso este comêço
pior será não o tomar.
tal é a vontade de saber
nem sem por onde começar.
REFÚGIO
Aqui a contemplação está ao dispor e dispõe,
nada de elos de corrente, nós ou âncora.
Apenas um imenso horizonte.
O mar que nos liberta.